Ideias de pseudociência, por que é tão fácil vendê-las em nosso País? — Parte VI

Não há vestígio de escrúpulo ao se vender uma ideia de pseudociência que trata o vínculo afetivo como um condicionamento clássico

Faz-se necessário sublinhar mais essa ideia pseudocientífica que tem torturado tantas Crianças. Para garantir a cobertura “legalizada” de crimes de violação do corpo da Criança, alguém teve a ideia de detonar a voz sofrida e já traumatizada que descreve essas violações. Criou-se uma nova figura, com ares de “especialista”, chamada de Reprogramadora. Como se robô fosse, a Criança é desacreditada ativamente por essa figura, que manipula a descrição feita pela pequena vítima, e tenta mudar a realidade descrita da violência sexual ou da violência física, sofridas. Como no campo da tecnologia, como se fosse possível contar em algoritmos, a Criança sofre um forte desmentido, conceito importante de Ferenczi.

Parece que, para essas pessoas, a criança é só uma “evolução” (será que podemos considerar como evolução?) dos cachorrinhos do Pavlov. Esse fisiologista russo, nascido em 1849, fez experimentos com cachorros para demonstrar o condicionamento clássico. Para tanto ele associou o som de uma sineta à oferta de carne para os cachorros que estavam com fome por algumas horas. Assim, ao repetir muitas vezes essa experiência, observou que os cachorros aprendiam que, ao som da sineta, a carne apareceria, o que estimulava a salivação nessa espera. Ele, então, decidiu medir o poder da associação do estímulo da sineta na salivação antecedendo a oferta de carne. Afirmou a premissa de que se pode substituir um estímulo fisiológico por outro obtendo-se a mesma resposta, a salivação. Essa descoberta de Ivan Pavlov transitou pela Psicologia que dava seus primeiros passos, e suscitou um Estudo de outro fisiologista empolgado com esse resultado, Skinner, que construiu uma tese sobre o Condicionamento Operante, demonstrada através do que montou como ambiência dessa operacionalidade. A Gaiola de Skinner passou a ser estudada em laboratórios de Psicologia, com a utilização de ratinhos de laboratório. Os ratinhos aprendiam a beber água abaixando uma chavezinha para que fosse liberada uma gotinha de água. O experimento consistia em fazer com que ele aprendesse que se no início a gotinha aparecia com uma vez que pressionava o bebedouro, ele era condicionado a seguir uma operação em que passava a ter que apertar duas vezes, depois três vezes, e assim sucessivamente. Também podia ser mais complexo e para que a água aparecesse, poderia ser exigido dele que passasse por um túnel e fizesse um percurso determinado pelo seu operador.

Hoje, vemos renascer a crença que Crianças, cachorros e ratinhos são parecidos. A “recompensa”, a carne, a gotinha de água, ou de aceitação, só acontece se cumprir e incorporar aquela “nova verdade” que lhe está sendo imposta por um adulto cheio de autoridade.

Gardner, aquele médico pedófilo que inventou o termo alienação parental, sem nenhuma comprovação científica, propôs que, para calar as mães que insistem em denunciar abusos, deve-se usar a terapia da ameaça. Escreveu, está em seus livros autopublicados. Ameaçar a mãe com a Perda da Guarda de seu filho ou filha, tem sido amplamente utilizado. Mas, assim como a tese da salivação ao som da sineta, evoluiu para a Gaiola de Skinner, com inúmeras outras possibilidades, a terapia da ameaça se desdobrou em “Reprogramação” para efetuar o que foi chamado de “Revinculação”. Não há vestígio de escrúpulo ao se vender uma ideia de pseudociência que trata o vínculo afetivo como um condicionamento clássico. É preciso estudar. Vínculo é afeto e afeto não é passível de sinetas ou bebedouros. Não se atinge o afeto por afirmação repetida de palavras. Será que dá para entender? Quem espalhou essas ideias de pseudociência e se alojou explorando psicologicamente Crianças vítimas, e explorando financeiramente suas mães, até aniquilá-las?

E por que então tanto afinco em torturar uma Criança tentando mudar as imagens mnêmicas sensoriais que ela guarda? Essa prática não passa de um método enlouquecedor de Crianças que ousaram denunciar o “papai”. Parece que continuamos na idade da pedra lascada. Crianças não têm valor.
Gostaria de deixar uma pergunta: como explicar o aumento do Feminicídio, o aumento da violência física contra a Mulher e a Criança, como explicar os estupros, que, mesmo subnotificados, têm números alarmantes?
Talvez, quem sabe, “Reprogramar” toda a sociedade brasileira convencendo-a de que Feminicídio, Espancamento de Mulher e Criança, Estupro de Vulnerável, é tudo fruto da imaginação, como insistem em fazer com a Criança que denuncia o “papai bonzinho”.

P.S. Não estamos falando dos homens, estamos nos referindo aos predadores domésticos, às vezes mulheres também, de quem somos cúmplices na omissão.