Murucututu: “coruja de óculos” é considerada a maior espécie do gênero na Amazônia

A murucututu ocorre em todas florestas tropicais das américas, mas na Amazônia já se tornou até personagem de canção de ninar
Por Isabelle Lima

Considerada a maior coruja que habita a Amazônia brasileira, a murucututu (Pulsatrix perspicillata) é uma ave que ocorre em todas florestas tropicais das américas, com distribuição geográfica desde o norte do México até o norte da Argentina, como aponta o ornitólogo especializado em aves amazônicas, Mario Cohn-Haft. Ao Portal Amazônia, o pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) revelou algumas curiosidades da espécie.
Ela [a espécie] come, principalmente, ratos e outros pequenos mamíferos que caça durante a noite. Seus olhos são penetrantes e os jovens são predominantemente brancos com a ‘máscara escura’”, explicou o ornitólogo.

A ‘máscara’ da qual Cohn-Haft se refere é a região de pelagem escura ao redor dos olhos que, com o decorrer do amadurecimento da espécie, vai sendo substituída pela penugem branca. Esse fenômeno é conhecido como “spectacled owl”, que seria o equivalente à “coruja de óculos”, fato que inclusive deu origem a um dos apelidos da murucututu.

O murucututu macho mede entre 40,5 e 51 centímetros, pesando entre 580 e 1075 gramas. Já a fêmea desta espécie costuma ser maior, medindo entre 42 e 53 centímetros e chegando a pesar entre 680 e 1250 gramas. Como explicado antes, sua distribuição geográfica é ampla e a espécie pode ser encontrada em todo o território brasileiro. Contudo, o desmatamento tem sido um risco à sua sobrevivência no Cerrado, segundo o ornitólogo.

Ela é considerada rara na Mata Atlântica, onde ocorre uma outra espécie, o murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana), mas ainda continua bastante comum na Amazônia. Em Manaus, ocorre ainda em grandes remanescentes florestais, como na Universidade Federal do Amazonas (Ufam)”, pontuou o pesquisador.

Em relação à vocalização, Cohn-Haft relata que é provável que o canto da fêmea seja um pouco mais grave que a do macho, mas ambos possuem o mesmo ritmo.
O casal frequentemente canta em dueto, os dois indivíduos sobrepondo ou alternando seus cantos. Nesses momentos, dá para perceber que um canta mais grave que o outro. Considerando que a fêmea é maior que o macho em praticamente todas as espécies de aves de rapina, é de se esperar que o canto da fêmea seja ligeiramente mais grave”, indicou.

O ornitólogo ressalta ainda que a espécie é bastante procurada por observadores de pássaros e “importante no ecossistema pelo controle populacional de roedores e outros pequenos mamíferos”.

Murucututu e tradições
Em uma família na comunidade rural do município de Coari, gerações utilizam uma cantiga que envolve a murucututu. Ao Portal Amazônia, Suely Caitano conta que quando sua mãe ia para a roça e precisava deixar os filhos dormindo, cantava:
Murucututu, murucututu
da beira do rio
empresta teu sono
pro neném dormir”

A cantiga virou tradição e Suely, já adulta, passou a cantá-la para suas filhas. “A gente ficava bem calminho, eu me acalmava com a música. Aí fui criando meus filhos e toda vez que alguém tinha dificuldade pra dormir eu cantava essa música e todos dormiam bem”, relatou.
Fonte: Portal Amazônia