Cientistas estão desenvolvendo sistema que extrai água do ar

Aparato criado por pesquisadores de instituições na Coreia do Sul e nos Estados Unidos funciona até em regiões onde a umidade do ar é extremamente baixa
Desde 2017, cientistas vêm desenvolvendo um sistema capaz de extrair água potável diretamente do ar, usando o calor do Sol ou outras fontes de energia — e agora mais um passo foi dado rumo a esse feito. O grupo, composto por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Utah, ambas nos Estados Unidos, e do Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia, na Coreia do Sul, compartilharam as novidades nesta quarta-feira (14) no periódico Joule.
A ideia dos estudiosos é criar um sistema que funcione até em regiões notavelmente secas, tornando-se uma fonte prática de água para áreas remotas com acesso limitado à água e à eletricidade. A primeira versão do aparato teve relativo sucesso, mas ainda precisava ser aprimorada para se tornar menos custosa.
Como explicam os pesquisadores, o sistema aproveita a diferença de temperatura dentro do dispositivo para permitir que um material adsorvente (capaz de coletar líquido em sua superfície) retire a umidade do ar à noite e a libere no dia seguinte. Isso funciona porque, quando o material é aquecido pela luz solar, a diferença de temperatura entre a parte superior aquecida e a parte inferior sombreada faz com que a água se libere do adsorvente e seja condensada em um reservatório.
“É ótimo ter um protótipo pequeno, mas como podemos torná-lo em algo mais escalonável?”, se perguntou Evelyn Wang, líder do projeto, à época, segundo entrevista concedida ao MIT News. Além de exigir o uso de materiais especializados, chamados estruturas orgânicas de metal (MOFs), que são caros e limitados, o dispositivo não liberava água o suficiente para ser funcional.
Novo modelo
Na nova versão, em vez dos MOFs, o design usa um adsorvente chamado zeólita, que nesse caso é composto por um aluminofosfato de ferro microporoso. O material está amplamente disponível, é estável e tem as propriedades adsorventes certas para gerar um sistema de produção de água eficiente baseado apenas nas flutuações de temperatura típicas do dia à noite e no aquecimento por luz solar.
De acordo com os especialistas, o calor do Sol é coletado por uma placa absorvente no topo do sistema e aquece o zeólito, liberando a umidade capturada durante a noite. Esse vapor se condensa em uma placa coletora, processo que também libera calor, e as gotículas de água são canalizadas para um reservatório.
A produtividade geral do sistema é aproximadamente o dobro em comparação com a versão anterior. Em testes, essa versão do aparato produziu mais água que seu antecessor quando foi testado em condições semelhantes.
Embora sistemas semelhantes de dois estágios já tenham sido criados para outras aplicações, Wang afirma que “ninguém realmente buscou esse caminho” para aplicação da tecnologia em captação de água atmosférica. Segundo a pesquisadoras, as abordagens existentes incluem coleta de névoa e de orvalho, mas ambas têm limitações significativas.
A coleta de névoa funciona apenas com 100% de umidade relativa e atualmente é usada apenas em alguns desertos costeiros. Já a coleta de orvalho requer refrigeração com uso intensivo de energia para fornecer condensação e ainda requer umidade de pelo menos 50%, dependendo na temperatura ambiente.
O novo sistema, no entanto, pode funcionar em níveis de umidade tão baixos quanto 20% e não requer nenhuma entrada de energia além da luz solar ou qualquer outra fonte disponível de calor. A atual taxa de produção do sistema é de aproximadamente 0,8 litro de água por metro quadrado por dia, mas a ideia é aperfeiçoar ainda mais a tecnologia.
Fonte: Revista Galileu