Meio ambiente

Filhotes de tartaruga-gigante renovam esperança para espécie

Treze bebês da tartaruga-gigante-de-aldabra nasceram com sucesso após incubação artificial, marcando um avanço científico e conservacionista

Por Gabriel Marin

O som lento e compassado das patas das tartarugas-gigantes tem se tornado cada vez mais raro nas Seychelles. Porém, um marco recente reacendeu a esperança dos conservacionistas: a primeira eclosão bem-sucedida da espécie com incubação artificial. Treze filhotes da tartaruga-gigante-de-aldabra nasceram e já estão se fortalecendo com uma dieta de fatias de banana e folhas verdes, em um dos ambientes naturais mais protegidos do planeta.
A espécie, uma das maiores e mais longevas do mundo, pode atingir até 250 quilos e viver por mais de um século. O nascimento desses filhotes representa não apenas um sucesso científico, mas também uma vitória simbólica para os esforços globais de preservação da biodiversidade. Os treze filhotes são sobreviventes de um total de dezoito ovos retirados de um único ninho na Ilha Cousin, parte do arquipélago das Seychelles. Conservacionistas decidiram intervir após cientistas aplicarem uma técnica inédita que permite determinar se ovos aparentemente inviáveis foram fertilizados e ainda poderiam se desenvolver. O resultado surpreendeu: muitos ovos que antes seriam descartados tinham potencial para gerar novas tartarugas. O sucesso do experimento pode representar um divisor de águas para o futuro da espécie.

Este é um salto enorme”, afirmou Alessia Lavigne, pesquisadora seichelense da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, e principal autora do estudo que acompanha o projeto. “Isso mostra o que a conservação pode fazer”.

Falhas e refúgio
O estudo, que analisou as taxas de reprodução de cinco espécies de tartarugas e cágados, revelou que 75% dos ovos não desenvolvidos eram fertilizados, mas os embriões morreram nas primeiras fases de desenvolvimento. Essas descobertas ajudam a explicar o baixo sucesso de eclosão observado em ninhos selvagens de Aldabra.

Segundo os cientistas, o problema não está nas características genéticas das tartarugas, mas em fatores ambientais, como variações de temperatura, umidade e predadores naturais. Compreender e controlar essas variáveis pode ser a chave para reverter o declínio da espécie, atualmente classificada como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

As tartarugas-gigantes foram exterminadas da maioria das ilhas do Oceano Índico no século 19, quando marinheiros as caçavam por sua carne e casco. A população do atol de Aldabra, porém, sobreviveu graças ao isolamento geográfico. Hoje, o local é um santuário natural que abriga mais de 400 espécies endêmicas, reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco desde 1982.

Para proteger a espécie de novos riscos, alguns indivíduos foram transferidos para outras ilhas, como Cousin, criando populações de reserva. A decisão, vista à época como cautelosa, se mostrou acertada: uma das ilhas do arquipélago está sendo transformada em um resort de luxo financiado pelo Catar, o que ameaça parte do ecossistema local.

Conservação
Apesar do sucesso da incubação artificial, os pesquisadores alertam que a técnica é apenas uma medida emergencial. O objetivo principal agora é melhorar as condições dos ninhos naturais, garantindo que a reprodução ocorra de forma sustentável.

É maravilhoso que esses ovos tenham se mostrado viáveis, mas incubá-los artificialmente não é uma solução a longo prazo”, explicou Nicola Hemmings, da Escola de Biociências da Universidade de Sheffield. “Precisamos entender o que está acontecendo no ambiente natural e ver como podemos ajudá-lo a funcionar melhor”.

Segundo o ‘The Guardian’, a equipe também pretende compartilhar seus resultados com pesquisadores das Ilhas Galápagos, que abrigam a única outra espécie de tartaruga-gigante do planeta. A colaboração internacional pode oferecer novas perspectivas sobre como preservar essas criaturas lendárias, que há séculos fascinam cientistas e visitantes.

Fonte: Aventuras na História

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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