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Construção indiana reúne técnicas ancestrais para aliviar calor

​​Situada no deserto, projeto absorve os princípios da arquitetura local com ajuda de artesãos

Por Marcia Sousa 

Realizar construções adaptadas ao clima de cada região pode ser um desafio que impõe criatividade e pesquisas mais aprofundadas. Para a empresa de arquitetura indiana Sanjay Puri Architects o “segredo” pode estar justamente no passado: ao projetar a casa Narsighar, o grupo buscou na arquitetura tradicional as respostas para uma construção que pudesse combater o calor excessivo sem recorrer aos sistemas de refrigeração de alto gasto energético.
O desafio mais evidente está no fato da casa ser localizada em Nokha, um distrito do Rajastão, em uma árida região desértica. Com tal clima, quase inóspito, a maioria das casas e palácios construídos nesta região durante séculos tinham pátios para arrefecimento passivo, grossas paredes de pedra para combater o calor excessivo e telas de pedra ‘jali’ (pedra esculpida perfurada ou reticulada com formas geométricas) para mitigar o ganho de calor. O projeto arquitetônico mirou neste sentido.

A casa Narsighar absorve os princípios tradicionais de planejamento da arquitetura regional predominante durante séculos no Rajastão”, afirma o escritório de arquitetura.

O lar é cercado por uma série de pátios e foi construído em arenito local disponível nas imediações. Cada uma das áreas de estar se abre para espaços externos protegidos com painéis de pedra perfurada. Essas telas, geralmente usadas na arquitetura islâmica, além de reduzirem o ganho de calor, também protegem os espaços internos das tempestades de areia que acontecem na região.

Além das “telas de pedra”, janelas em arco multifoil, pérgulas de pedra, incrustações e esculturas criam uma atmosfera única dos palácios indianos. Esse feito foi alcançado com a aplicação de técnicas tradicionais por parte de artesãos locais, que trabalharam na execução da obra.

O Rajastão é um estado cujos palácios e fortes remontam aos antigos reinos e, até hoje, é o lar de muitos artesãos com especialidades em escultura em pedra, incrustações de mármore, trabalhos de carpintaria, incrustações de espelhos, entre outras técnicas ancestrais.

A casa Narsighar absorve os princípios tradicionais de planejamento da arquitetura regional predominante durante séculos no Rajastão (Foto: CicloVivo/Reprodução)

Casa aberta
A casa atende às necessidades do cliente de acomodar quatro gerações. Para tanto, há nove quartos com espaços multifuncionais. Embora seja uma casa confortável, ela é menor do que aparenta, uma vez que mais de 40% da área é constituída por pátios abertos, espaços de circulação e pátios exteriores protegidos. Cada volume é articulado individualmente, sendo a casa percebida como uma composição de volumes variados.

Uma varanda de entrada se abre para um pátio iluminado pelo sol que leva a uma arcada de pedra protegida, ladeada por bebedouros e jardins para resfriamento passivo antes de entrar na casa. O hall de entrada com claraboia, ladeado por uma sala de estar e uma área de estar aberta, leva a um grande pátio central.

O pátio principal é ventilado naturalmente através de janelas transparentes e a circulação contorna seu perímetro. Cada espaço habitacional e quarto da casa abrem-se para espaços exteriores protegidos, criando volumes de transição entre o interior e o exterior para mitigar o ganho de calor. A luz solar indireta permeia todos os espaços, filtrada através de arcos ou telas de pedra que criam diferentes padrões de sombra ao longo do dia.

Esta casa foi projetada com princípios e materiais tradicionais para refrigeração passiva, com mão de obra contratada das aldeias vizinhas, pedras obtidas nas proximidades, artesãos da região e todos os materiais de origem local. O mármore, a pedra, a madeira, o gesso de cal e os móveis foram todos adquiridos no Rajastão”, afirma o escritório Sanjay Puri Arquitetos.

Além de um lar moderno com eficiência energética, e respeito aos saberes tradicionais, o resultado é uma casa construída para durar séculos e para as gerações futuras.

Fonte: CicloVivo

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