Cultura

Pintura que retrata Brasil do século 17 é achada em celeiro e leiloada

Produzida pelo pintor neerlandês Frans Post, Quadro ‘Vista de Olinda, Brasil, com ruínas da Igreja dos Jesuítas’, de Frans Post, obra retrata Brasil na época da colônia holandesa, no atual território do Nordeste

Por Éric Moreira

Uma obra de arte rara, assinada pelo pintor neerlandês Frans Post, foi arrematada recentemente em leilão pela quantia de US$ 7 milhões (cerca de R$ 39 milhões, na cotação atual), sendo este o valor mais alto já pago por uma tela do artista. Intitulada ‘Vista de Olinda, Brasil, com ruínas da igreja dos Jesuítas‘, a tela retrata a paisagem da cidade pernambucana no século 17, quando era colonizada pelo Império Holandês.
Conforme repercute a Revista Galileu, Post nasceu em Haarlem, na Holanda, em 1612. Ele já era parte de uma família de artistas, de forma que, ainda jovem, foi incentivado a treinar sua pintura e a se especializar nisso. Porém, sua carreira teve uma virada de chave quando, aos 24 anos, ele veio até o Brasil a convite do governador João Maurício de Nassau. Aqui, ele viveu na região nordeste, no chamado “Brasil Holandês“, durante oito anos — mas essa estadia serviu como inspiração para toda a sua vida.

Isso porque, quando retornou à Europa, ficou especialmente requisitado por seus quadros ricos em detalhes das paisagens tropicais da América, que pôde retratar após o tempo que passou observando e retratando elementos de nossa fauna e flora. Seu primeiro grande público eram antigos comerciantes e administradores coloniais, que ansiavam por uma lembrança de como era o Brasil — e, como Post já havia visto vários pontos turísticos e teve uma vivência considerável por aqui, era capaz de criar telas com precisão e detalhes reconhecíveis.

Em alguns anos, Post começou a se voltar mais para compradores que ainda não tinham visitado a colônia, mas que ainda alimentavam ideias exóticas sobre como era o Brasil. Com isso, o artista pôde tomar diversas liberdades criativas, retratando a região de maneira não tão fiel à sua paisagem nativa, mesclando diversos elementos ao mesmo tempo.

Quadro perdido
Após quase três décadas, o quadro recém-leiloado foi localizado em 1998 no sótão de um celeiro em Connecticut, nos Estados Unidos, e bastante sujo. Ainda assim, o casal Jordan e Thomas Saunders compraram-no pelo valor aproximado de US$ 2 milhões, com indicação do curador George Wachter.

O quadro estava muito imundo e mal dava para enxergar o que estava sendo retratado ali. Mas senti que ele tinha muito potencial, por isso insisti para que Jordan e Thomas o comprassem”, recorda Wachter, em vídeo à Sotheby’s, responsável pelo leilão. “Em seguida, procuramos uma conservadora de Nova York para realizar a restauração do objeto”.

Foi a conservadora Nancy Krieg que, com solventes químicos e cotonetes macios, conseguiu remover a sujeira da tela, revelando melhor, pouco a pouco, as ruínas de uma igreja, homens e mulheres escravizados carregando cestos e até um conjunto de animais, incluindo duas espécies tipicamente brasileiras: um tamanduá e um tatu.

Dessa forma, nota-se que a obra é um exemplo de fase em que Post tomava certas liberdades criativas, se baseando em suas memórias, mas misturando diferentes cenas e elementos que, dificilmente, estariam realmente reunidos. Além dos já mencionados, também há uma diversidade de animais e plantas exóticas, um grande lagarto, um pássaro branco e um pé de abacaxi.

No centro inferior, podem ser vistos homens e mulheres escravizados carregando cestos por um campo, enquanto outro grupo de pessoas caminha em direção às ruínas, localizadas à direita. Essas ruínas, por sua vez, são identificadas como a igreja jesuíta de Nossa Senhora das Graças, em Olinda.

Todas essas formações, posicionadas em frente ao Rio Beberibe e sob um céu azul, representam “quase mais um capricho, uma paisagem imaginada, do que uma topografia precisa”, segundo a especialista em pintores antigos da Sotheby’s, Daria Foner. “Mas acho que isso a torna ainda mais evocativa”.

Fonte: Aventuras na História

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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