Economia

A importância do setor metalmecânico no desenvolvimento industrial do ES

Evandro Milet, presidente CDMEC

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O setor metalmecânico é um dos mais fortes da economia capixaba, respondendo por mais de 20% do PIB do Espírito Santo. Com R$ 100 bilhões de investimentos previstos para os próximos anos — oriundos da iniciativa privada em setores como o de petróleo e gás, de mineração, de siderurgia, de papel e celulose, infraestrutura, energia e indústria em geral — o setor é essencial para garantir o crescimento da indústria de base que sustenta muitas outras atividades econômicas.
Para falar sobre a significativa participação do metalmecânico no PIB industrial capixaba, o jornal Fatos & Notícias, trouxe para a edição da semana uma entrevista com Evandro Milet, presidente do Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (CDMEC), que explana um pouco do setor e das ações da instituição no processo de desenvolvimento e transformação industrial do Estado.

Haroldo Filho – Qual a importância e o papel do CDMEC no fortalecimento do setor industrial do Espírito Santo?
Evandro Milet –
o setor industrial, incluindo, principalmente, as grandes empresas do Espírito Santo, utiliza normalmente o setor de metalmecânica capixaba como fornecedor. Ele foi criado para atender às grandes empresas. Aracruz Celulose, CST, Vale e Samarco, tiveram que fomentar a formação de empresas fornecedoras locais no seu início e, a partir dos processos de privatização, ampliaram esse fomento com uma terceirização envolvendo vários antigos empregados.

Muitas delas cresceram e atualmente oferecem produtos e serviços Brasil afora e até para o exterior, acompanhando os setores de mineração, siderurgia e celulose em sua expansão. O CDMEC tem o papel de promover a inovação dessas empresas, bem como a muitas outras prestadoras de serviços de todos os tipos, suas associadas. Todas elas precisam de inovação para se manterem no mercado. A ideia é que o CDMEC forneça treinamentos, capacitações, palestras, missões, eventos, workshops para que as empresas se renovem e inovem na prestação de serviços, essa é nossa principal razão de ser.

(Foto: Freepik)

O senhor acredita que a área deve ter ainda mais destaque, contribuindo para a economia do Estado dos próximos anos?
O setor metalmecânico, de forma geral, está associado ao crescimento das indústrias de mineração, siderurgia, petróleo e gás, papel e celulose. Setores que, historicamente, são atuantes no Espírito Santo. No caso do petróleo e gás, a participação é menor, mas há uma perspectiva, uma intenção de aumentar a participação neste setor. Temos uma grande exploração de petróleo e gás na nossa costa que ainda não conta com uma presença forte do setor metalomecânico capixaba como prestador de serviços. Algumas articulações também estão sendo feitas, principalmente no âmbito do projeto feito com o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, o PDF, para que possamos nos aproximar cada vez mais das grandes empresas.

No ano passado, nós tivemos uma relação muito boa com a Vale e a Arcelor Mittal, incluindo reuniões periódicas com vários gerentes dessas companhias apresentando informações sobre o quanto compram de empresas capixabas e de fora. Essas informações são passadas de tal forma que as empresas locais possam perceber as oportunidades de negócio, supridas, hoje, por fornecedores de fora do estado. Essas informações são fundamentais. Em meio a isso tudo, o CDMEC está ampliando o trabalho com a Vale, com a ArcelorMittal, com a Samarco e com a Suzano e, certamente, vai ampliar com a Petrobras, que tem um crescimento de oportunidade grande. Eu acho que tem muita coisa para acontecer nos próximos anos no Espírito Santo.

De que forma o CDMEC vem contribuindo na capacitação das pessoas para atender às necessidades do setor?
Nós temos uma série de projetos de treinamento que estão sendo executados e outros projetados para este ano. Por exemplo, temos o compromisso de oferecer 10 cursos de capacitação para todas as áreas da indústria até o final de 2025. Vamos realizar oito palestras e workshop de alto impacto sobre tendências tecnológicas de inovação também neste ano e vamos fazer missões a empresas relacionadas com o setor de metalmecânica.

Estamos planejando um workshop sobre retrofit, para ensinar o setor a converter, quando possível, máquinas analógicas em digitais, estamos articulando vários cursos de válvulas de segurança, fizemos e faremos seminários e eventos sobre metrologia, manutenção, inteligência artificial e gestão de projetos. E estamos trazendo as grandes empresas para participarem dos nossos eventos. O CDMEC, sem dúvida, vem contribuindo com a capacitação de seus associados.

Quais são os principais desafios do setor metalmecânico capixaba?
Eu acho que o grande desafio é sair do Estado, exportar nosso trabalho para outras unidades da federação e até internacionalmente. Embora algumas empresas nossas estejam começando a “beliscar” o mercado externo, ainda há muito o que fazer. O Espírito Santo representa por volta de 2% do PIB nacional, então o grande mercado está fora daqui. Nas áreas de mineração, siderurgia e celulose as empresas capixabas de metalmecânica já estão fazendo muita coisa fora do Estado, grandes projetos já contam com empresas capixabas no seu desenvolvimento, na implantação de novos produtos ou na manutenção.

