Geral

Futebol e a violência de gênero

“Infelizmente existe esse movimento feminista. Me arrependo de ter traído a minha esposa”, (declarações do jogador de futebol Robinho)

Texto: *Carolina Khouri

Recentemente o jogador de futebol Robson de Souza, o “Robinho”, virou o centro do noticiário brasileiro, e foi alvo de protestos e manifestações sobre sua polêmica contratação pelo Santos Futebol Clube, que ignorou as informações da condenação do jogador, em primeira instância, na Itália, por Violência Sexual Coletiva.
Em resposta a toda controvérsia envolvendo o caso, os advogados do jogador prestaram declarações informando que a condenação não era definitiva, que Robinho era inocente, e que as provas constantes do processo eram superficiais e não se referiam diretamente a ele.
Tanto a decisão condenatória, quanto as escutas colocadas no carro e no celular do jogador foram divulgadas pela imprensa brasileira, mostrando que o jogador não era tão inocente quanto pretendiam fazer crer seus advogados. Diante de toda pressão exercida pelos patrocinadores e pela opinião pública, o Santos se viu obrigado a recuar na decisão, e cancelar o contrato com o jogador.
Pois bem! Em meio a toda controvérsia envolvendo o tema, o que mais causou perplexidade, e, de certa forma “justifica” a crença de Robinho em não ter cometido nenhum crime, foram as últimas declarações concedidas por ele com relação ao desfecho do caso: “Me arrependo de ter traído a minha esposa. Infelizmente existe esse movimento feminista”.
Em uma infeliz declaração, Robinho se diz arrependido POR TER TRAÍDO A ESPOSA, e LAMENTOU A EXISTÊNCIA DO MOVIMENTO FEMINISTA, que vem lutando arduamente pela igualdade de gênero e pela responsabilização de homens que, como ele, se acham no direito de abusar sexualmente de mulheres, sem que lhe recaiam qualquer responsabilidade.
Essa declaração demonstra o quanto nossa sociedade ainda é machista, e carrega consigo o estigma de que o homem é um ser superior à mulher, e pode exercer sobre ela qualquer tipo de autoridade ou violência.
Não há como negar que já evoluímos bastante na luta por direitos e garantias da mulher, valendo destacar a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), uma das mais modernas do mundo, segundo avaliação da ONU, que prevê, além de maiores sanções ao agressor, a implementação de políticas públicas de combate a violência contra a mulher.
Entretanto, mesmo diante de todo avanço legal, infelizmente o Brasil ainda caminha a passos lentos e apresenta um triste aumento nos casos de agressões físicas sofridas por mulheres, dentre elas esposas e companheiras de jogadores de futebol que, cansadas e machucadas, física e emocionalmente, fazem uso das redes sociais para denunciar o abuso.
Sobre o tema, os dirigentes dos clubes de futebol brasileiros vêm tratando o assunto como algo de pouca importância, se negando a admitir que a violência de gênero é um problema real da sociedade e, também, do futebol, principalmente a partir do momento em que seus “astros”, pessoas públicas, de grande visibilidade e influência social, têm se envolvido cada vez mais nesses tipos de agressões.

Da mesma forma, o jornalismo esportivo precisa abrir espaço para debater o assunto e, consequentemente, dar a justa visibilidade que ele merece. Futebol envolve muito mais do que partidas esportivas. Abrange responsabilidade social, considerando o grau de evidência dado a tudo que envolve o esporte!
A partir do momento que os Clubes de Futebol não se posicionarem claramente contra a violência de gênero, seus atletas seguirão com suas condutas ilegais de violência.
Recentemente a Federação Internacional de Futebol — FIFA, em conjunto com a Organização Mundial da Saúde — OMS e a Comissão Europeia lançaram a campanha #SafeHome (#CasaSegura), como resposta ao aumento mundial de denúncias de violência doméstica no período de isolamento em razão da Covid-19. No Brasil, dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos mostram o aumento de 36% das denúncias de violência contra a mulher desde o início da pandemia.
A sociedade espera que os Clubes de Futebol pautem sua política e decisões na ética e no respeito à pessoa humana, demonstrando que a violência contra a mulher é um problema que também deve ser enfrentado por eles, com seriedade, mesmo que lhes acarretem numerosa perda financeira.
Na realidade, acreditamos que a inércia dos clubes se dê pelo receio de que um escândalo envolvendo algum de seus atletas acarrete grande prejuízo econômico, em função dos investimentos feitos no jogador, além de prejudicar a venda de camisas; eventual lucro com a revenda do jogador e possíveis rescisões contratuais de patrocinadores.
No momento, nos resta torcer para que os Clubes de Futebol do Brasil passem a enxergar a violência de gênero cometida por seus jogadores como algo de grande relevância e interesse público, e iniciem um movimento de conscientização de seus dirigentes, e, consequentemente, de mudança na forma de contratação de atletas que, porventura, tenham algum envolvimento em casos de agressões contra a mulher.
ESSA LUTA É DE TODOS!!! Por isso a ONG Vozes de Anjos está lançando a Campanha MULHER EM JOGO, em defesa dos direitos humanos das mulheres e contra a violência praticada por Atletas de Futebol.
Denuncie, ligue 180!

Carolina Pereira da Silva Khouri – Advogada
ONG Vozes de Anjos
www.ongvozesdeanjos.org
contato@ongvozesdeanjos.org
@ongvozesdeanjosoficial
Rua Teodoro Sampaio, 744 — sala 16 — Pinheiros
São Paulo — SP

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish