Comportamento & Equilíbrio

As aparências enganam, um serial estuprador — Parte IV

O psicopata é o perverso que não sente empatia, não tem compaixão e tem seu gozo supremo na dominação que esmaga o outro. E as aparências continuam gozando de grande credibilidade

Uma pergunta não quer calar: por que nenhuma palavra sobre o caso do Professor de Direito de Família acusado de estupros em série? Por quê? Será que o Instituto Nacional a que ele pertencia e do qual era Presidente da Seção de seu Estado, tem tamanha força para impedir que a sociedade perca a oportunidade de tomar conhecimento de, pelo menos um exemplo, de dissimulação bem-sucedida por uns 12 anos? Não podemos precisar o tempo e, menos ainda, o número de vítimas desse êxito do professor. Talvez desde sempre. Talvez sejam centenas.
Alguns pensariam que é o “segredo de justiça”, que determina a preservação de professor e vítimas, que vai proteger cada vítima. Mas por que há desigualdade nessa regra? Essa semana foi ampla a divulgação das imagens de uma “serial killer”. É uma raridade ser uma assassina em série, sabemos, mas esta estudante de Direito — curso que ocupa espaço midiático ultimamente — teve sua vida escancarada. Talvez, justamente, por ser mulher? Mas a ausência total de preservação, sugere que há diferenças e privilégios. Segredo de Justiça para uns, exposição aberta para outros, ou outras.

(Foto: Freepik)

Importante para toda a Sociedade saber quais pessoas são capazes de cometer atrocidades, suas fotos serão divulgadas. No Estado de Alagoas agora é Lei. No Estado vizinho de Pernambuco, uma mulher que levava a filha criança no banco de trás do carro, foi parada numa blitz e o PM a levou para um “quartinho” no Posto da PM e a estuprou. Com a anuência silenciosa de seus colegas. Mas o corporativismo seguiu. Quando foi à delegacia denunciar, a colocaram em contato com a Corregedoria, que lhe mostrou fotos dos policiais possíveis do cometimento do crime, ela reconheceu seu agressor. Mas nada foi feito, ou comprometido com ela. Apenas a retirada desses policiais do serviço das ruas, passando para o setor administrativo. E deixando a vítima desamparada. Ou alguém teria sossego, sabendo que seu agressor, e companheiros, tem toda a possibilidade de achar e silenciar a denunciante. Quem estupra, mata. Vestido de Policial Militar, em exercício de seu trabalho, fiscalizar as vias públicas para promover a segurança pública, usando uma instalação do Posto da Polícia Militar, é demonstrativo do tão à vontade está para realizar sua crueldade. Impunidade garantida em escalas.

(Foto: Depositphotos)

Assim também o desembargador de Estado do Sul, que, numa audiência de caso de Estupro de Vulnerável, menina de 12 anos, resolve fazer discurso para expor sua avaliação das mulheres: “a mulherada está louca, só está querendo um elogio, uma piscada de olho, elas é que estão assediando, atacando”. Foi gravado em áudio e vídeo. E ele desinibido. Já tinha sido denunciado por assediar suas secretárias de gabinete, razão pela qual há uma regra entre elas, nunca ficar sozinha com o desembargador, só o atendem em dupla, depois que, inclusive, uma vez que tinha pedido um livro no alto da estante, a moça que subiu para pegar levou uma mordida no glúteo. As denúncias chegaram ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). E, seguia julgando, em 2.ª Instância. Julgando? O discurso da “mulherada” assediadora, tarada, quando havia uma menina de 12 anos estuprada, pedindo proteção.

(Foto: Freepik)

É muito difícil lidar com um psicopata. Refiro-me não ao genérico que hoje foi disseminado como definição para os portadores de distúrbios mentais. O psicopata é o perverso que não sente empatia, não tem compaixão e tem seu gozo supremo na dominação que esmaga o outro. É o prazer pela aniquilação do outro. Não é sexual. É uma busca incessante de Poder cada vez mais absoluto. A Pulsão de Apoderamento é compulsiva, se repete sempre no mesmo modus operandi. É espantoso como agentes peritos e peritas afirmam que aquele homem não abusou a criança. E isso é aceito. Quando é uma denúncia feita pela mãe, lhe é pedido que apresente provas materiais. Mas a voz masculina prescinde de comprovação. A lei de alienação parental que dá respaldo aos genitores que praticam violência sexual ou física, é uma lei testosterona que convence a perícia de que não houve abuso. Como se pode afirmar isso?

Aliás, um crime que não é provado não quer dizer que ele não tenha acontecido. Ou o criminoso é muito competente, ou os avaliadores e suas avaliações são precários e falhos. Afinal, quem matou PC Farias e sua namorada? A resposta à época, foi que um matou o outro, ao mesmo tempo, ele matou a namorada e a namorada o matou. Então, se não se provou a autoria do assassinato dos dois, isso quer dizer que PC Farias e a namorada não morreram? Não houve crime, então? Essa é uma ilógica maneira de avaliar e induzir o julgamento, frequente nas violências contra mulheres e crianças.
E as aparências continuam gozando de grande credibilidade.

Ana Maria Iencarelli

Ana Maria Iencarelli

Psicanalista Clínica, especializada no atendimento a Crianças e Adolescentes. Presidente da ONG Vozes de Anjos.

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