Comportamento & Equilíbrio

Seu amigo tem ciúmes de você?

Saiba por que pessoas monopolizam relações

O que pode explicar o comportamento de alguém que prejudica (com fofocas, intrigas) a relação de outras duas pessoas para se manter como a melhor amiga/confidente de uma? Ou que busca informações “exclusivas” sobre com quem se relaciona, antes que se espalhem, para depois se vangloriar, por ter sido a primeira a ser avisada, ou a alertar e ajudar?
Em uníssono, os especialistas que estudam e atendem no dia a dia casos comportamentais complexos, dos mais variados, concordam que, embora não existam regras quando se trata de subjetividade, situações como as exemplificadas sugerem que indivíduos que agem dessa forma estão em busca de atenção e reconhecimento por alguma falta ou incômodo emocional.
“Excluir rivais para monopolizar relações pode trazer a ilusão de que se elimina quaisquer sentimentos difíceis de se lidar, como ciúmes, inveja e baixa autoestima. Também tem a ver com necessidades de comprovação e disputa de afeto e aceitação, pois há muita insegurança de não atender expectativas e ser rejeitado pelas pessoas do convívio no qual está inserido”, aponta Marli Cunha, psicóloga clínica e hospitalar do Hospital Casa de Saúde Guarujá (HCSG).

Pode começar quando criança e piorar
Algumas pessoas, por experiências de exclusão ou rejeição na infância, principalmente pelos próprios pais, acabam utilizando a partir daí mecanismos de defesa para não se sentirem de fora. Apresentam “dificuldades de triangulação”. “Então, numa relação a três, com amigos, irmãos, buscam a exclusão de um deles para garantir que não sejam elas excluídas”, esclarece Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista do Meniá Centro de Prevenção, em São Paulo.
O problema por trás desse recurso para obter destaque e atenção e assim apaziguar sentimentos negativos e alcançar um equilíbrio interno é que se sua utilização for muito recorrente acaba por estabelecer também um padrão comportamental e de pensamento vicioso e socialmente reprovável. Com o tempo, essas pessoas podem buscar aprovação por meio de status e ficar egocêntricas ou, para se satisfazerem, seduzir e prejudicar os outros.
São características que se relacionam também com oportunismo e mau-caratismo. “Mas vai depender dos sentimentos envolvidos e de como essa pessoa utiliza as informações, se visa ganhos secundários e faz isso com consciência. Mas, em geral, é involuntário, porque está buscando excesso de atenção”, comenta Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e da Associação Americana de Psiquiatria (APA).

Numa relação a três, com amigos, irmãos, pessoas assim buscam a exclusão de um deles para garantir que não sejam elas as excluídas (Foto: iStock)

É preciso tomar algum cuidado?
Se as atitudes quase se confundem com a personalidade, pode ser que por trás haja algum transtorno sério, como narcisista, histriônico e Borderline, em que a obsessão por notoriedade é uma das características marcantes e que compartilham, assim como instabilidade de humor e impulsividade, afetando a forma de pensar, perceber o mundo e se relacionar com os outros.
Nessas condições, se a pessoa cruzar com alguém que questione seu comportamento de forma inesperada, que se comporte exatamente igual a ela ou tenha uma presença tão marcante e que sobressaia a sua, a situação pode se agravar e afetar os dois lados. “Para o patológico, atenção é vital e sua falta pode significar até um final trágico”, afirma Leide Batista psicóloga pela Faculdade Castro Alves e com experiência pelo Hospital da Cidade (HC), em Salvador (BA).
Traduzindo, como para essa mente conturbada tudo o que esbarra em suas questões mal resolvidas é encarado como ameaça, ela pode tentar se defender e, às vezes, até com atitudes agressivas e vingativas, ainda mais se envolvida em uma discussão, acusada e desmascarada publicamente ou ignorada. Se por fim suas ações não obtiverem êxito e seu sofrimento não for revertido e até aumentar, pode levá-la à depressão e, ao extremo, suicídio, adverte Scocca.

‘Conheço alguém assim’: o que fazer?
Sabendo de tudo isso, se você reconhece alguém que se encaixa nesse perfil, ainda mais sendo muito próximo, o melhor a fazer é tentar ajudá-lo, principalmente não havendo quem o faça, pois com os anos a tendência é piorar. De que maneira? Incentivando com educação, cautela e num momento tranquilo a procurar por um especialista (psicólogo/psiquiatra) que possa investigar, diagnosticar e tratar traumas, conflitos, ansiedade e transtornos de personalidade.
“Ao buscar estabelecer limites, devemos lidar de forma neutra e não confrontar, ainda mais em família, pelo grau de envolvimento afetivo e possibilidade de conflito direto”, informa Cunha, acrescentando que sua sugestão ainda pode ser adaptada para ambientes corporativos, com a vantagem de neles haver setores próprios para lidar com as diferenças individuais, como RH. Nesse contexto, não hesite em pedir ajuda, denunciar abusos e solicitar transferências de área.
Agora, não obtendo sucesso em nenhuma das iniciativas e mais, percebendo falta de caráter, manipulações, reações nocivas, constrangimentos e prejuízos nas relações que só aumentam, o melhor é se afastar ou estabelecer distanciamento afetivo. “O transtorno de personalidade narcisista tem algumas características em comum com a psicopatia, como a ausência de empatia. Não é fácil lidar, então a gente precisa se precaver e isso inclui não confiar, dividir o menos possível de coisas, não entrar em disputa e deixar que pensem o que quiser”, conclui Marina Vasconcellos, psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Fonte: UOL

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