Muitas empresas aprenderam aqui e estão replicando o trabalho em outras regiões do Brasil. Então o desafio, agora, é crescer fora do Estado e se atualizar tecnologicamente, porque as exigências de inovação são grandes. Todas as grandes empresas, nacionais e multinacionais, estão pressionadas pela concorrência e, se o setor metalmecânico capixaba não reduzir custos, não aperfeiçoar seus processos, não inovar, vai perder mercado. Para poder disputar no mercado mundial de celulose, de placas de aço, de mineração, de pelotas elas têm que se preparar.

Evandro Milet e Haroldo Filho (Foto: Haroldo Filho/F&N)

O que fazer para fomentar o crescimento do setor nas outras regiões do Estado e qual seria a participação dos órgãos governamentais no processo?
Para fomentar o crescimento das outras regiões, além da modernização, como comentei acima, também é preciso buscar informações e contatos, como fazemos junto ao PDF, na busca de informações sobre as empresas que querem investir no Espírito Santo. É fundamental se manter inteirado sobre grandes projetos que possam vir para cá e, de alguma forma, quebrar a cadeia de fornecedores de fora, fazendo uma conexão com a cadeia local. Outra ação, refere-se ao contato com empresas que estão fora do Estado, conhecer seus processos e demandas para poder competir de igual para igual. Muitos desses projetos novos, que surgem Brasil afora, disponibilizam informações que, se o setor metalmecânico não conhecer antecipadamente, ficará excluído, pois quando ele for lançado, a concorrência já se antecipou e ocupou o espaço.

É possível, também, ter a participação de órgãos governamentais na atração de empresas para cá. A Secretaria de Desenvolvimento é entidade fundamental para discutir a implantação de projetos no Espírito Santo, a participação do processo e incentivos fiscais, por isso, a proximidade com órgãos governamentais. Outras entidades públicas também podem ajudar, trazendo informações sobre o que está acontecendo no Brasil em relação a outros projetos importantes, em outros estados, para podermos nos capacitar conforme a demanda. Empresas que estão aqui têm ligações fora do Estado, a Suzano tem ligação com São Paulo, Maranhão e Mato Grosso, por exemplo.

A Vale é uma dessas empresas que está presente em vários estados. Ela tem fábricas, processos industriais e equipamentos que, se tivermos as informações necessárias, poderemos nos preparar para atendê-los lá fora também. A ArcelorMittal também está em Santa Catarina, Rio, Minas e, mais recentemente, no Ceará, em Pecém. Várias empresas capixabas, por conta da proximidade com estas empresas, estão se habilitando para fornecer serviços para elas. Desta forma, é mais fácil chegar nesses estados e participar dos processos. Isso já tem acontecido, mas tem muito mais espaço para conquistar.

Como se encontra o setor no cenário nacional e o que seria necessário para alcançar destaque internacional?
O cenário internacional é uma questão de ousadia para tentar ocupá-lo. Uma ou outra empresa capixaba já começou a colocar o pé nos Estados Unidos. Algumas estão operando em projetos específicos, a Vale tem investimentos no exterior, a Suzano e a Arcelor, também. A Arcelor, por exemplo, leva profissionais daqui para outros estados, para outros países. A planta de Tubarão é considerada uma das melhores do mundo em produtividade então, acaba levando alguns expoentes daqui para operar internacionalmente. A Arcelor também tem muitos capixabas no Ceará e em Luxemburgo. E se essas empresas levam profissionais, podem levar as empresas fornecedoras, é uma questão de articulação, mas, num primeiro momento, o ideal é que as empresas do setor metalmecânico se espalhem pelo Brasil, onde há muita oportunidade de trabalho.

(Foto: iStock)

Fala-se muito de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Afinal, qual a importância desse tripé para o desenvolvimento do setor?
A importância é permanente. Hoje, todas as grandes empresas estão voltadas para a inovação tecnológica; a inteligência artificial está alterando o processo produtivo no mundo inteiro. Todo mundo está estudando sobre como introduzir inteligência artificial nos seus processos, como introduzir a robótica, como conectar à internet das coisas, seja para produção em si, seja para prevenir problemas ambientais e, da mesma forma, a visão computacional. Hoje é possível usar drones para identificar e evitar a corrosão dentro de uma empresa em alturas antes só atingidas com alpinismo. É uma outra forma de chegar em pontos de difícil acesso. Você usa a internet das coisas (IoT) para evitar cabeamento de sensores dentro da empresa. Hoje em dia têm sensores de todo tipo para colocar nas empresas. Então, a inovação é fundamental para a redução de custo do processo e para aumento de competitividade das empresas.

O CDMEC conta com quantos associados?
Contando com os mantenedores e apoiadores temos cerca de 100 empresas parceiras associadas. Muitas delas são fornecedores específicos de metalmecânica, outras prestam serviço para o setor. Elas são o nosso público de atendimento.

Finalizando, eu acho que nós temos pela frente um ano desafiador, estamos dispostos e empenhados em fazer um planejamento estratégico que será definido com a diretoria no início do ano, para poder trabalhar nossas metas, com toda a diretoria envolvida e, com isso, oferecermos muita capacitação, treinamentos, workshop, novas informações e tecnologias necessárias para a competitividade das empresas do setor metalomecânico capixaba.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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