Ziraldo: o artista de múltiplos talentos que conquistou gerações

Nascido em Minas Gerais, Ziraldo foi um dos maiores nomes da cultura brasileira e eternizou-se por meio de obras como ‘O Menino Maluquinho’
Por Giovanna Gomes
Ziraldo Alves Pinto, mais conhecido como Ziraldo, foi um dos maiores nomes da cultura brasileira no século 20, com uma carreira multifacetada que se destacou no humor gráfico, na literatura infantil, no jornalismo e nas artes visuais. Nascido em Caratinga, Minas Gerais, em 1932, mostrou, desde cedo, talento para o desenho e o humor e, já com seis anos de idade, teve uma ilustração publicada no jornal Folha de Minas.
Nos anos 1950, Ziraldo passaria a colaborar com revistas e jornais de grande circulação, produzindo charges, ilustrações e cartuns que rapidamente conquistariam o público. Mais tarde, alcançou grande notoriedade ao participar do semanário O Pasquim, fundado em 1969, que se tornou um símbolo da resistência cultural durante a ditadura militar.
Engajado politicamente, o cartunista chegou a ser preso três vezes. A primeira delas se deu em dezembro de 1968, apenas um dia após a decretação do Ato Institucional Número 5 (AI-5), marco do endurecimento do regime. Até o fim da ditadura, O Pasquim sofreria diversos ataques, incluindo bombas na redação e em bancas de jornal. Apesar das prisões e perseguições, Ziraldo foi agraciado com o prêmio principal do 32.º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas — considerado o “Oscar do humor” — após ter suas obras publicadas em revistas na Europa e nos Estados Unidos.

Literatura infantil
Paralelamente à sua atuação no humor gráfico, Ziraldo consolidou-se como um dos autores mais influentes da literatura infantil brasileira. Ainda em 1969, publicou Flicts, obra revolucionária tanto pelo conteúdo poético quanto pela ousadia gráfica, que colocou o Brasil no mapa da literatura infantil contemporânea. A fábula poética sobre uma cor que não encontrava seu lugar no mundo encantou leitores de todas as idades, até mesmo os astronautas da missão Apollo 11, que receberam exemplares durante visita ao Brasil. Neil Armstrong chegou a escrever ao autor, dizendo: “A lua é Flicts”.
Em 1980, lançou seu maior sucesso, O Menino Maluquinho, que se tornaria um clássico absoluto. Ziraldo contava que inventou o Menino Maluquinho enquanto fazia a barba e conversava consigo mesmo em frente ao espelho. Muito tempo antes já ruminavam em sua cabeça as memórias de infância, as relações com a família, a vida de menino… As demais características foram surgindo aos poucos: a panela na cabeça, o gosto pela poesia, e o talento de goleiro que agarra tudo, menos o fim da infância. Quando o personagem ganhou vida, o sucesso surpreendeu seu próprio criador.

“Era vez um menino maluquinho. Ele tinha o olho maior que a barriga. Tinha fogo no rabo, tinha vento nos pés”, diz a abertura do livro “O Menino Maluquinho”, que esgotou em quatro meses. Maluquinho ganhou uma turma inteira para brincar: sua namoradinha Julieta, a Juju (ela estrelou até uma revistinha própria no começo nos anos 2000); Bocão, seu melhor amigo; a certinha e romântica Carolina; Lúcio, o intelectual da turma; o baixinho Junim, que fica chateado quando implicam com ele; a bela e cobiçada Shirley Valéria; e o valentão Herman.
Em 2020, quando se tornou um respeitável quarentão, Maluquinho já havia tido 129 edições, vendido quatro milhões de exemplares e viajado para mais de uma dezena de países. Também conquistou fãs renomados, como o poeta Carlos Drummond de Andrade, cujas colunas no Jornal do Brasil eram ilustradas por Ziraldo.
“O Menino Maluquinho” foi adaptado para cinema, teatro, ópera, histórias em quadrinhos e uma série animada da Netflix. A Melhoramentos, editora do Menino, também publicou várias histórias do Bebê Maluquinho, além de livros de piadas, de receitas, de jogos, de dietas, de informática e até de hai-kais estrelados pelo moleque e sua panela-chapéu.
Ao longo de sua carreira, Ziraldo publicou mais de cem livros como autor, colaborador ou ilustrador, muitos dos quais se tornaram best-sellers. Suas histórias alcançaram crianças em diversos países, sendo traduzidas para idiomas como espanhol, italiano, inglês, alemão e francês. Ziraldo faleceu em 6 de abril de 2024, aos 91 anos de idade, em sua casa no Rio de Janeiro, após anos de saúde debilitada em razão de acidentes vasculares cerebrais.
Fonte: Aventuras na História












