Nossa mente pode gerar doenças
Entenda como funciona a somatização
Já ouviu falar em somatização? Dependendo do nosso estado emocional e psíquico, o organismo pode gerar reações físicas como dores ou doenças, em um processo que é conhecido como somatização — quando isso ocorre com frequência, passa a ser chamado de transtorno de somatização, quando os sintomas passam a acontecer com frequência.
Quando o corpo fala, ele somatiza. Assim, o medo vira um batimento cardíaco, a preocupação vira uma dor de cabeça e é típico que a pessoa já não perceba suas emoções muito bem. Existem outros casos em que a pessoa pode vir a somatizar também, como quando a pessoa sofre antecipadamente por uma frustração futura ou em situações difíceis como um adoecimento na família, separação, morte de um ente querido, perda do emprego, dificuldades financeiras ou mesmo o estresse do cotidiano. A somatização irá substituir os processos psíquicos desses sentimentos para desencadear algum problema orgânico.
Como resultados mais comuns estão os seguintes sintomas: queda do sistema imunológico; dores no corpo, no pescoço e dores nas costas; problemas articulares; enxaquecas; formigamento nos braços e pernas; zumbido no ouvido; sensibilidade à luz e a cheiros; insônia; problemas cardiorrespiratórios, dermatológicos (principalmente as dermatites) e do sistema digestório (azia, refluxo, diarreia), respiratórios (asma e bronquite) e alergias em geral.
Este transtorno causa muita angústia e sofrimento, interferindo negativamente na performance pessoal, social, acadêmica e profissional, visto que a pessoa investe muito tempo tentando encontrar as causas da sua doença, que é de fator emocional e não orgânica.
Normalmente quem somatiza percebe os sinais corporais, mas não se dá conta do processo mental. Uma pessoa que passa por uma situação em que sente medo e por isso seu estômago está contraído, julga que está com algum problema no estômago e tem uma consciência muito frágil de que ele está vivendo um medo que ganhou uma expressão corporal. É característico que haja uma espécie de incompreensão de quais são as emoções envolvidas quando a pessoa somatiza.
Todavia é possível identificar quando uma dor física é fruto de uma emoção ou sentimento, ou seja, é possível encontrar um sentido psicológico para aquela dor que começou dias após o paciente perder o emprego, ou uma semana após saber que seu pai se encontra gravemente enfermo, por exemplo. Então, quando os médicos e exames não conseguem encontrar a causa da dor ou doença, o profissional de saúde mental pode descobrir se o foco está na psique do indivíduo.
Acompanhar um ente querido com transtorno de sintomas somáticos pode ser muito difícil. A incapacidade física pode fazer com que a pessoa seja dependente e precise de cuidados físicos extras e apoio emocional que podem esgotar os cuidadores e causar estresse nas famílias e nos relacionamentos. Os sintomas causam sofrimento muito real para a pessoa e frases como “fique tranquilo, você não tem nada grave” frequentemente não são úteis. Um caminho pode ser incentivar o ente querido a considerar a possibilidade de um encaminhamento de saúde mental para aprender maneiras de lidar com a reação aos sintomas e a qualquer incapacidade que ela cause, independentemente da origem do sintoma.
Não é incomum pessoas associarem a somatização à hipocondria, mas são problemas diferentes. A segunda ocorre quando não existe um problema físico, mas a pessoa acredita que está doente, se queixa de alguma doença, faz exames, consulta médicos e, diante de qualquer negativa de doença, a pessoa não acredita e fica o tempo todo investigando causas para um problema que na verdade é psiquiátrico, ou seja, de ordem emocional. O indivíduo se julga doente e vai criando imaginariamente seus sintomas.
Não há um tratamento com medicamentos específicos para a somatização. Mas como até 90% das pessoas com transtorno de sintomas somáticos também apresentam o diagnóstico de depressão ou ansiedade, medicamentos para essas doenças são frequentemente utilizados. Por vezes ioga, massagem, relaxamento, meditação podem auxiliar e tendem a ser bem aceitos pelos pacientes.
O melhor que podemos ter em relação ao nosso corpo é mantê-lo com saúde e, ao mesmo tempo, uma mente e um psiquismo em condições de trabalhar as nossas emoções. Precisamos saber quando estamos com medo, com raiva ou com angústia, por exemplo, para pouparmos o nosso corpo e manifestar essas reações no lugar da nossa percepção, consciência e compreensão.
Fonte: UOL