Novo santuário marinho no Atlântico será um dos maiores do mundo

Baleias, tubarões, focas, milhões de aves marinhas e cerca de 300 humanos habitam as pequenas ilhas que formam Tristão da Cunha
As águas ao redor de uma das ilhas habitadas mais remotas do mundo, no meio do Oceano Atlântico Sul, deverão se tornar a quarta maior área marinha totalmente protegida do mundo, e a maior do Atlântico. Tristão da Cunha é um território britânico que fica a 3,7 mil quilômetros a leste da América do Sul e a mais de 2,5 mil quilômetros a oeste da África do Sul. Para viajar à ilha, é preciso pegar um barco na África do Sul, navegar por sete dias e, ao chegar ao local, “temos a impressão de estar no fim do mundo”, conta Jonathan Hall, chefe da Sociedade Real de Proteção de Aves (RSPB) da unidade de território ultramarino britânico.
Agora, esse arquipélago composto por quatro ilhas abrigará um santuário marinho que se estende por mais de 687 mil quilômetros quadrados, uma área quase três vezes maior do que a do Reino Unido. Recentemente, o governo de Tristão da Cunha anunciou que 90% das águas ao redor da cadeia de ilhas se tornarão uma “zona proibida”, na qual a pesca, a mineração e outras atividades extrativistas não serão permitidas.
Segundo os conservacionistas, essa proteção não apenas impulsionará o pequeno mercado de pesca de lagosta fora do santuário, como também protegerá os locais de forrageamento para as milhões de aves marinhas que vivem nas ilhas, como albatrozes-de-bico-amarelo e pinguins-de-penacho-amarelo, além do habitat de focas, tubarões e baleias.
A nova área protegida fará parte do Programa Blue Belt do Reino Unido que, até o momento, preservou quase sete milhões de quilômetros quadrados de ecossistemas marinhos em todo o mundo. O novo santuário é o resultado de uma colaboração entre os governos de Tristão da Cunha e do Reino Unido, e uma série de outros grupos conservacionistas, incluindo a RSPB, que atua na região há 20 anos, e a iniciativa Pristine Seas da National Geographic Society.

Cerca de 245 pessoas de ascendências escocesa, norte-americana, holandesa e italiana vivem no único vilarejo de Tristão, chamado Edimburgo dos Sete Mares. Descoberta pelo explorador português Tristão da Cunha em 1506, a ilha permaneceu inabitada até 1816, quando um destacamento britânico foi enviado para o local a fim de impedir que os franceses resgatassem o exilado imperador Napoleão da Ilha de Santa Helena, a 2,1 mil quilômetros ao norte.
Os descendentes desses marinheiros britânicos e muitos outros povoam a ilha ao longo dos anos, criando ovelhas, cultivando batatas e pescando lagosta. Embora os humanos sejam escassos, a vida selvagem é abundante em Tristão da Cunha, cujas populações de aves marinhas chegam a dezenas de milhões. Ao cair da tarde na ilha, “parece que o céu escureceu com fumaça preta à medida que os pássaros vão descendo”, conta Hall. “A escala de vida é simplesmente incrível”.
Durante uma expedição de 2017 para pesquisar o arquipélago, cientistas do projeto Pristine Seas da National Geographic também descobriram uma grande população de tubarões-azuis migratórios, uma espécie que sofre com a sobrepesca devido a suas nadadeiras. “Este é um local que possui um ecossistema ímpar e não pode ser encontrado em nenhum outro lugar”, afirma Enric Sala, explorador residente da National Geographic. Ele ressalta que é a única região em milhares de quilômetros com ecossistemas costeiros como florestas de algas e é um berçário essencial para tubarões-azuis.
Ave marinha sobrevoa a Ilha de Tristão da Cunha (Foto de capa: Dan Myers/National Geographic Pristine Seas)
Fonte: National Geographic Brasil