Documentário relembra a Libelu, movimento estudantil dos anos 1970

Inovadora e ousada, a tendência Liberdade e Luta foi responsável por retomar o grito de guerra “abaixo a ditadura” e organizar passeatas contra o regime militar
O documentário Libelu — Abaixo a Ditadura pode ser descrito como uma junção de memórias daqueles que lutaram contra o regime militar na década de 1970. O filme, que se mostra atual em um momento de fragilidade política, foi o grande vencedor do festival de cinema É Tudo Verdade, no último dia 4 de outubro.
A tendência Liberdade e Luta nasceu como um grupo de esquerda trotskista, em 1976, com o objetivo de disputar as primeiras eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de São Paulo (USP). O lema, por sua vez, veio da luta por melhores condições de ensino junto da vontade por liberdades democráticas. No entanto, quem os via de fora estranhava as festas de rock, a ousadia e os cartazes irreverentes — chegando até a considerá-los inconsequentes e atrevidos.
O longa foi fruto de quatro anos de pesquisa do diretor estreante Diógenes Muniz, que resgatou imagens históricas de passeatas contra a ditadura e uma entrevista com dois membros da Libelu ao jornalista Mino Carta na TV Tupi. Esse importante arquivo, que deu continuidade ao filme, foi resgatado na Cinemateca Brasileira antes de seu desmonte pelo Governo Federal. Outra cena chocante é a da invasão da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) pelos policiais militares, comandada pelo Coronel Erasmo Dias.

Após cruzamento de dezenas de relatos, a equipe decidiu realizar todas as entrevistas do documentário em um único local: o icônico prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas, que também foi perseguido pelo regime. Entre os entrevistados estão o cientista político Demétrio Magnoli, o ex-ministro Antônio Palocci, o crítico gastronômico Josimar Melo, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, o jornalista e professor José Arbex Júnior e a jornalista Laura Capriglione. Criador dos termos “petralha” e “esquerdopata”, o jornalista Reinaldo Azevedo é outra figura que dá seu depoimento.
Em seu auge, o movimento estudantil foi capa da revista IstoÉ, com direito a uma página inteira descrevendo “como ser um libelu”, ou seja, suas leituras obrigatórias, sua vestimenta e seu cabelo grande, mas arrumadinho. Além disso, esse foi tema de um dos poemas do escritor Paulo Leminski, que diz: “Me enterrem com os trotskistas/ na cova comum dos idealistas/ onde jazem aqueles/ que o poder não corrompeu”.
Fonte: Revista Galileu