Geral

À cor da pele

É difícil de acreditar, mas aconteceu. Aliás, é um acontecimento corriqueiro em todas as partes do mundo mas, predominantemente, nos EEUU e, agora, no Brasil.
E no Brasil, País que tem muitas leis duras, mas sem força suficiente para enjaular quem as transgridem. E uma lei especial, forte, a Lei Áurea, homologada pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888, portanto, há 132 anos, é o maior exemplo do que estou afirmando. Naquela época foi uma festa. Abolição da escravatura! Aqueles homens e mulheres negros(as) comemoraram, dançando, gritando, correndo, anunciando para todos os cantos: “Estamos LIVRES! Mas, no momento seguinte, a realidade se apresentou diferente. Os donos daquele povo escravo reagiram e o que se presenciou foi um rio de matanças.
Lamentavelmente, passados 132 anos da Abolição da Escravatura, a raça negra, que é maioria no Brasil, continua amargurando uma perseguição tremenda por parte dos “brancos” em todos os sentidos. A cor da pele é motivo de perseguição, ou seja, os negros e negras sofrem com a selvageria racial, existente em quase todos os países do mundo, mas, em especial neste País que tem uma população miscigenada com predominância dos nossos ancestrais negros. Sim, nós, brasileiros, temos em nossas veias a predominância do sangue negro. TODOS NÓS BRASILEIROS SOMOS RESULTADO DA MISTURA DAS RAÇAS NEGRA E BRANCA.
Todos os dias ficamos sabendo de ataques de brancos contra negros. Ainda agora estamos diante de uma covarde agressão lá no Rio Grande do Sul. Onde um homem negro foi espancado até a morte por dois homens brancos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na noite de quinta-feira (19), justamente na véspera do “Dia da Consciência Negra”, em uma unidade do supermercado Carrefour. Os marginais acusados pela morte de João Alberto Silveira Freitas, um NEGRO de 40 anos, foram presos em flagrante. São seguranças do supermercado CARREFOUR e, pior ainda, um deles é um policial militar.
A selvageria a que todos nós assistimos evidencia o óbvio: o racismo estrutural no Brasil — vale dizer: que está nas entranhas da nossa formação, como herança da escravidão — nada tem ou teve de cordial. Ainda que a cordialidade racista não honrasse a sociedade brasileira, ela seria uma forma de tentar minimizar o vício com os instrumentos da hipocrisia.
Mas nem hipócritas temos sido como sociedade. Olhem para as vítimas de homicídio. Olhem para as cadeias. Olhem para as moradias precárias. A maioria ali tem a pele preta. A maioria ali é herdeira da escravidão.
E aí é preciso lembrar do Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, que foi um político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista brasileiro formado pela Faculdade de Direito do Recife e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Na data de seu nascimento, 19 de agosto, comemora-se o Dia Nacional do Historiador. (Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo)
Ele foi um dos grandes diplomatas do Império do Brasil (1822-1889), além de orador, poeta e memorialista. Além de O Abolicionismo, Minha Formação figurar como uma importante obra de memórias, onde se percebe o paradoxo de quem foi educado por uma família escravocrata, mas optou pela luta em favor dos escravos. Nabuco diz sentir “saudade do escravo” pela generosidade deles, num contraponto ao egoísmo do senhor.
“A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do País, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas natureza virgem do País.
A delegada responsável pela investigação do homicídio de João Alberto Silveira Freitas, afirmou que não se trata de racismo. Doutora, se trata de quê então?

Simples, acontece que a Dra. Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Porto Alegre, porém, não deu qualquer outra explicação de por que o caso não se enquadraria como racismo. O inquérito ainda apura a motivação das agressões (…) são as vielas e desvios das leis brasileiras. Infelizmente. Por mim, em casos como este, os culpados nem tinham que ser julgados, mas serem trancados em cadeias superseguras, sem direito a nada, perpetuamente.
Ainda sem conseguir uma explicação para tamanha crueldade me deparo com uma manifestação de um menino de 10 anos sobre a melhor forma de acabar com o racismo. Aluno da rede pública de São Paulo, 5º ano do ensino fundamental Gustavo Gomes da Silva foi entrevistado pela TVT para falar de um projeto que promove leitura de obras africanas e afro-brasileiras nas escolas do município.
“Se eu sou mesmo afrodescendente, eu quero saber as histórias da África, porque mesmo que não apareça a moral, como nas fábulas, elas têm uma moral escondida que você aprende”, disse o estudante, destacando, provavelmente sem saber, a importância do cumprimento da lei 11.645/2008, que inclui no currículo oficial da rede de ensino história e cultura afro-brasileira e indígena.

Moral da história por Gustavo Gomes da Silva: “Tudo nesse mundo cria um debate, tem sempre alguém que vai ser racista, que vai ter uma opinião diferente, por isso que eu gosto de aprender alguma coisa, não para você debater com a pessoa, mas você MOSTRAR PRA ELA COMO QUE É VOCÊ SER NEGRO”.

Jorge Rodrigues Pacheco

Jorge Rodrigues Pacheco

Analista política Advogado, Jornalista e Radialista

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish