Reforma Administrativa: necessária ou não?

Em média, um funcionário público recebe 75% a mais que um funcionário da iniciativa privada
O tema polêmico da vez no País é a Reforma Administrativa. Agora começa o lobby e a guerra para mostrar que, na verdade, não é um privilégio, mas é por prestarem um serviço essencial para a sociedade. A opinião de cada um sobre o valor que o funcionalismo público agrega para a sociedade pode variar de uma pessoa para a outra, de fato é um serviço importante para todos e deve ser valorizado, mas não pode sufocar a sociedade.
Vamos aos números. Em média, um funcionário público recebe 75% a mais que um funcionário da iniciativa privada. Jeito ruim de comparar os funcionários públicos com os privados, não é mesmo? Sim, muito ruim. Em média, a escolaridade dos funcionários públicos é maior, logo uma simples média não vai refletir de maneira justa essa diferença.
O problema não está na atendente do Pronto Atendimento do seu bairro, ou nos professores do ensino básico, ou no gari que limpa a nossa rua ou no agente penitenciário. O problema está em Brasília
Para resolver esse problema, o Banco Mundial comparou os trabalhadores em funções semelhantes e concluiu que, em média, no mundo os funcionários públicos ganham 21% a mais que os da iniciativa privada. No Brasil essa diferença chega a assustadores 96%. Essa diferença é conhecida como “prêmio salarial do funcionalismo público” e, no Brasil, é o maior do mundo. Quando analisamos os Estados a situação melhora um pouco, o prêmio cai para 36%, entretanto, ainda acima da média mundial. No âmbito municipal não se constatou disparidades entre as remunerações dos públicos e dos privados.
Ou seja, o problema não está na atendente do Pronto Atendimento do seu bairro, ou nos professores do ensino básico, ou no gari que limpa a nossa rua ou no agente penitenciário. O problema está em Brasília, na alta casta do judiciário, nos parlamentares federais, no ministério público, militares e por aí vai. E sabe quem essa reforma não vai atingir? Exatamente, os parlamentares, os magistrados, promotores, procuradores e militares. De acordo com o governo, esses são membros de poderes e têm regras diferentes dos servidores comuns.
E como a diferença ficou tão grande? Ora, isso é um problema de vários governos e não de apenas um. A discrepância mostra como esses grupos possuem poder no Brasil, negociando ano após ano reajustes acima da inflação. Entre 2003 e 2016, o salário do funcionalismo público subiu 33% acima da inflação, enquanto a iniciativa privada subiu apenas 10%. Em outras palavras, mesmo no período em que o País atravessou duas crises, o salário do funcionalismo público cresceu três vezes mais do que o salário da iniciativa privada. Entre 1986 e 2017, o salário médio mensal de quem trabalha como funcionário federal cresceu 84%, saindo de R$ 5 mil, em 1986, para R$ 9 mil. em 2017. Nesse mesmo período o do setor privado caiu de R$ 2,5 mil para R$ 2,4 mil.
Para manter o privilégio de alguns, o Brasil padece
Ainda hoje, durante essa pandemia e aumento absurdo do desemprego, alguns desses grupos estão pressionando por reajustes salariais. O problema do funcionalismo não está no servidor que ganha três mil reais, mas, sim, nos altos salários e grandes privilégios dos que estão no topo dessa pirâmide. Por esse motivo, a Reforma Administrativa deve ter uma tramitação difícil no Congresso. Enquanto isso, para manter o privilégio de alguns, o Brasil padece.