Pesca excessiva fez população de tubarões e arraias despencar 71%
Um estudo recentemente publicado pela revista científica Nature apresenta um dado alarmante: a população de tubarões e arraias caiu 71% nos últimos 50 anos. Com efeito, metade das 31 espécies de tubarões oceânicos do mundo, além da arraia-jamanta, agora estão listadas como ameaçadas ou criticamente em perigo pela União Internacional para Conservação da Natureza.
Os dados levantados pelo estudo apontam que esses números alarmantes são consequência do grande aumento do esforço de pesca que acontece desde 1970.
“Sabíamos que a situação estava ruim em muitos lugares, mas eram informações coletadas por meio de diferentes estudos. Agora temos a primeira análise global do problema”, disse Nathan Pacoureau, principal autor do artigo e pesquisador de pós-doutorado do Earth to Ocean Research Group, à reportagem do site treehugger.com.
O declínio pode estar relacionado a duas situações: o avanço tecnológico dos barcos, que hoje são maiores e possuem equipamentos melhores, como linhas de anzol mais longas, possibilitando a captura de mais tubarões; e também a própria maturidade reprodutiva dos tubarões, que demora a ser alcançada, ou seja: não dá tempo de gerar filhotes. Os dados sobre elas foram retirados da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que é considerado o índice mais abrangente sobre o tema. Na conclusão, eles notaram que, até 1980, um terço (33%) das espécies analisadas estava em risco de extinção. Hoje, o valor subiu para três quartos (75%). O número consiste em uma média global, o que pode acabar mascarando um declínio ainda maior de determinadas espécies. O tubarão-negro (Carcharhinus obscurus), por exemplo, apresentou uma queda em sua população de 72%. O galha-branca-oceânico (Carcharhinus longimanus), que já foi considerado o tubarão mais comum em águas tropicais, também foi considerado em risco de extinção. A única espécie que mostrou números crescentes em sua população foi a de tubarões-martelo-liso (Sphyrna zygaena). Vale dizer que todas essas perdas não são ruins apenas para as espécies em si, mas para todo o ecossistema marinho, uma vez que os tubarões e raias se encontram no topo da cadeia alimentar — o que pode desequilibrar as coisas.
Além de olhar para o declínio de cada espécie, é importante considerar também os dados omitidos pela pesca ilegal e aqueles não divulgados sobre regiões com baixo gerenciamento de pesca, como é o caso do Oceano Índico. Faltam ainda informações sobre as espécies que vivem em recifes e regiões costeiras, o que está sendo analisado agora pelos pesquisadores. Este, contudo, não é o fim das populações de tubarões e raias. O relatório vem como um alerta para que autoridades governamentais proíbam a pesca das espécies mais ameaçadas e limitem a caça de outras, guiando-se nas evidências científicas levantadas. Iniciativas similares adotadas nos Estados Unidos levaram os tubarões-brancos (Carcharodon carcharias) a nadarem novamente nas costas leste e oeste do país.
Segundo os autores do estudo, atividades como extração de gás e petróleo, além do aquecimento global, também podem afetar os animais. Todavia, para os cientistas a pesca excessiva é a principal causa do declínio dessas espécies. Contudo, a velocidade com que essas populações estão diminuindo é realmente alarmante.
Uma mudança que levaria séculos para acontecer, levou 50 anos. Em outras palavras, estamos testemunhando um massacre de espécies sem precedentes. Muitas espécies de tubarões são migratórias, o que significa que sua proteção requer a cooperação de diferentes países porque grande parte da pesca nociva ocorre em alto-mar, sem governo ou proteção.
É provável que, com a eleição de Joe Biden, projetos para a proteção de até 30% do que chamamos de alto-mar ganhem impulso. Os cientistas acreditam que se esta proteção de fato ocorrer, a pesca em alto-mar deixará de ser devastadora como tem sido até agora.
Fonte: Hardcore