Cultura

É preciso preservar a nossa cultura

“A cultura de um povo é o seu maior patrimônio. Preservá-la é resgatar a história, perpetuar valores, é permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato”, pensador Nildo Lage

Não é novidade para nenhum gestor público que a cultura traz para a sociedade conhecimento e acesso a ele, em conjunto com o prazer, quando bem trabalhados, pode se tornar algo que faça parte da vida e do cotidiano de todo um povo, ou seja, a identidade cultural está na essência de cada pessoa, e isso é passado de geração para geração, respeitando sempre o que a sociedade tem de mais valioso que é a sua música, sua literatura, seus costumes, sua culinária, suas festas tradicionais e sua arquitetura.
Por esses e tantos outros motivos, me vejo na obrigação de externar minha preocupação com o Casarão mais singelo e elegante de Fundão, onde funciona a Casa da Cultura Mário Matos Pereira. Localizado na avenida marginal da BR-101, o Casarão Agostini abriga o Museu da cidade e a Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Cultura.
Apesar da sua aparência cansada e envelhecida, o sobrado foi construído no final do século 19, na antiga fazenda Taquaraçu, na época de propriedade do pioneiro Cândido Vieira que, em seguida, foi adquirido em leilão no início do século 20 pela família Agostini. Obtido pelo município no final da década de 70, o prédio foi restaurado em 1985 e 1986 para funcionamento de museu e como espaço para eventos culturais.
Em entrevista à coluna ‘Olhar de uma Lente’, o subsecretário, Fábio Samora, afirmou que a área cultural sempre foi bem-vista pelo atual prefeito, Gilmar Borges, tanto que, “estamos trabalhando em projetos que envolvem oficinas de teatro, dança, música e abrimos processo de licitação para aquisição de instrumentos musicais. Os editais de contratação de oficineiros vão demorar um pouquinho, mas vão sair, é assim mesmo, tudo que é público precisa passar pelo trâmite burocrático e informo que, até o final de outubro deste ano, o Casarão entrará em processo de restauração, fruto de uma parceria entre o município e o governo de Estado”, explicou Samora.
O subsecretário disse ainda que, fora do eixo cultural, o esporte está sendo agraciado com algumas ações da administração municipal. “Uma delas é a drenagem e a construção de uma pista de atletismo no campo de Timbuí e, no antigo campo do Cruzeiro, será feita terraplanagem. No distrito de Praia Grande, o campo do Joaripe terá suas obras retomadas e, na sede, o prefeito fez uma parceria muito bacana com o Comercial Futebol Clube, onde a administração passou a ser de competência da prefeitura e lá será implementado um amplo projeto esportivo”, afirma.
Ainda na área esportiva a municipalidade está encampando o projeto das escolinhas de atletas. “Vamos acolher alunos de oito aos 17 anos. Essas crianças e jovens terão acesso a exames médicos e a todo apoio psicossocial com palestras. Ou seja, todo suporte do município será disponibilizado para essas crianças e suas famílias e, como esporte não tem idade, tivemos reunião com os grupos de terceira idade de Praia Grande, de Timbuí e da sede. Todo o suporte que a prefeitura oferecer nas áreas da cultura e do esporte, se pudermos incluir a terceira idade, faremos”, explica Samora.
Ao longo da entrevista, Fábio Samora fez questão de chamar a atenção para uma situação que vem incomodando, e muito, a pasta. Segundo ele, trata-se de uma invasão da área do Casarão Agostini por parte do proprietário do Hotel e Restaurante Casarão. “A Casa da Cultura Mauro Mattos Pereira foi invadida pelos proprietários do Hotel e Restaurante Casarão, em 2013, na gestão da prefeita Maria Dulce”, denuncia.

Samora considera a reforma do Hotel e Restaurante Casarão uma grave agressão à cultura do município, vilipendiando a lei de proteção ao Patrimônio Tombado. “O então secretário de Desenvolvimento e Obras, Anderson Cleyton, e o então secretário de Turismo, Benedito de Jesus Pimentel, foram coniventes. Ainda conforme o subsecretário, durante várias vezes o Conselho Estadual de Cultura tentou, com os donos da obra e com a prefeitura de Fundão, a paralização da reforma, mas não obteve sucesso. A altura do Hotel e Restaurante interfere na estética do Casarão Agostini e, para complicar, invadiram um metro da área do Casarão Agostini e na rua que fica atrás do casarão. Outra agressão cotidiana é o funcionamento diário das chaminés que compõem a cozinha do restaurante, instaladas na área invadida, jogando fuligens contra as paredes do patrimônio.
Existe um processo — movido pelo Conselho de Cultura — que se encontra no Ministério Público (MP) estadual sob a Ação Civil Pública: Nº 0001024-96.2014.8.08.0059 — Requerente: Ministério Público do ES e um processo administrativo que se encontra na Secretaria de Desenvolvimento do município.
Procurado pela nossa reportagem, o Dr. Bertoldo, representante jurídico do estabelecimento citado pelo subsecretário Fábio Samora, disse que as denúncias não procedem. “Não houve invasão de divisa, até porque não houve execução de obra nova e, sim, reformas com levantamentos de paredes sobre as existentes. O projeto de regularização das reformas realizadas foi aprovado pela Secretaria de Obras da prefeitura e os proprietários dos estabelecimentos têm todos os documentos, atestando correta demarcação das extremidades da obra em relação à Casa da Cultura”, defendeu o advogado.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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