Paleo & Arqueologia

Mistério dos 5.200 buracos nos Andes peruanos é desvendado

Pesquisadores sugerem que o Monte Sierpe, conhecido como “Faixa de Buracos”, teve seu mistério desvendado; saiba detalhes da nova explicação

Por Gabriel Marin

Nos Andes do sul do Peru, uma formação misteriosa vem desafiando arqueólogos há quase 100 anos: uma longa faixa de milhares de buracos escavados com precisão em uma encosta árida. Conhecido como Monte Sierpe — ou “Faixa de Buracos” —, o sítio arqueológico se estende por cerca de 1,5 quilômetro acima do Vale do Pisco, contendo aproximadamente 5.200 depressões circulares, cada uma com até dois metros de largura e um metro de profundidade.
Durante décadas, o enigma alimentou teorias que iam desde rituais religiosos até especulações sobre civilizações perdidas e até “antigos astronautas”. Mas um novo estudo, publicado na revista Antiquity, traz uma interpretação muito mais concreta — e igualmente fascinante.

Segundo os pesquisadores, Monte Sierpe pode ter servido como um centro de comércio, armazenamento e registro, integrando um sistema administrativo sofisticado no final do período pré-hispânico. A pesquisa combinou mapeamento de alta resolução por drones com análises microscópicas de sedimentos, revelando que os buracos não foram escavados de forma aleatória: eles seguem padrões organizados em bloco, semelhantes aos quipos, os complexos dispositivos de cordas trançadas usados pelos povos andinos para contabilidade e administração. “Os blocos não são decorativos, mas refletem um sistema estruturado de agrupamento e contagem”, explicam os autores no estudo. “Monte Sierpe parece representar uma forma indígena engenhosa de registrar transações e organizar recursos”.

O local está situado no coração do antigo Reino de Chincha, uma das potências costeiras mais influentes entre 1000 e 1400 d.C. Com uma população estimada em mais de 100 mil habitantes, o reino era um importante centro de comércio marítimo, agricultura e produção artesanal, conectando as regiões costeiras e montanhosas por uma rede de rotas e trocas.

Análise
A análise de sedimentos coletados de vários buracos reforça essa hipótese. Foram encontrados grãos de pólen de milho e resíduos de junco, plantas diretamente associadas à economia local. Como o pólen de milho não se espalha facilmente pelo vento, os cientistas acreditam que os grãos foram colocados ali intencionalmente, talvez como parte de depósitos temporários de mercadorias durante feiras ou rituais de tributo. O junco, usado para confeccionar cestos, sugere que produtos poderiam ter sido armazenados em recipientes trançados dentro dos buracos.

Quando o Reino de Chincha foi incorporado ao Império Inca no século 15, Monte Sierpe pode ter assumido um papel administrativo dentro do sistema tributário inca, conhecido por sua precisão e controle de recursos. Pequenas variações no número de buracos por bloco podem representar níveis diferentes de contribuição das comunidades vizinhas.

Segundo o ‘Archaeology News’, ao contrário das interpretações místicas, os pesquisadores destacam que o sítio deve ser compreendido dentro de seu contexto cultural e histórico local. “Monte Sierpe não é um enigma alienígena, mas um testemunho da engenhosidade andina”, afirmam os autores. “É uma prova de como sociedades pré-colombianas organizaram a cooperação, o comércio e a memória coletiva sem o uso da escrita”.

Os resultados reforçam a complexidade das estruturas econômicas e administrativas andinas e mostram como antigas comunidades moldaram a paisagem para fins sociais e produtivos. Escavações futuras, cruzadas com o estudo de quipos preservados, podem revelar mais detalhes sobre como funcionava esse notável sistema de buracos — um registro literal, escavado na terra, da sofisticação das civilizações pré-hispânicas.

Fonte: Aventuras na História

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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