A retomada da Samarco

Entrevista com Sérgio Mileipe, diretor de Planeamento e Operações da Samarco Mineração
A revista Aço 5.0 Brasil e o jornal Fatos & Notícias trazem, com exclusividade, entrevista com o diretor de Planejamento e Operações da Samarco Mineração, Sérgio Mileipe, para falar um pouco da sua trajetória profissional e das mudanças operacionais da mineradora depois do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana (MG), e da importância econômica da Samarco para o Espírito Santo.
Após a tragédia de Mariana, em 2015, a Samarco ficou paralisada durante cinco anos voltando a operar em 2020, com 30% de sua capacidade e com 60% em 2024. Segundo Mileipe, a meta da Samarco agora é atingir 100% da sua capacidade produtiva em 2028. Confira abaixo a entrevista exclusiva de Mileipe à Revista Aço 5.0 Brasil (Fatos & Notícias).
Como o senhor vê a mineração atual e no futuro com as perspectivas de transição energética, ou seja, como a mineração se encontra nesse contexto?
É importante que as empresas estejam preparadas para o futuro, redesenhando seus processos visando conhecer e adotar as melhores tecnologias disponíveis no mercado e que estejam compatíveis com o negócio e com a sustentabilidade.
A Samarco está com metas alinhadas ao Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e ao Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM), e está acompanhando as tendências de legislação e mercado nesta área. Um exemplo, é a nossa participação na elaboração de um plano setorial de descarbonização para a mineração brasileira, em conjunto com outras empresas do setor, buscando alternativas para redução de emissões e a promoção da economia de baixo carbono.
Estudamos meios para reduzir a nossa emissão de gases. Com a demanda crescente pela descarbonização, recentemente a empresa firmou, por exemplo, uma parceria com a Eneva para uso de um combustível proveniente de uma fonte renovável.

A nossa meta é zerar as emissões líquidas de GEE (saldo das emissões de gases de efeito estufa) até 2050. A transição energética e a descarbonização, com a substituição gradual da matriz energética nos processos de produção, estão alinhadas ao nosso compromisso com a economia circular.
Falando em economia circular destaco que adotamos recentemente o uso de resíduos de lavra de mármore na produção de pelotas de minério de ferro, como alternativa complementar ao calcário. A prática tornou a Samarco pioneira em uma ação inovadora em prol do desenvolvimento sustentável. Desde 2023 iniciamos a produção de pelotas com esse insumo sustentável. Atualmente 45% das nossas pelotas possuem coproduto de mármore. Desde a homologação do coproduto de mármore em março de 2024, foram adquiridas mais de 175 mil toneladas do material. O que para a indústria de pedras ornamentais era considerado um resíduo para a Samarco se tornou um insumo.
Outra inovação em prol da descarbonização foi a adoção do uso do bio-óleo nas nossas usinas de pelotização, em 2024, projeto pioneiro que está sendo desenvolvido para substituição gradual do gás natural na matriz energética da Samarco. Vários testes industriais realizados com o insumo, desde o último trimestre do ano passado, mostraram resultados positivos.

Fala um pouco da história da instituição, de sua evolução tecnológica e de como está a retomada das operações e de sua importância para os capixabas?
A Samarco é uma empresa brasileira e, em agosto deste ano, completa 48 anos. Nasceu de um projeto inovador visando ao aproveitamento econômico de itabiritos, minérios de ferro de médio a baixos teores, existentes na mina de Germano, em Mariana, Minas Gerais.
A empresa foi concebida a partir de um projeto integrado, composto por mina, beneficiamento, mineroduto, pelotização e porto. Nossas operações sempre foram realizadas em duas unidades operacionais, nas cidades de Mariana (MG) e Anchieta, aqui no Espírito Santo. As nossas unidades são conectadas por minerodutos, de aproximadamente 400 km de extensão, que passam por 25 municípios nos dois estados.
A Samarco foi a primeira empresa do país a utilizar a logística de transporte por mineroduto, gerando uma operação mais segura e com baixo impacto para o meio ambiente. Em 2000, a Samarco passou por reestruturação acionária, constituindo a composição atual, tendo Vale e BHP Brasil como acionistas, com 50% do capital da empresa cada uma.
Em 2015 o rompimento da barragem de Fundão marcou a nossa história e jamais será esquecido por nós e pela sociedade. Nossas operações ficaram paralisadas durante cinco anos. Após novo licenciamento, as nossas operações foram retomadas no final de 2020, com 26% da capacidade total de produção, sem disposição de rejeitos em barragens, com um processo de filtragem e empilhamento a seco.
Avançamos em inovação e sustentabilidade, buscando o aumento da eficiência das plantas de beneficiamento do minério para reduzir a geração de rejeitos. Isso inclui, ainda, projetos para ampliação da utilização do rejeito arenoso, que hoje já é aplicado na fabricação de concreto, além do aproveitamento do ultrafino em pavimentações ecológicas.

