Seus dados no Google
Como a empresa lucra com as suas pesquisas na internet
No final de agosto de 2010, Andrew Willis, jornalista americano, escreveu em fórum da internet: “Se você não está pagando [pelo serviço], você não é o cliente; você é o produto”. A frase se tornou memorável e continua sendo tema de muitos debates nas mais diversas faculdades depois de quase dez anos.
A frase começa a fazer mais sentido ao pensarmos na forma como o Google ganha dinheiro, visto que seus produtos mais utilizados são gratuitos: a ferramenta de buscas Google Search, o YouTube — serviço de compartilhamento de vídeos — o sistema operacional Android, o serviço de e-mail Gmail, os mapas oferecidos pelo Google Maps e Waze (empresa adquirida pelo Google em 2013) e o navegador Google Chrome. A escala de usuários parece absurda: cada um destes serviços tem mais de um bilhão de usuários. Uma em cada sete pessoas no mundo utiliza pelo menos um dos serviços supracitados. No caso do Android, o dado mais recente aponta para pelo menos 2,5 bilhões de dispositivos ativos todo mês.
Grande parte da receita da empresa é proveniente de anúncios. Apenas em 2019, a gigante faturou 162 bilhões de dólares através do seu serviço proprietário de publicidade, o Google Ads. O balanço da companhia também aponta como “outras receitas” valores advindos de vendas na Google Play Store (loja da empresa no sistema Android), vendas do aparelho Chromecast (tocador de mídia digital), consumo da Google Cloud Platform (plataforma de computação em nuvem) entre outros serviços. A empresa tem, porém, uma visão mais ambiciosa do que ser a líder mundial em respostas para pesquisas, mapas e sistemas operacionais portáteis.
Para que seus serviços funcionem de forma adequada, a gigante utiliza diferentes técnicas de inteligência artificial e aprendizado de máquina profundo. Os nomes parecem assustar, mas são facilmente ilustrados. Imagine que você decide efetuar uma busca por palavras como “casa” e “amarela”. Os algoritmos do Google entram em ação para tentar lhe entregar as respostas mais relevantes. Uma série de fotos é mostrada como resposta e, ao clicar em uma destas imagens que representa uma casa amarela, você confirma para o Google que, de fato, as palavras “casa” e “amarela” remetem àquele padrão de imagem. Parece simples, mas é desta forma que os algoritmos do Google aprendem e confirmam que estão certos: através das respostas dos próprios usuários. Se levarmos em conta que, ao redor do mundo, 3,5 bilhões de buscas são realizadas por dia, a empresa passa a ter um poder de aprendizagem monumental.
Eis que, em determinado momento, é inaugurado um restaurante de nome “Casa Amarela” na sua cidade. Centenas de pessoas começam a pesquisar pelo estabelecimento e clicar nos links de redes sociais e imagens do local. Os algoritmos passam então a reconhecer que, naquela cidade, o termo “casa amarela” se refere a um estabelecimento, trazendo como resultado mais relevante da pesquisa o endereço do restaurante, horários de funcionamento, e quaisquer outras informações que o buscador for capaz de encontrar.
Além da expressão pesquisada e localização do usuário, o buscador coleta diversas outras informações, como a versão do seu sistema operacional, o dispositivo a partir do qual você realizou a busca, e uma série de outros parâmetros que a companhia não divulga abertamente.
É importante entendermos como as empresas coletam e utilizam nossos dados, pois como enunciado no início do texto, existe uma perspectiva de que possamos ser produtos auxiliando a melhoria de serviços. Uma simples busca pode coletar inúmeros dados pessoais, mesmo que estes dados sejam tratados de forma anônima. De que outras formas poderíamos estar auxiliando grandes empresas de tecnologia sem sabermos? Este é o assunto que abordaremos na próxima edição.