Empatia é mais difícil com quem não se parece conosco

Empatia tem o significado de se colocar no lugar do outro
Dezembro é uma época propícia para sentir empatia, momento em que muita gente lembra do sofrimento do outro e, movido pelo espírito natalino, decide ser solidário. No entanto, a empatia não deve ser colocada em prática apenas em datas festivas, mas é um processo que pode ser adquirido, desenvolvido e melhorado a cada dia. “O primeiro passo é lidar melhor com os nossos sentimentos para depois aprender a lidar com o do outro”, diz Fabrício Guimarães, psicólogo e membro do Núcleo de Gênero e Psicologia Clínica e Cultura do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (IP/UnB).
Para o especialista, a empatia ainda é bastante seletiva porque é mais fácil aceitar a dor do outro quando ocorre alguma identificação. “É como se estivéssemos aceitando a nós mesmos, por isso é mais fácil ter empatia por aqueles com o qual nos identificamos”, comenta. Aliás, já existe uma linha na psicologia que critica a relação que temos com a empatia, justamente por ainda ser tão seletiva. “Também é importante não confundir ser empático com autopromoção, pois existe um modismo em torno disso”, critica Guimarães.
Empatia é a capacidade de compartilhar e entender as emoções dos outros. “Alguns autores dividem a empatia em afetiva e cognitiva”, explica a psicóloga Graça Maria Ramos de Oliveira, supervisora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria (IPq), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
A afetiva refere-se às pessoas que sentem imensamente a dor do outro como se fosse sua; e a cognitiva seria a capacidade de entender as emoções dos outros, como profissionais que têm a capacidade de entender as emoções do outro de forma racional, mas sem envolver-se de maneira visceral.
Para Guimarães, a empatia é a capacidade de enxergar a situação de acordo com a perspectiva do outro e não é apenas imaginando o que ele está sentindo. No entanto, o psicólogo alerta que é fundamental ter equilíbrio, ou seja, colocar-se no lugar do outro e conseguir voltar para o seu próprio eu. “A empatia só é saudável quando preserva a capacidade de distinguir o que é meu e o que é o do outro”, afirma. Caso contrário, pode se tornar um estresse por empatia, em que a pessoa acaba tendo um desgaste físico e emocional por lidar com a dor do outro. E até em uma fase seguinte entrar em uma situação de fadiga provocada pela exaustação e traumatização em decorrência do sofrimento alheio.
De acordo com Marília Gonçalves, psicóloga e professora adjunta no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o comportamento seletivo em relação à empatia pode ser fruto do preconceito ultra-arraigado nas culturas e do medo daquilo que é diferente de si mesmo. “O respeito advindo da capacidade empática, em meio a uma sociedade competitiva, em que o importante é superar o outro, é um exercício psicológico de máxima dificuldade dado que há que se enfrentar com os preceitos e normas da sociedade baseados em valores que nos proporcionam reconhecimento e pertencimento social”, detalha.

Por isso, sentir empatia ainda é um desafio. Na teoria, soa fácil e tranquilo, porém, na prática, nos faz entrar em alguns conflitos pessoais. “Fortes sentimentos de empatia pelos membros de nossa própria família ou de nosso próprio grupo social podem levar a ódio ou à agressão contra aqueles que consideramos uma ameaça”, alerta Oliveira. Por isso, este é um processo que merece ser treinado, afinal a empatia permite que as pessoas construam conexões sociais com os outros. E ao entender o que as pessoas estão pensando e sentindo, somos capazes de responder adequadamente em situações sociais.
Além disso, Oliveira destaca que Helen Riess, professora adjunta de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, tem dedicado suas pesquisas e estudos sobre empatia e enfatiza a importância de os pais ensinarem seus filhos a terem comportamentos mais empáticos. “Para ela todos nós nascemos com tendência a sermos empáticos e isso pode ser potencializado e ensinado no ambiente”.
Fonte: UOL