Relações Internacionais

Gonzalo Lira: vítima do complexo industrial-militar americano

O jornalista, de nacionalidades chilena e estadunidense, estava na Ucrânia desde o início da invasão russa

Quem foi
Gonzalo era escritor, roteirista, produtor, diretor, blogueiro e coach. Foi como comentarista político que ganhou maior notoriedade, com artigos publicados no Business Insider e vídeos no YouTube que tratavam de antifeminismo e cultura incel, se tornando parte da chamada manosfera. Se mudou para Cracóvia, onde se casou e teve dois filhos.
Na pandemia de covid-19, se juntou a influenciadores e políticos da direita alternativa, ecoando teorias antivacinas e acusando os governos dos países ricos do ocidente de ações totalitárias, defendendo que seus seguidores se mudassem para países de terceiro mundo.
Após a operação especial russa na Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, focou em produzir conteúdo opinativo cobrindo a guerra. Em publicações controversas, apoiou a Rússia, considerou a invasão como uma das mais brilhantes da história militar, negou os ataques de mísseis, tachou Volodymyr Zelensky como usuário de cocaína e praticou doxxing contra jornalistas ocidentais. Em críticas, expôs a ligação do sistema corrupto ucraniano com a política americana, destacando a diplomata Victoria Nuland.

Prisão e Morte
Por oito meses e onze dias, Lira definhou incomunicável na prisão, local em que foi brutalmente torturado. O motivo da detenção foi a violação do artigo 463-2, que proíbe defesa ou justificação dos atos promovidos da Rússia. Os Estados Unidos ignoraram os pedidos de ajuda e asilo de seu próprio nacional, mesmo com apelos familiares e de personalidades como o empresário Elon Musk e o jornalista Tucker Carlson.

O falecimento foi confirmado no dia 12 de janeiro. Em uma nota escrita à mão, Gonzalo descreveu seu estado de saúde, incluindo pneumonia dupla, pneumotórax e edema grave. Esta carta, creditada por ser sua última correspondência escrita, detalhava a negligência que ele enfrentou na cadeia. Apesar desses sintomas alarmantes, a atenção médica adequada teria sido adiada até que fosse tarde demais.

O texto diz: “Eu tive pneumonia dupla (ambos os pulmões), bem como pneumotórax e um caso muito grave de edema (inchaço do corpo). Tudo isso começou em meados de outubro, mas foi ignorado pela prisão. Eles só admitiram que eu tinha pneumonia em uma audiência no dia 22 de dezembro. Estou prestes a ter um procedimento para reduzir a pressão do edema nos meus pulmões, o que está me causando extrema falta de ar, a ponto de desmaiar após uma atividade mínima, ou mesmo apenas falar por 2 minutos”.
Documentos e e-mails revelaram tentativas de seu pai, Gonzalo Lira Sr., para alertar a embaixada sobre a condição crítica e a falta de transparência das autoridades ucranianas em relação ao tratamento.

Não posso aceitar a morte do meu filho. Ele foi torturado, extorquido, incomunicável por 8 meses e 11 dias e a Embaixada dos EUA não fez nada para ajudar meu filho. A responsabilidade dessa tragédia é do ditador Zelensky com a concordância de um presidente americano senil, Joe Biden”, escreveu ele, acrescentando: “Minha dor é insuportável. O mundo deve saber o que está acontecendo na Ucrânia com esse ditador desumano Zelensky”.

Erik Zannon

Erik Zannon

Erik Zannon Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix

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