No final de 2024, com a reativação do Concentrador 2 e a expansão da planta de filtragem de rejeitos no Complexo de Germano, concluímos mais uma etapa importante no plano de retomada operacional gradual, alcançando 60% da nossa capacidade produtiva. Para essa nova etapa, também reativamos mais uma usina de pelotização, no Complexo de Ubu (ES), em agosto do ano passado.
Temos o compromisso com as comunidades e territórios onde atuamos e priorizamos a contratação de força de trabalho local e promoção de cursos de capacitação de acordo com as demandas de nossos projetos.
Hoje, somos mais de 15 mil pessoas que constroem a Samarco diariamente. Deste total, quatro mil pessoas atuam na nossa unidade no Espírito Santo.
Tanto nos cursos, quanto nos programas de porta de entrada e contratações, estamos atentos às questões de diversidade, equidade e inclusão. Para além de oferecer oportunidades aos grupos historicamente minorizados, atuamos fortemente em ações para letramento e ampliação da consciência, engajamento e comunicação, construção de infraestrutura adequada para receber pessoas diversas e promover um ambiente acolhedor e saudável. Por fim, contamos com uma robusta política de investimento institucional e social, que apoia projetos que contribuam para o desenvolvimento das comunidades anfitriãs, seja no Espírito Santo ou em Minas Gerais.
Seguimos o planejamento de retomada gradual das nossas operações. Neste ano, estimamos alcançar a produção de 15 milhões de toneladas de pelotas e finos de minério. O próximo passo será alcançar 100% da capacidade produtiva instalada até 2028. O projeto para essa fase contempla o retorno da operação do próximo Concentrador, em Germano, e das Usinas de Pelotização, aqui em Ubu, além da construção de mais uma expansão da planta de filtragem em Minas Gerais. É importante destacar que a Samarco busca gerar valor compartilhado com as comunidades vizinhas às nossas operações e fomentar o desenvolvimento regional.

Como se sente, como capixaba, alcançar o sucesso que está alcançando e o que recomenda a quem está pensando em trilhar um caminho como o seu?
Ser reconhecido pelos capixabas como um bom exemplo é motivo de muito orgulho e satisfação. Ao mesmo tempo, traz mais responsabilidade em fazer as escolhas certas, conciliando os interesses da empresa e a geração de valor para todas as partes interessadas, em especial para os colaboradores e para as comunidades vizinhas.
Formei-me em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Espírito Santo e ingressei na Samarco em 1997 como trainee para trabalhar na segunda usina de pelotização. De lá para cá foram muitos momentos vividos, sendo a maior parte deles na operação. Hoje estou diretor de Operações.
Como líder sempre digo que a nossa missão é engajar e inspirar as pessoas a caminharem, juntas, rumo ao mesmo ideal. Para isso, é preciso estabelecer relações de confiança e ambientes seguros para que todos possam se manifestar, colocar suas ideias, inovar, aprender, reaprender e evoluir. A liderança precisa construir pontes e cuidar das pessoas, o maior ativo de uma empresa.
Para quem está começando a carreira e quer trilhar um caminho na indústria, sugiro que nunca deixe de estudar para aperfeiçoar e atualizar seus conhecimentos. Adotar uma postura íntegra e demonstrar sempre comprometimento com os valores e objetivos da organização em que atua também são atitudes primordiais. Pode até parecer clichê, mas, no meu caso, tive a oportunidade de conciliar um trabalho muito desafiador com algo que sou apaixonado em fazer, e isso fez toda a diferença no meu desempenho profissional.
