Lobos

Enquanto ela se aquecia na beira do fogo, um animal feroz avançou repentinamente, para atacá-la

Uma respiração ofegante podia ser ouvida a vários metros de distância. Uma garota corria por entre planícies secas. O chão de terra e pedras soltas a fazia escorregar com frequência, e isso a atrasava no caminho do seu objetivo. Ela trajava uma calça jeans e um tênis surrado. O seu cabelo era escuro e sua face estava coberta por uma máscara. Ela corria como se fugisse de alguém, ou, de alguma coisa. O pôr do sol se findou e a penumbra recaiu sobre ela, de um jeito assustador. Em meio ao nada, ela buscou um lugar menos aberto para se proteger. Com a noite, veio o frio intenso. Ela fez uma fogueira com os poucos galhos secos que encontrou, oriundos de uma rara vegetação rasteira que cobria a região.

Além do vento, outros sons a importunavam. Ela mal conseguia relaxar, e a todo instante se virava para os lados. Enquanto ela se aquecia na beira do fogo, um animal feroz avançou repentinamente, para atacá-la. Suas presas agarraram o seu braço. A jovem caiu no chão e tentou se defender com um pedaço de madeira, que estava ao seu lado. A força daquele lobo era brutal. No entanto, ela conseguiu acertá-lo com uma forte pancada na cabeça. O lobo caiu atordoado, mas mesmo assim não desistiu da sua caça. Ele a olhava nos olhos. Ela tentou se afastar, rastejando pouco a pouco para trás, mas a cada metro que ela retornava, ele avançava, analisando cada movimento.

Sem ter mais para onde fugir, a garota se levantou, com a madeira nas mãos, logo percebeu que uma alcateia a cercava. Eram sete lobos ao seu redor. Porém, o medo lhe deu coragem para permanecer até o fim. Ela gritou o mais alto que pôde. O silêncio foi o único retorno em meio a escuridão. Quando acreditou que seria o seu fim, ela foi surpreendida pela ação de um homem, que acertou um dos lobos com um tiro e se posicionou ao lado dela, diante das feras.

Ambos eram guerreiros natos. Eles se entreolharam e sentiram uma energia similar e atraente. Então a luta se iniciou entre a garota, o homem e os lobos. A dupla conseguiu matar vários deles. Porém, para cada morte, surgiam mais animais sedentos por sangue. Até que eles ficaram sem munição, passando a lutar somente com pedaços de madeira e algumas facas que traziam consigo. Eles até chegaram a pensar que não havia mais nada a fazer, senão a entrega aos lobos. A garota perdeu as forças e caiu ao chão, lutando com três lobos ao mesmo tempo. Ele, por sua vez, não conseguia chegar até ela, para ajudar.

Ambos estavam feridos. E quando, já sem esperanças, diante da certeza da morte, foram salvos de uma maneira surpreendente por vários homens montados em seus cavalos, que se aproximaram atirando e afugentando os lobos. Seus corpos sangravam e as feridas eram intensas. Porém, eles se olharam mutuamente, com gratidão. Na sequência, os homens se aproximaram e os rodearam com seus cavalos.

Livro: O Medo
Palavras: 764
Conto: Lobos
Arte: Thaís Alves
— É a princesa! Levem-na daqui. Os seus pais a procuram. — Ordenou um homem, trajando vestes de couro.
— E quanto a ele, senhor?
— Podem matar. É o líder do Clã do Sul.
Sem maiores questionamentos, o homem atirou no peito do guerreiro que estava ferido ao lado da garota. Ele a olhou pela última vez.
— Seus tolos, ele me salvou! Não podem matá-lo! — gritou ela, ao tentar se levantar do chão.
— Princesa, ele é nosso inimigo! Seus pais nos apoiarão tal decisão.

Sem ouvir as ordens da garota, o soldado atirou novamente em seu inimigo, sem ao menos lhe dar a chance de uma defesa justa. A garota se jogou sobre ele, indignada com a ação brutal.
— É por isso que fugi. Vocês não irão me levar! — ela exclamou, ao tentar se afastar, com seu corpo sangrando.
Outro cavaleiro desceu do animal e a tomou com brutalidade. Amarrou as suas mãos e a colocou em cima do cavalo. E seguiram em direção ao norte. Todavia, ainda naquela madrugada, foram cercados novamente por lobos, e desta vez não eram apenas sete, mas sim vários grupos enfurecidos, que se uniram para uma vingança.

Os olhos dos animais estavam avermelhados e seus instintos, sedentos por sangue. Eles os cercaram e atacaram seus cavalos. Muitos foram mortos, muitos tentaram resistir. Os homens ficaram sem munição e os lobos se multiplicavam. A carnificina foi cruel, e não houve sobreviventes. A princesa morreu, e, desta vez ela não fez questão de lutar. Ela analisou as mortes ao seu redor e respirou, pela última vez, com um leve sorriso nos lábios.
