Cuidar da economia ou das pessoas?

Essa frase se tornou um dilema desde o início da pandemia. Munido com o argumento “e a economia?”, o presidente Bolsonaro negou, fez pouco caso e até espalhou fake news sobre a pandemia do novo coronavírus. Quanto mais a pandemia avançava mais as frases do presidente se tornavam perturbadoras. Indo da negação científica ao descaso com as vítimas e as famílias brasileiras.
Que a pandemia prejudicou a economia isso é inegável. Derreteu o PIB, aumentou ainda mais o desemprego, fez explodir a dívida pública e criou uma crise sanitária jamais vista em nossa geração. Entretanto, a dicotomia entre salvar vidas ou a economia não é real!
Na última grande pandemia que o mundo viveu, a gripe espanhola, o baque econômico foi inegável. A gripe espanhola foi uma pandemia que aconteceu entre 1918 e 1919, atingindo todos os continentes e deixando um saldo de, no mínimo, 50 milhões de mortos. Contudo, as pesquisas nos mostram que os países que tiveram a recuperação econômica mais rápida e consistente, foram àqueles que adotaram medidas para salvar o maior número de vidas possíveis, mesmo que no curto prazo isso prejudicasse a economia. Isso nos mostra que, mesmo que as medidas prejudiquem hoje a economia, elas mais que compensam no futuro.
Atualmente, temos nosso presidente encorajando o uso de medicamentos com a não eficácia comprovada e desencorajando a população a tomar as vacinas, alegando “pouca pesquisa”. Uma incoerência argumentativa, no mínimo. Nosso Ministério da Saúde sendo acusado de fraudar assinatura de cientistas e sem um plano de vacinação consistente. Perdemos o protagonismo na América Latina na questão da vacinação. Nossa média de mortos voltou a subir e, para piorar, logo no período de férias.
Diante disso, fica difícil aceitar a ideia de que isso é para salvar a economia, uma vez que a própria Ciência Econômica defende medidas como quarentena e distanciamento social. Ainda mais quando estudamos os modelos de crescimento econômico e vemos que as pessoas possuem papel fundamental nesse crescimento. Logo, evitar que as pessoas morram é um passo fundamental para qualquer recuperação possível.
A ideia dessa coluna não foi dizer que só devemos salvar vidas por causa da economia. Devemos salvar vidas independente de qualquer coisa. São seres humanos com direitos iguais a todos. O intuito foi derrubar essa dicotomia que, mesmo após 180 mil vítimas, parece ainda ter alguma força e dizer que não, salvar vidas não prejudica a economia. E se um dia isso ocorrer, deveremos, como sociedade, buscar novas formas de nos organizar.
Para finalizar, deixo a frase que escutei de um grande mestre que tive “São as pessoas que produzem, são as pessoas que vendem e são as pessoas que compram. Quem não entender as pessoas, não entendeu a economia”.