Economia Política

Governo aceita gastar R$ 260 milhões com navios de luxo para cobrir rombo de leitos para COP 30

Navios com diárias de até US$ 600 são opções para hóspedes durante a COP 30, em Belém (PA)

Por Rafael Fantin

O governo federal contratou navios de luxo para servir como hotéis flutuantes durante a COP 30, a conferência mundial do clima marcada para Belém (PA), no mês de novembro. Esse movimento com os navios representa mais seis mil leitos para receber os visitantes esperados durante o evento. A gestão petista apostou na realização da Cúpula do Clima na região amazônica e agora enfrenta uma conta que não fecha: a capital paraense tem uma rede hoteleira de cerca de 20 mil leitos, sendo que a expectativa de público para o evento internacional é de 50 mil pessoas.
Os contratos com os navios MSC Seaview, da MSC Cruzeiros, e Costa Diadema, da Costa Cruzeiros, somam aproximadamente 3,9 mil cabines, incluindo toda a operação de hospitalidade temporária. De acordo com a organização da COP 30, o investimento total é de até R$ 263 milhões, com o que é considerado “garantia pública” de R$ 259 milhões, valor destinado a cobrir riscos financeiros caso nem todas as cabines sejam ocupadas. Na prática, governo Lula assume o risco: se todos os leitos não forem ocupados, a diferença será paga com dinheiro público até o teto do contrato.

Esse valor só será efetivamente desembolsado pelo governo se houver baixa ocupação dos leitos, funcionando como uma espécie de seguro para cobrir eventuais prejuízos à operação, viabilizada por meio de um contrato coordenado pela Embratur, em parceria com a Secretaria Extraordinária da COP 30.

Na prática, o governo brasileiro assume o risco operacional: se o total de leitos não for comercializado pela operadora, a diferença será paga com dinheiro público até o teto do contrato. A expectativa é que parte dos custos deverá ser compensada pelas reservas feitas pelas delegações e participantes, reduzindo o risco de impacto fiscal.

Cerca de 500 acomodações estão reservadas especificamente para países em desenvolvimento, sendo que parte dos custos pode ser financiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) ou diretamente pelos próprios países interessados. As delegações de países menos desenvolvidos, que terão prioridade de reserva, vão pagar até US$ 220, ou R$ 1,2 mil, por diária, enquanto os demais participantes poderão reservar a preços de até US$ 600 por diária, cerca de R$ 3,3 mil. As embarcações ficarão atracadas no Terminal Portuário de Outeiro, cuja revitalização foi custeada com recursos da Itaipu Binacional.

Alto preço e baixa oferta provocam pressão internacional envolvendo a COP 30
A crise dos preços abusivos de hospedagem virou o centro do debate diplomático e logístico da COP 30. Apenas 100 dias antes do início da conferência, um grupo composto por 25 países, incluindo Canadá, Suécia e Holanda, encaminhou um documento oficial cobrando do governo brasileiro e da ONU ações concretas, entre elas a transferência total ou parcial das reuniões para outra cidade por causa da demanda por hospedagens e altos preços.

Diplomatas e delegações relatam cotações com valores até 15 vezes superiores ao normal, com casos de hotéis cobrando cerca de US$ 700 ou R$ 3,8 mil a diária. O documento destaca que “ter condições de participar” significa promover acesso a hospedagem adequada, preços viáveis e segurança no deslocamento, algo que, segundo os signatários, não está assegurado com os valores praticados em Belém.

A pressão internacional teve eco nas embaixadas: Alemanha, Suíça, Indonésia e China enviaram comunicações ao governo federal brasileiro desde janeiro, cobrando explicações e demonstrando insatisfação. A Suíça destacou dificuldades em justificar as despesas no Parlamento e prevê redução de representantes.

Sem “plano b”, as autoridades brasileiras asseguram que a COP 30 não sairá de Belém. Diante da alta demanda simultânea e da necessidade de recorrer a alternativas emergenciais, o governo firmou convênios com a plataforma Airbnb, vai transformar escolas em hostels e cogita o uso de habitações do programa Minha Casa Minha Vida, além dos navios de luxo.

Fonte: Gazeta do Povo

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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