Economia

Medo de recessão global aumenta e provoca nova onda de liquidações nas bolsas

Na bolsa de Tóquio, o índice Nikkei fechou em queda de quase 8%. Cresce o temor de que a política comercial americana cause uma recessão global

Por Vandré Kramer

Os principais mercados mundiais operam com forte instabilidade nesta segunda-feira (7), reagindo à política comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recentemente impôs o que chamou de “tarifas recíprocas” de no mínimo 10% sobre todos os parceiros comerciais dos EUA.
A nova onda de liquidações de posições, que dá sequência ao movimento iniciado na semana passada, se deve ao aumento do temor de recessão econômica. Bolsas despencaram na Ásia e na Europa, e há perdas também nos EUA e no Brasil. As perdas já chegam a US$ 10 trilhões.

Em Frankfurt, o índice chegou a cair 10%; em Londres, 6%; Xangai, na China, perdeu 8%, enquanto Hong Kong despencou 13%. Em Tóquio, o circuit-breaker — mecanismo que interrompe os negócios — foi acionado para conter as perdas. O índice Nikkei fechou em baixa de 7,83%.

Nos EUA, os principais índices — Nasdaq, S&P 500 e Dow Jones — operavam em baixa de mais de 1% por volta das 12h30 de Brasília. No mesmo horário, o Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, registrava queda de 1,25%. O dólar comercial era negociado a R$ 5,92, 1,5% acima do fechamento de sexta-feira (4).

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que as perdas da madrugada e da manhã desta segunda mostram que a volatilidade e incerteza sobre o mercado não estão restritos ao Brasil e podem atingir outros mercados do mundo, inclusive os das principais economias.

Já dizia um dos pais da física quântica que fazer projeções sobre o futuro é especialmente difícil. No Brasil, esse é um ditado que valeria com alguma ênfase maior, mas o dia de hoje está mostrando que talvez não seja só no Brasil”, afirmou.

Nos Estados Unidos, a perspectiva para o mercado financeiro também é pessimista. Os índices futuros apontam quedas acentuadas, enquanto o banco de investimento Goldman Sachs elevou a probabilidade de uma recessão na economia americana. O temor de uma desaceleração econômica global também afetou os mercados de commodities, com o petróleo registrando queda nos preços.

Trump reafirmou política comercial no fim de semana
Trump e integrantes de seu gabinete reafirmaram, durante o fim de semana, que a política tarifária será mantida. O presidente americano justificou as medidas alegando déficits comerciais elevados, especialmente com a China, que ele estimou em US$ 1 trilhão.

Não vamos mais perder US$ 1 trilhão pelo privilégio de comprar lápis da China”, declarou a jornalistas. Nesta segunda, ele escreveu em sua rede social que os Estados Unidos têm a oportunidade de realizar “algo que deveria ter sido feito décadas atrás”. “Grandeza será o resultado”, afirmou.

Autoridades como o conselheiro Peter Navarro e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, minimizaram os riscos, pedindo calma à população e aos investidores. Analistas e economistas, porém, apontaram para um cenário de maior volatilidade e incerteza.

Medidas sinalizam para incertezas globais
As tarifas impostas pelos EUA têm gerado preocupações quanto ao impacto nos lucros das empresas, nas cadeias de suprimentos globais e no crescimento econômico mundial. Investidores buscam refúgio em ativos mais seguros, como títulos do governo americano, pressionando os rendimentos para baixo.

Segundo o banco francês Crédit Agricole, a imprevisibilidade das políticas comerciais dificulta o planejamento das empresas, postergando decisões de investimento e aumentando a incerteza. A volatilidade nos mercados é exacerbada pelo que se vê como “risco institucional” crescente nos EUA.

Analistas do Barclays, um dos maiores bancos britânicos, destacam que o aumento das tarifas deve desacelerar o crescimento global. Caso as tensões comerciais se agravem, uma recessão nas principais economias pode se tornar inevitável. O economista-chefe do Citi, Nathan Sheets, prevê que a tarifa média sobre importações americanas pode subir de 10% para 15% até o final do ano, com impactos significativos no consumo e nos investimentos norte-americanos.

O programa deverá gerar uma disrupção importante das cadeias produtivas, algo similar ao que ocorreu com a pandemia do covid 19. O resultado será uma desaceleração da economia americana. Em outras palavras, no curto prazo, teremos mais inflação e menos crescimento”, diz o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo

Perspectivas para as economias globais
As tarifas elevam custos de importação e produção, pressionando os preços ao consumidor e reduzindo o poder de compra. Instituições como Goldman Sachs e JPMorgan Chase já revisaram para baixo suas projeções de crescimento para os EUA, alertando para o aumento da inflação e o risco de recessão.

Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, destacou que as tarifas podem prejudicar alianças econômicas de longo prazo e aumentar o isolamento dos EUA no cenário global. Para a União Europeia, o confronto comercial representa um risco adicional, mesmo com estímulos fiscais, como o pacote alemão, impulsionando levemente o crescimento da zona do euro.

Na Ásia, a China enfrenta dificuldades crescentes para manter suas exportações competitivas, enquanto o Japão e a Coreia do Sul observam os desdobramentos com cautela. O Brasil, embora menos exposto, já sofre com tarifas sobre aço e alumínio, enquanto a Índia, com sua economia voltada ao consumo doméstico, pode se beneficiar do cenário atual.

Tensões devem ter efeitos geopolíticos
As tensões comerciais estão acelerando mudanças nas relações econômicas e geopolíticas. Países como China, Japão e Coreia do Sul estão retomando negociações de acordos de livre comércio. No entanto, a desconfiança em relação à China permanece elevada, conforme apontado por especialistas do Crédit Agricole. A União Europeia busca diversificar suas parcerias comerciais.

O protecionismo dos EUA também está estimulando revisões estratégicas em setores como transporte marítimo e cadeias de suprimentos, com impactos no comércio internacional. Segundo o New York Times, as exportações chinesas continuam crescendo, mas a redistribuição de fluxos comerciais ameaça economias aliadas dos EUA, como Coreia do Sul e União Europeia.

Os fluxos de investimento estrangeiro direto estão mudando, com investidores como o multibilionário Bill Ackman expressando preocupação sobre os efeitos das tarifas na confiança internacional. A avaliação é de que a política comercial americana, descrita pelo banco francês como uma “dominação pela força”, pode levar à fragmentação dos fluxos comerciais e ao enfraquecimento de instituições multilaterais.

O Crédit Agricole alerta que as medidas protecionistas dos EUA, além de distorcerem o comércio global, aumentam o risco de tensões geopolíticas. A guerra comercial está remodelando o cenário econômico, com os EUA se tornando menos centrais nas cadeias globais de valor.

Fonte: Gazeta do Povo

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish