Economia Política

A CPI das Bets e o teatro da influência: o moletom de Virgínia e o jogo por trás do jogo

A influencer Virgínia Fonseca e o cantor Zé Felipe chegam ao Senado para participação na CPI das Bets

Na política contemporânea, onde as fronteiras entre o público e o privado se tornam cada vez mais tênues, a imagem é uma ferramenta poderosa de persuasão. A recente convocação da influenciadora Virgínia Fonseca pela CPI das Bets lança luz sobre como a estética e a narrativa pessoal são utilizadas para moldar percepções e influenciar discursos políticos.
Virgínia, com mais de 90 milhões de seguidores nas redes sociais, foi chamada a depor devido à sua participação em campanhas publicitárias para casas de apostas on-line. No entanto, mais do que suas palavras, foi sua apresentação visual que chamou atenção: um moletom estampado com o rosto da filha, Maria Flor, um copo Stanley rosa e um sorriso aparentemente despretensioso. Essa escolha de vestimenta e acessórios não é aleatória; é uma construção semiótica cuidadosamente planejada para evocar empatia e suavizar o impacto das acusações.

Virgínia Fonseca na CPI das Bets (Foto: Andressa Anholete/Agência Senado)

A semiótica, estudo dos signos e símbolos na comunicação, nos ensina que cada elemento visual carrega significados e conotações. O moletom com a imagem da filha remete à figura materna, associada à inocência e proteção. O copo Stanley, objeto de desejo nas redes sociais, sinaliza pertencimento a uma comunidade específica. O sorriso, por sua vez, busca transmitir tranquilidade e confiança. Juntos, estes elementos criam uma narrativa visual que pode desviar a atenção do conteúdo do depoimento para a persona construída.

Essa estratégia de comunicação não é exclusiva de Virgínia. Outros influenciadores, como o ex-BBB Felipe Prior, também convocado pela CPI, utilizam sua imagem e popularidade para promover plataformas de apostas. Prior, por exemplo, teria um contrato que lhe garantia 15% da receita perdida por novos apostadores indicados por ele, o que levanta questões éticas sobre a exploração da influência digital para fins lucrativos em setores controversos.

A CPI das Bets, ao investigar a relação entre influenciadores e casas de apostas, não apenas busca esclarecer possíveis irregularidades financeiras, mas também expõe como a construção de imagem e narrativa pessoal podem ser utilizadas para influenciar a opinião pública e moldar discursos políticos. Em um cenário onde a estética, muitas vezes, se sobrepõe à ética, é fundamental que a sociedade desenvolva um olhar crítico sobre as mensagens que consome e os símbolos que as acompanham.

Virgínia no Senado (Foto: TV Senado/Reprodução)

Em tempos de excesso de informação e desconfiança, a coerência entre discurso, atitude e entrega torna-se essencial. A imagem projetada por figuras públicas deve ser analisada não apenas por sua aparência, mas pelo que representa e pelas intenções que carrega. A CPI das Bets nos lembra que, por trás de cada moletom estampado e sorriso desengonçado, pode haver uma estratégia cuidadosamente elaborada para influenciar e persuadir.

Erik Zannon

Erik Zannon

Erik Zannon Mestrando em Ciências Políticas pela Universidad Europea del Atlántico; Graduado em Relações Internacionais e Graduando em História pela Multivix

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