Formação de professores é assunto sério antes, durante e pós-pandemia
A formação holística, ou seja, que englobe também a saúde mental do educador, é um assunto de extrema importância
Se há algo de positivo que temos percebido nos últimos meses, por conta das aulas remotas, é o sentimento de que a comunidade de professores está mais unida do que antes. Temos essa percepção por conta de relatos de professores por todo o país, que estão se ajudando a adaptar suas aulas, descobrindo maneiras de contribuir para o aprendizado dos alunos a distância. Se por um lado existe o desafio no tato com as novas tecnologias, por outro, temos o ganho com as famílias participando mais ativamente do processo de ensino-aprendizagem.
Em um relatório produzido pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, o impacto no início do fechamento das escolas por conta da pandemia causada pelo coronavírus afetou a rotina de estudos de mais de 1,5 bilhão de alunos em 188 países, ou 91% de alunos ao redor do mundo. Dados publicados em abril deste ano, reportavam que tínhamos, no Brasil, mais de 130 mil escolas fechadas e cerca de 47 milhões de alunos sem aulas presenciais desde o fechamento das instituições em março, segundo estimativa do coordenador de desenvolvimento humano do Banco Mundial para o Brasil, Pablo Acosta.
A área da educação foi uma das mais afetadas nesse contexto, e para os professores, o peso disso parece ter sido ainda maior: as expectativas depositadas sobre eles foram enormes, pois esperava-se que eles resolvessem todas as questões educacionais, ajudando alunos a continuar aprendendo como antes, mas em um contexto totalmente diferente — e sem terem tido, na maioria dos casos, a oportunidade de receber formação adequada prévia para iniciar as aulas remotamente.
Os cômodos de nossas casas foram transformados em salas de aulas em um piscar de olhos. Adaptações de espaço e de cenários, juntamente com descobertas de quais plataformas usar, ou como adaptar conteúdo e materiais para aulas online, também foram forçadas a acontecer na mesma velocidade. Temos acompanhado pesquisas com professores e seus testemunhos, desde o início do ensino remoto, e vimos como o início dessa modalidade de ensino trouxe desafios, dificuldades, angústia e insegurança. Contudo, a boa notícia é que o sentimento tem agora mudado para mais confiança em diversos aspectos da profissão.
A necessidade de apoio ao professor com relação à formação vai muito além da parte técnica, especialmente durante o momento atual. De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) a profissão do professor é uma das que apresenta os mais altos índices de síndrome de Burnout, juntamente com profissionais das áreas da saúde e de segurança pública, por exemplo.
Oferecer apoio à saúde mental do professor, portanto, é tão importante quanto ajudá-lo a aprimorar sua didática. Em pesquisa realizada pelo Instituto Península, 55% dos professores declararam que apoio emocional é um dos pontos mais importantes nesse momento. Com relação à necessidade de treinamentos para ensinar a distância, 75% dos educadores apontaram como essencial, seguido de suporte pedagógico para 64% dos participantes do levantamento. Quando perguntados como se sentem em relação ao ensino remoto, cerca de 88% responderam que nunca tinham dado esse tipo de aula antes da pandemia e, a maioria, não se sente preparado.
A formação holística de professores é um assunto de extrema importância e merece ter atenção e cuidado especial, não só por parte dos próprios docentes, mas ser reforçada e encorajada por gestores escolares da mesma forma. Concordo com Rubem Alves quando ele dizia que “a questão crucial da educação é a formação do educador – como educar os educadores?”. A parceria entre a instituição e o professor, com a oferta de momentos de desenvolvimento e oportunidades de crescimento, só contribuirão para que alunos tenham uma melhor experiência de aprendizado.
Fonte: Revista Educação