Bem-estar Educação

Exposição à natureza aumenta a atenção e a memória dos alunos

O tempo gasto na natureza é capaz de melhorar a concentração, a velocidade de processamento e a retenção de conhecimento, aponta estudo

Por Marcia Sousa

O papel da natureza na melhoria do bem-estar e da saúde mental vem sendo tema de diversos estudos. Agora, uma pesquisa australiana busca entender se os benefícios são extensíveis ao processo de aprendizagem — afetados negativamente nos últimos anos por conta da pandemia. A conclusão geral indica que sim: a natureza pode contribuir para melhorar a atenção e a memória de crianças e adolescentes em idade escolar.
Mesmo com o MEC tendo lançado, em 2022, a política nacional para recuperação de aprendizagem na educação básica, o déficit educacional pós-pandemia é uma realidade. De norte a sul, reportagens jornalísticas ecoam a voz de alunos e professores que sofrem com as dificuldades no processo de alfabetização na rede pública. Um estudo da Unicef publicado este ano, mas que leva em consideração os anos de 2017 a 2023, aponta que o acesso à educação no Brasil, que vinha melhorando, teve piora durante a pandemia e ainda não recuperou o mesmo patamar alcançado em 2019.

Apesar das necessárias restrições sociais, que culminaram com o fechamento de escolas e o ensino on-line, a dificuldade de aprendizagem já era apontada em um relatório chamado “Missão Austrália de 2021”, realizado com mais de 20 mil jovens. Os estudantes australianos sinalizaram que a saúde mental, a capacidade acadêmica e a covid-19 eram barreiras importantes para atingir seus objetivos de estudo ou trabalho.

Tendo esse cenário como pano de fundo, duas pesquisadoras decidiram então explorar a ligação entre natureza e cognição com crianças em idade escolar de cinco a 18 anos, analisando se esta poderia ser uma ferramenta para melhorar o aprendizado.

Dianne Vella-Brodrick e Krystyna Gilowska, da Universidade de Melbourne, realizaram uma revisão sistemática, incluindo 12 estudos experimentais, todos com grupos de comparação, como salas de aula não verdes ou espaços externos construídos, para entender melhor os tipos de intervenção na natureza e quão eficazes elas são para melhorar a atenção e a memória — essenciais para o aprendizado.

As intervenções na natureza incluíam caminhadas no parque, esverdeamento de áreas internas com plantas ou paredes verdes, brincadeiras em áreas verdes externas da escola, bem como jardinagem. Em alguns casos, a natureza desempenhou um papel passivo, de segundo plano, onde os alunos podiam vê-la da janela da sala de aula.

Em outros casos, a natureza era o foco principal e os alunos interagiam ativamente com ela, por exemplo, jardinagem como parte das aulas de ciências. A duração da exposição à natureza também variou de menos de uma hora a vários meses.

(Foto: Freepik gerada com IA)

Nossa revisão encontrou forte apoio às intervenções na natureza para melhorar a atenção e a memória de trabalho”, afirmam as pesquisadoras em um texto publicado no site da Universidade de Melbourne. “Por exemplo, o tempo na natureza melhorou a concentração, a velocidade de processamento e a retenção de conhecimento. Os resultados foram semelhantes tanto para as intervenções passivas quanto ativas na natureza, bem como para as intervenções de duração mais curta ou mais longa”, explicam.

Manter os alunos focados e envolvidos com o aprendizado sempre foi desafiador, principalmente com o uso de celulares nas salas de aula, quando a competição pela atenção virou uma batalha perdida para os professores. Não à toa, a restrição de smartphones nas escolas virou lei. Mas, paralelamente, é possível criar possibilidades de conectar os estudantes com o momento presente e o convívio social e, expor os alunos à natureza, é uma alternativa defendida pelas pesquisadoras que exemplificam da seguinte forma:

1. Há múltiplas associações com essa relação positiva natureza-cognição. A natureza pode elevar nosso humor e bem-estar, ajudando os alunos a se tornarem mais dispostos e abertos ao aprendizado.
2. A natureza também pode restaurar o funcionamento cognitivo, permitindo uma nova mentalidade para o aprendizado, além de reduzir os níveis de estresse e a excitação fisiológica, permitindo um aprendizado mais focado.

3. As escolas estão idealmente posicionadas para permitir que os alunos experimentem ambientes educacionais “verdes”, já que os alunos passam grande parte do tempo na escola. Independentemente de o ambiente escolar ser naturalmente verde, as escolas ainda podem criar suas próprias zonas naturais com recursos limitados.
4. Exemplos incluem construir paredes verdes ou jardins de ervas e cultivar plantas em salas de aula. O esforço valerá a pena, pois o tempo na natureza pode melhorar os objetivos de aprendizagem.

Embora mais pesquisas nessa área sejam incentivadas, é seguro dizer que planejadores escolares, líderes escolares, professores e jovens precisam colaborar para projetar estrategicamente o currículo escolar e a experiência dos alunos, de modo que incluam mais exposição à natureza para os alunos”, afirmam as pesquisadoras. “Sem dúvida, isso proporcionará um alívio bem-vindo para os alunos que estão lutando para lidar com todas as demandas de aprendizado da escola e da tecnologia. Mas também pode fornecer uma saída para os alunos expressarem seu cuidado e interesse em proteger nosso ambiente natural”, concluem.

O estudo foi publicado na Educational Psychology Review.

Fonte: CicloVivo

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