Ciência

Brasileiro projeta estufas para produção de alimentos em deserto na África

Projeto Marvella Farms gerará empregos e aumentará a produção agrícola em Djibuti, um dos países mais quentes do mundo, aumentando a qualidade de vida da população

Com temperaturas que chegam a 43ºC e baixa umidade do ar, o Djibuti sempre enfrentou dificuldades para desenvolver sua agricultura local. Atualmente, o agronegócio representa apenas 3% do PIB do país africano, que precisa importar 90% de seus alimentos por conta da inviabilidade de produzi-los em seu desértico território de 23.200 quilômetros quadrados — apenas um pouco maior do que Sergipe, o menor estado brasileiro. Como se não bastassem as condições climáticas extremas, nos últimos anos, as plantações de Djibuti têm sido atingidas por infestações de gafanhotos, uma das consequências das mudanças climáticas na região.
Por conta disso, o combate à fome e a busca por segurança alimentar se tornaram prioridades para o governo local, que tem apoiado iniciativas estrangeiras que visem solucionar essa situação. É o caso da Marvella Farms, um projeto criado pelas empresas norte-americanas Agro Fund One, Universal Construction e DJR Architecture. O brasileiro Guilherme Moreira, engenheiro ambiental e sanitário formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, é sócio-gerente do projeto.
“A missão do Marvella Farms é cultivar produtos orgânicos e locais durante o ano todo para abastecer o mercado local e também servir para exportações”, afirma Moreira, que apresentou o projeto nesta quinta-feira (15) no Open Food Innovation Summit, maior evento brasileiro sobre o futuro do alimento.

Técnicas de engenharia e agricultura

Para fazer isso, o projeto combinará diferentes sistemas de hidroponia, uma técnica de cultivo de plantas sem a presença do solo. Na NFT (Nutrient Film Technique), por exemplo, jatos de água com uma solução nutritiva são lançados nas raízes dos alimentos em curtos intervalos de tempo. Outra forma é utilizando grandes volumes de água, com as plantas boiando com um isopor sobre a solução. Uma terceira técnica é a aeroponia, em que as raízes dos alimentos ficam suspensas, recebendo jatos de gotículas com solução nutritiva.

Além disso, os engenheiros também utilizam o conceito de agricultura protegida — em estufas, eles poderão criar um ambiente controlado com as condições mais adequadas para o crescimento de diferentes tipos de alimentos.
Uma das principais preocupações de Moreira na hora de avaliar quais eram as opções mais sustentáveis para resfriar as estufas foi o gasto de energia — que seria inviável caso fosse usado ar-condicionado em todo o ambiente. Por isso, a proposta é que apenas a água destinada a nutrir as plantas seja resfriada. “Ao se nutrir com a água gelada, os alimentos conseguirão se esfriar de dentro para fora”, explica o engenheiro.
Quanto à circulação de ar nas estufas, essencial para manter a temperatura adequada e longe do extremo calor externo, serão usados exaustores no topo das construções, que direcionarão o ar quente do ambiente para janelas laterais. A ideia é que o ar de todo o local seja trocado a cada cinco minutos.

Implementação

Ainda sem previsão para inauguração, adiada por conta da pandemia, a estrutura do Marvella Farms será implementada em duas fases. A primeira delas envolve uma estufa piloto que ocupará uma área de aproximadamente 490 metros quadrados. Resistente ao clima e à base de sistemas hidropônicos e energia solar, o ambiente será capaz de produzir cerca de 4,5 mil quilos de produtos frescos, como folhas verdes, tomates e frutos silvestres.
Em uma segunda etapa, o projeto será expandido para 40 hectares e terá uma produção de alimentos mais diversificada (incluindo produtos bastante utilizados na região, como pimentão, alho e ervas). Nessa fase, os processos poderão ser automatizados, ainda que Djibuti não tenha uma indústria robótica consolidada.

Projeto das estufas do Marvella Farms (Foto: Divulgação)

Uma das maiores missões do projeto é empregar e capacitar a população local, mostrando que a agricultura — que nunca foi sinônimo de abundância no país — pode ser uma opção de carreira para os mais jovens. “Em Djibuti, temos o problema do desemprego entre jovens e da não valorização da mulher. Por meio das nossas fazendas, nós queremos dar oportunidade de empoderamento para esses grupos”, pontua Moreira.
Para além da produção de alimentos por si só, o projeto poderá ainda trazer benefícios à saúde da população, garantindo segurança alimentar. Além disso, ele também estimula a economia circular, o desenvolvimento sustentável e o compartilhamento do conhecimento. Parte da solução nutritiva utilizada nas estufas do Marvella Farms será doada a agricultores locais para que sejam usadas em suas próprias terras.

Fonte: Revista Galileu

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish