Economia

Alerta: produção automotiva no Brasil corre risco de parar devido à escassez de semicondutores

Associação que representa montadoras alertou o governo de que a escassez de semicondutores pode paralisar a produção no Brasil

Por Vitoria Lopes Gomez

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) fez um alerta ao governo federal: a produção automotiva no Brasil corre risco de parar devido à escassez de semicondutores. Isso pode acontecer dentro de semanas.
A associação, que representa as montadoras, pede que o governo tome medidas para impedir o desabastecimento dos componentes eletrônicos.
A Anfavea demonstrou preocupação com o risco de escassez de semicondutores, um cenário de crise semelhante ao que aconteceu na pandemia. Na época, montadoras tiveram que paralisar a produção por falta dos componentes. Isso porque, conforme explicou a associação, um único veículo moderno usa, em média, de mil a três mil chips. As tecnologias são essenciais em várias partes dos modelos, desde os freios ABS e airbags até injeção eletrônica, controle de motor e sensores. Sem eles, as fabricantes não conseguem manter a linha de produção.
Em nota, a associação alertou que está “atenta e preocupada” com o risco de paralisação, que “pode afetar operações fabris em questão de semanas”. Ainda, pediu que o governo federal adote medidas “rápidas e decisivas” para impedir o desabastecimento.

Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental que se busque uma solução em um momento já desafiador, marcado por altos juros e desaquecimento da demanda. A urgência é evidente, e a mobilização se faz necessária para evitar um colapso na indústria”, cobra Igor Calvet, presidente da Anfavea, em nota.

Escassez de semicondutores pode colocar produção de carros em risco (Foto: Shutterstock)

O Olhar Digital também entrou em contato com o Ministério da Indústria para mais detalhes sobre a situação. Em resposta, a assessoria de imprensa da pasta disse que o governo “está acompanhando os eventuais efeitos de interrupções da cadeia global de suprimento de semicondutores e está em diálogo com a indústria brasileira para buscar soluções que evitem danos às empresas e aos empregos”.

A Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) e o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) também manifestaram preocupação. Em carta enviada ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, as associações escreveram que observaram uma “redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia aplicados em veículos leves, comerciais e industriais”.

As instituições ainda destacaram que não há alternativas de fornecimento local ou regional de semicondutores a curto prazo, o que poderia afetar montadoras como Volkswagen, Stellantis, GM, Toyota, Hyundai, BYD e outras. Ambas pediram apoio do governo federal para garantir o abastecimento.

O Olhar Digital entrou em contato com as montadoras citadas para entender se há algum mapeamento da situação. Em resposta, a BYD reforçou que, “por sua forte estratégia de integração vertical, produzindo internamente a maior parte dos componentes essenciais, o abastecimento de semicondutores não será afetado”. A Hyundai afirmou que “está atenta aos acontecimentos internacionais que afetam, em algumas regiões, o abastecimento de chips e semicondutores eletrônicos. Até este momento, não há risco de interrupção da produção na fábrica de Piracicaba (SP)”.

A Volkswagen respondeu que “está atenta às movimentações sobre a cadeia fornecedora de semicondutores. A escassez de fornecimento de chips continua, por enquanto, sem impacto na produção das fábricas de veículos da marca Volkswagen no País. No entanto, em vista da situação dinâmica, impactos de curto prazo na produção não podem ser descartados. Estamos analisando opções alternativas de fornecimento para minimizar a situação”.

A Toyota escreveu que “está avaliando os possíveis impactos relacionados à situação de fornecimento de componentes envolvendo a Nexperia. Até o momento, não foram identificados impactos significativos no curto prazo para as operações. A empresa segue monitorando de forma contínua a situação junto a seus fornecedores, a fim de antecipar eventuais riscos e garantir a sustentabilidade do negócio”.

Crise tem a ver com a Nexperia, fabricante de semicondutores holandesa com forte conexão com a China (Foto: Shutterstock)

A crise deste ano tem a ver com disputas políticas envolvendo a Nexperia, fabricante de semicondutores holandesa que era subsidiária da chinesa Wingtech Technology. Inclusive, parte da cadeia de produção fica na China. O trabalho da fabricante é essencial para manter o funcionamento das cadeias de suprimentos em toda a zona do euro, incluindo no setor de carros. Conforme reportado pelo Olhar Digital, há pouco mais de uma semana, o governo holandês assumiu o controle da empresa para “garantir que um suprimento suficiente de seus chips permaneça disponível na Europa”.

O objetivo é evitar que os semicondutores da Nexperia ficassem indisponíveis para os europeus em caso de uma emergência. Em comunicado, o Ministério da Economia holandês explicou que a medida foi “altamente excepcional” e tomada devido aos “sinais recentes e agudos de graves deficiências e ações de governança” por parte da empresa chinesa.

A China reagiu. Pequim bloqueou a comunicação entre a Nexperia e a fábrica chinesa, restringindo a exportação dos componentes eletrônicos. Este cenário minou o acesso das montadoras europeias aos semicondutores e corre risco de paralisar a produção por lá. Volkswagen e Stellantis podem ser algumas das afetadas caso a situação não se resolve rapidamente.

De acordo com a agência de notícias Reuters, a unidade chinesa da Nexperia retomou a produção e distribuição para fornecedores locais. No entanto, agora todas as vendas serão na moeda chinesa, o yuan, em vez de moedas estrangeiras, como acontecia antes. A unidade chinesa também instruiu as compradoras a vender os semicondutores apenas em yuans, de forma a estabelecer uma operação independente da unidade da Nexperia na Holanda. Por outro lado, a unidade holandesa estaria procurando parcerias fora da China e alertou os consumidores de que não garante a qualidade da produção na subsidiária chinesa.

Fonte: Olhar Digital

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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