1913 Massacre: a história por trás de uma das canções folclóricas mais trágicas da América

Woody Guthrie transformou em música o desastre esquecido do Italian Hall, onde 73 pessoas morreram após um falso alarme de incêndio
Por Gabriel Marin
Woody Guthrie nunca foi apenas um músico. Seu violão e sua voz eram ferramentas de denúncia, instrumentos para contar as histórias que o poder preferia enterrar. Entre elas, uma tragédia quase esquecida: o desastre do Italian Hall, em 24 de dezembro de 1913, na cidade mineradora de Calumet, Michigan.
Naquela véspera de Natal, os membros da Federação Ocidental de Mineiros (WFM) e suas famílias se reuniam para celebrar o fim de um ano exaustivo nas minas. O trabalho era arriscado, marcado por desabamentos, explosões e doenças pulmonares, e a festa era um raro momento de alívio. Mas a noite terminou em horror.
Alguém gritou “fogo” no segundo andar do prédio — não havia chamas, apenas pânico. A multidão correu para a escada estreita, formando um amontoado mortal. Setenta e três pessoas morreram, incluindo 59 crianças. Nunca se descobriu quem lançou o alarme falso, mas muitos acreditavam que fosse um gerente antissindical tentando sabotar o evento.
Décadas depois, em 1949, Guthrie ouviu a história e viu nela a síntese da exploração e do desprezo sofridos pelos trabalhadores. Na canção ‘1913 Massacre’, ele narra o episódio sem suavizar a tragédia: “os bandidos armados riram de sua piada assassina, / Enquanto as crianças eram sufocadas na escada perto da porta”. Para ele, não foi acidente, mas resultado direto da ganância e da hostilidade contra o movimento sindical.
Ao relembrar os mortos e dar voz aos sobreviventes, Guthrie fez mais que registrar um fato histórico: transformou a dor esquecida em memória viva, perpetuando um grito contra a injustiça que atravessa gerações.
Segundo o ‘Far Out’, a canção de Guthrie não apenas resgatou o desastre do esquecimento, mas também expôs como a violência contra trabalhadores vai muito além das minas e fábricas, infiltrando-se até nos momentos de lazer e comunidade. Ao batizar o episódio de “massacre” — termo pesado e intencional —, ele retirou qualquer verniz de acaso ou fatalidade, colocando o foco na responsabilidade humana e na lógica de poder que sacrificava vidas para preservar interesses econômicos.
Fonte: Aventuras na História










