Comportamento & Equilíbrio

Ser positivo o tempo todo também pode ser tóxico

Provavelmente ao querer muito uma coisa, você já deve ter ouvido de alguém ou falado para si mesmo aquela famosa frase: “Pense positivo. Se você pensar de forma positiva, vai acontecer”. Por mais que mentalizar coisas boas seja benéfico, trabalhar a positividade em todos os momentos da vida pode ser algo ruim e até tóxico.
De acordo com Vanessa Karam, psicóloga da Beneficência Portuguesa de São Paulo, o termo toxicidade da positividade realmente existe. Nele, a pessoa só desenvolve pensamentos positivos e acredita que só coisas boas vão acontecer com ela. Contudo, a especialista ressalta que isso é nocivo, já que pode gerar um despreparo para situações adversas da vida. “É esperado ter momentos positivos e negativos no nosso desenvolvimento. Isso significa que você está gerindo uma jornada saudável”.
A psicóloga Ana Suy Sesarino Kuss, professora do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz que a positividade em excesso está banalizada. “Às vezes você tem aquele discurso ‘good vibes’, de gratidão e tenta ao máximo se convencer daquilo, mas muitas vezes nem acredita naquelas ideias”.
Kuss afirma ainda que alguns modelos de atitudes positivas fogem da realidade e geram até frustração. “Se a pessoa rechaça determinada história ou situação, não se torna preparada para encarar os problemas de fato. Aí, quando sai algo que não era esperado, frustra-se muito”.

Como reconhecer a positividade tóxica?

Não é problema nenhum ter pensamentos bons em relação a coisas que você deseja ou situações do dia a dia, mas isso deve ser feito de maneira saudável. Quando as atitudes positivas viram uma obsessão e pressão para banir os pensamentos ruins, vale se preocupar.
O ideal, segundo Karam, é fazer uma pergunta-chave: como eu lido com pensamentos negativos? Outra ação é se perceber e tentar observar como é sua interação com outras pessoas — se você se sente inseguro, ansioso ou desorganizado. Por último, tentar enxergar e perceber o mundo e as ações que ocorrem nele. “Se eu me sinto segura e com repertório satisfatório, consigo existir no mundo real sem depender tanto de crenças (positivamente tóxicas ou negativas), no sentido que eu tenho repertório psíquico para existir no mundo real”, diz a psicóloga. “A forma como nós nos percebemos nas nossas relações pode inferir para que tenhamos mais ou menos coragem e disponibilidade para interagirmos, para tentarmos coisas novas”.
Com esses exercícios, é possível se dar conta que tudo bem determinada ação não ocorrer do jeito que você planejou e até mesmo dar errado.

(Deagreez/Istock)

Não confunda felicidade com positividade tóxica

Uma pessoa que está sempre feliz ou de bem com a vida pode até ter atitudes positivas, no entanto, ela pode lidar muito bem com uma vaga de emprego que não conquistou, por exemplo. Já a pessoa que tem a positividade tóxica não encara bem esses tipos de acontecimentos ou nem cogita que eles podem ocorrer.
O mais correto, segundo as especialistas, é saber trabalhar as expectativas. “Você pode ir confiante para uma entrevista de trabalho, mas não tente apostar tudo naquilo. O ideal é pensar também que, caso não passe, o que você pode fazer, como deve agir e se preparar para uma próxima”, diz Kuss.

Quando e como procurar ajuda?

Se diante de situações adversas do dia a dia e decisões importantes da vida você perceber que há muita cobrança (e dificilmente aceita o resultado negativo), é ideal e aconselhado procurar um profissional de saúde mental. Se os sintomas não são tratados logo no início, a positividade em excesso pode causar ansiedade e, em casos graves, transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
A psicoterapia sozinha pode ajudar nesse processo, mas quando não há sucesso nesse tipo de tratamento, um psiquiatra também pode acompanhar o caso e desenvolver uma linha de cuidado específica.

Fonte: UOL

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