Arqueólogos acham evidência da “guerra” mais antiga da humanidade

Estudiosos analisaram esqueleto de uma das vítimas de violência mais antiga conhecidas na história
Por Isabela Oliveira
Pesquisadores encontraram evidências de que um jovem enterrado há quase 17 mil anos no atual norte da Itália foi morto em uma emboscada durante um conflito. A descoberta revela a evidência de uma potencial “guerra” antiga da humanidade. A revista Scientific Reports publicou a pesquisa.
O homem, apelidado de Tagliente 1, morreu por ferimentos fatais causados por projéteis com ponta de sílex. Ele se tornou uma das primeiras vítimas conhecidas de violência intergrupal entre caçadores-coletores pré-históricos. Acredita-se que ele teria entre 22 e 30 anos e que teria vivido durante o período Epigravetano Superior, após o Último Máximo Glacial.
Os arqueólogos escavaram o esqueleto pela primeira vez em 1973, no abrigo rochoso de Riparo Tagliente, nas montanhas Lessini, no nordeste do país. Na época, encontraram seus membros inferiores e alguns fragmentos da parte superior do corpo.
Agora, uma nova reanálise com imagens 3D avançadas e microscopia eletrônica de varredura desvendou sua morte. O bioarqueólogo Vitale Sparacello, coautor do estudo, examinou incisões profundas no fêmur e na tíbia esquerdos para mais informações.
“Guerra” antiga
O que no passado eram cortes associados ao pós-morte, com a aplicação de novas técnicas, foram identificados como marcas de impacto de projéteis. Aliás, o estudo revelou cinco marcas discretas, sendo quatro consistentes com ferimentos dos projéteis. Um deles, na parte frontal da coxa, e outro, na parte posterior da perna, foram considerados de fuga ou ataque por mais de um agressor.
Esta, aliás, é a primeira vez que pesquisadores identificaram ferimentos de pedra nos ossos apenas com base na análise de traumas esqueléticos. Os arranhões microscópicos e as inclinações dos cortes sugerem que os ferimentos seriam de armas para uso em ataques em alta velocidade.
Os arqueólogos também presumem que o ataque se originou devido a competição por recursos e territórios. Isso porque, com o derretimento das geleiras e o acesso a novas terras nos Alpes, grupos humanos teriam tido mais contato entre si. Estudos etnográficos ainda mostram que, em pequenos grupos móveis, armas de projétil serviam principalmente para agressões estratégicas intergrupais.
Apesar da morte violenta, Tagliente 1 teve um sepultamento digno, com cerimônia. Isso porque ele estava de costas em uma cova rasa, com grandes pedras cobrindo suas pernas. Além disso, uma delas trazia entalhes de leão e o chifre de um auroque. Pequenas pedras manchadas de ocre e uma concha estavam nas proximidades, como possíveis oferendas ou símbolos rituais. Alguns estudiosos acreditam que os sepultamentos poderiam ser uma forma de ritual para abordar a ruptura social de mortes violentas e prematuras, de acordo com o Archeology Mag.
Fonte: Giz Brasil