Comportamento & Equilíbrio

Sofrimento na infância pode impactar vida adulta

O trauma psicológico é um dano à mente que ocorre como resultado de um evento angustiante

É inegável que a infância deixa marcas profundas nas pessoas. Sofrimentos devido a abuso sexual, psicológico ou físico, bullying, experiências de rejeição, abandono, humilhação e situações de vulnerabilidade persistem ao longo da vida e podem causar ainda mais problemas na fase adulta. Essas dificuldades enfrentadas quando se é criança dão origem a propensão a dívidas, medo de falar em público, insegurança, baixa autoestima, agressividade, intolerância à frustração, tendência a se envolver com parceiros abusivos e por aí vai.
A infância é um período crucial para o desenvolvimento emocional do indivíduo, por ser uma fase de constante aprendizado. É nessa etapa que construímos a nossa visão de mundo, das pessoas e de nós mesmos. A personalidade está em formação, e as relações e a bagagem acumulada são fundamentais para ela. Podemos desenvolver um trauma em qualquer momento da vida, mas é na infância que ele tem maior impacto e tende a causar mais danos ao psiquismo.
É preciso lembrar, no entanto, que o que é marcante ou doloroso para uma pessoa não surte necessariamente o mesmo efeito em outra. Além disso, existem vários fatores — contexto social, amigos, ambiente escolar e as lições adquiridas ao longo da vida — que interferem em maior ou menor grau naquilo que foi vivido quando criança.
O fato é que, para muita gente adulta, as lembranças ainda machucam e interferem em aspectos importantes da vida, impedindo-as de ter bons relacionamentos e até de conquistar objetivos. Para superar ou, no mínimo, aprender a lidar melhor com essas memórias e seus resultados, uma boa ideia é se dedicar a algumas práticas de autoconhecimento.
Mais do que se apegar às lembranças negativas da época de criança, é preciso ter em mente que diversas vivências compõem quem somos e podem dar um sentido diferente ao que aconteceu. Como inspiração, cabe começar esse processo com a célebre frase do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre (1905-1980): “O importante não é aquilo que fizeram conosco, mas o que podemos fazer com o que os outros fizeram de nós”. Quando criança, você não tinha consciência disso. Hoje, pode ressignificar o que passou. Todo mundo é capaz de fazer escolhas e se responsabilizar pela vida que deseja ter. Por mais que ela tenha sido afetada, é possível reconstruí-la. Sentir-se inferiorizado depende da imagem que a pessoa tem de si mesma e das crenças que alimenta a respeito de suas incapacidades — e não apenas da maneira como os outros a veem.
Listar todas as qualidades que têm atualmente, em vez de se ater aos prováveis defeitos que lhe atribuíram no passado, pode melhorar a autoimagem e resultar em uma atitude mais positiva diante da vida. Essa lista deve ser elaborada aos poucos. À medida que a pessoa vai percebendo que é dotada de virtudes e capacidades, naturalmente passa a aceitar a si própria.
Não são poucas as pessoas que somente na idade adulta se dão conta de quanto os familiares são tóxicos. Romper laços ou buscar o diálogo como forma de ressignificar os relacionamentos é uma decisão que compete a cada um. Nessas circunstâncias, o convívio com os amigos pode ser uma boa estratégia para superar as assombrações do passado. Família não pode ser escolhida, mas o círculo de amizades, sim.
Essas relações podem ajudar a fortalecer a autoestima e a criar um sentimento de pertencimento até então não experimentado. Uma vez que o indivíduo se vê acolhido, amado e respeitado, também se sente apto a estabelecer uma outra forma de lidar com as questões de sua vida e traçar estratégias para enfrentar suas dificuldades.
Caso sinta que, por maiores e melhores que sejam seus recursos emocionais, é complicado ressignificar e superar o que houve na sua infância, procure o auxílio profissional de um psicoterapeuta. Você não tem que aguentar as consequências sozinho(a). Por meio de uma terapia, poderá entender melhor a origem de seu sofrimento, aprender formas de questionar seus padrões de comportamento e pensamento e construir uma nova visão sobre si e sobre o mundo.

Fonte: UOL

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