O mito da bala de prata de uma gestão ineficiente

Em 2025 li o livro de Howard Schultz, fundador da Starbucks. Quando o autor falava dos desafios que enfrentou, ele comentou que havia uma crença muito forte ao seu redor de que o sucesso viria a partir de inputs externos, como uma campanha revolucionária de marketing ou a aplicação de tecnologias de ponta. Entretanto, sua visão para os negócios aponta para outra direção e diz: “marcas autênticas emanam de tudo o que a empresa faz”. Howard argumenta que é impossível que seu café seja atraente e gere riqueza se não ocorrer avaliação interna de sua dinâmica antes de buscar respostas externas. Seria improvável que um agente ou ativo externos conseguissem qualquer sucesso sem uma autocrítica sobre seu próprio desempenho.
Essa visão é muito aplicável dentro da engenharia. Tomemos, como exemplo, a eficiência energética. Conversando com colegas engenheiros, identifico que existe uma tendência coletiva a acreditar que uma empresa eficiente só possui equipamentos novos e com tecnologia de ponta. E isso não é verdade. Essa bala de prata (investir em tecnologia para gastar menos) vira uma bala de festim se ignoramos a logística e os processos internos que efetivamente drenam o caixa. Não há dúvidas de que ativos mais novos consomem menos energia, mas e com relação às ações internas dentro do negócio existente? Como você está atuando para gerar eficiência energética dentro das instalações existentes?

Por exemplo, como está o processo de manutenção preventiva? Um motor de alto rendimento, com sistema automatizado de monitoramento de performance, falhará constantemente se a transmissão com polias estiver desalinhada. Uma quebra corretiva, para além do transtorno da troca do equipamento, ocorre de forma inesperada e paralisa a produção, gerando não somente um custo extra, mas uma receita menor. Não há tecnologia no mundo que salve qualquer negócio se o processo — como o de manutenção — for falho.
E está na mão do empresário corrigir esta situação para melhorar a eficiência energética de seu negócio. Sem grandes investimentos, sem conhecimentos avançados por trás. Somente gestão. Precisamos também falar sobre os custos da negligência. Se colocamos que uma manutenção inadequada (processo interno) dentro do seu cubículo é uma falha de gestão, o que dizer sobre ignorar regras que são abordadas e divulgadas de forma ampla, algumas até nacionalmente? Cito dois exemplos claros:
- Toda planta industrial é obrigada a trabalhar com um sistema elétrico que entrega um fator de potência mínimo de 0,92 (indutivo). Qualquer valor abaixo disso gera multas das concessionárias de energia que podem chegar a 30% da conta de energia do mês corrente. Não tem problema você não entender do que se trata; só tenha consciência de que a solução para este tipo de problema existe há mais de 70 anos no mercado e é de implantação simples;
- Existem diversas normas regulamentadoras (NRs) que determinam deveres e direitos aos empregadores para garantir um ambiente de trabalho seguro. Descumprimento destas regras implica advertências, multas, interdições ou, em alguns casos, ações criminais contra gestores.
Veja, estamos falando de conteúdo de inteligência empresarial básica, que é de conhecimento de vários profissionais que são formados todos os dias nas universidades. Neste cenário, despender dinheiro com este tipo de custo pode até ser uma decisão consciente do empresário, mas é um desperdício totalmente evitável. Evitar multas por descumprimento de NRs ou de regras institucionais (como de concessionárias de energia) não depende de consultorias, de coaches, de tecnologias de ponta. Também não é burocracia. É proteção de caixa oriunda de ações DE GESTÃO que geram valor a partir da aplicação da correta responsabilidade técnica.
Falemos sobre o financiamento interno da empresa. Existe fluxo de verba dentro do negócio; ele está sendo corretamente distribuído? A partir de ações que visem contornar as questões anteriores, gastos otimizados podem ser a fonte de recursos para, enfim, investir em modernizações que gerem valor efetivo para o empreendimento, sem necessidade de novo capital do dono. Em outras palavras: cuidados com desperdício energético (paradas por falta de manutenção, multas, consumo excessivo de energia) — que dependem inteiramente da gestão interna — liberam verba de custeio (OPEX) para financiar ações de melhoria.
O texto não tem o propósito de afirmar que as inovações tecnológicas são desnecessárias, longe disso. A questão é: nossos processos e gestão internos estão preparados para receber estes novos entrantes e aproveitá-los ao máximo? Ou vamos incorporá-los a velhos vícios de gestão e a roda continuará a funcionar como um quadrado? Grandes líderes não reclamam da falta de recursos; eles otimizam o que têm antes de qualquer outra ação. A eficiência energética é o teste final de competência do gestor. Como você está se saindo?











