Por que o novo vírus da gripe encontrado em porcos tem potencial pandêmico

Microrganismo está sendo chamado de variante G4 e é especialmente preocupante porque combina características de cepas que atingem aves e mamíferos
Pesquisadores da China Agricultural University, em Pequim, descobriram um novo vírus da gripe com potencial pandêmico, segundo um estudo publicado na segunda-feira (29) no PNAS. O microrganismo, que foi encontrado em porcos, tem características de diferentes linhagens de vírus e tem “todas as características essenciais de um candidato a vírus pandêmico”, relata o artigo.
Quando várias cepas de vírus influenza infectam o mesmo porco, elas podem facilmente “trocar” genes entre si, um processo conhecido como “rearranjo” — e os cientistas acreditam que foi isso que aconteceu. O microrganismo é uma mistura única de três linhagens: uma semelhante às cepas encontradas em aves europeias e asiáticas; a cepa H1N1 que causou a pandemia de 2009; e uma cepa norte-americana do H1N1 que possui genes de vírus influenza aviário, humano e suíno.
O microrganismo, que está sendo chamado de variante G4, é especialmente preocupante porque seu núcleo é semelhante ao do vírus da gripe aviária, ao qual os humanos não têm imunidade, com partes de cepas que atingem mamíferos. De acordo com os pesquisadores, a inclusão de genes do vírus H1N1 que causou a pandemia de 2009 no microrganismo aumenta o potencial do vírus “saltar” entre espécies.
“A partir dos dados apresentados, parece que este é um vírus da gripe suína que está prestes a aparecer em humanos”, disse Edward Holmes, biólogo evolucionário da Universidade de Sydney, na Austrália, que não participou do estudo, em entrevista à Science. “Claramente esta situação precisa ser monitorada com muita atenção”.
Como explicam os pesquisadores no estudo, os moradores de áreas rurais densamente povoadas estão especialmente vulneráveis, pois têm mais contato direto com animais que possuem esses microrganismos. Além disso, consumir carne aumenta as chances deste “salto” entre espécies.
Segundo os especialistas, estudos em laboratório mostram que o G4 foi capaz de infectar e se replicar em células epiteliais comuns nas vias aéreas humanas. Além disso, os pesquisadores descobriram anticorpos para a cepa G4 em 4,4% das 230 pessoas estudadas em uma pesquisa domiciliar — e a taxa mais que dobrou em pessoas que trabalham diretamente com suínos.
“Precisamos ser vigilantes sobre outras ameaças de doenças infecciosas, mesmo enquanto a [pandemia da] Covid-19 está acontecendo”, afirmou Martha Nelson, bióloga do Fogarty International Center dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, que não participou da pesquisa, à Science. “Os vírus não têm interesse em saber se já estamos tendo outra pandemia”.
Fonte: Revista Galileu