Pesquisa tenta fazer bebês desenvolverem imunidade contra HIV

Uma pesquisa tenta criar resposta imune em bebês e recém-nascidos contra o vírus HIV, causador da aids. A intenção é que isso possa servir como uma terapia futura contra a doença que, até o momento, segue sem cura. O estudo é conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e foi publicado no Journal of Infectious Diseases. Os cientistas estimularam a resposta inata em células retiradas do cordão umbilical de bebês cujas mães não tinham HIV. Essas amostras foram incubadas nas células in vitro.
“Os resultados reforçam o conhecimento que já tínhamos de que os recém-nascidos têm uma imunidade imatura, portanto, são mais suscetíveis a vírus como o HIV. No entanto, descobrimos que eles não são tão imunodeficientes quanto se imaginava, pois suas células são capazes de responder muito bem a esse tipo de estímulo com agonistas de imunidade inata [substâncias que estimulam a primeira linha de defesa]. Um dos diferenciais do estudo foi o uso desse tipo de agonista [CL097], pois ele mimetiza o patógeno e permite reduzir a infecção viral”, explica Maria Notomi Sato, professora da FM-USP e autora principal do estudo.
Tratamento contra HIV em bebês
“Esse achado sem dúvida colabora para o desenvolvimento de tratamentos antivirais alternativos para os bebês, os testes foram realizados com o HIV, mas é muito provável que isso se dê da mesma forma com outras doenças virais ou bacterianas. Ainda precisamos de mais estudos, mas, no futuro, poderíamos oferecer esses compostos para os nenéns a fim de ativar a resposta antiviral, fazendo com que eles respondessem tão bem quanto adultos, a ponto de prevenir a própria infecção e combater as células infectadas”, completou.
Ainda segundo o estudo, cerca de 9% dos casos de aids do mundo são causados após mães transmitirem o vírus HIV para seus bebês, seja durante a gestação ou na amamentação. Como os bebês possuem o sistema imunológico em formação, são mais suscetíveis a infecções.
“Leva algum tempo até que a imunidade dos bebês esteja inteiramente madura. Isso porque, embora muito dos anticorpos venha da mãe, a parte celular da resposta imune surge mais devagar. Por isso, há essa maior susceptibilidade a vários tipos de infecção no período pós-natal. Sabendo disso, fomos à procura de adjuvantes que pudessem estimular essa resposta imune imatura”, explica a Anna Júlia Pietrobon, orientanda de Sato.
A pesquisa com os bebês teve como foco os macrófagos, que se tornam reservatórios de HIV após a infecção. “Isso acaba sustentando a carga viral desses pacientes. Outro problema é que os macrófagos são um pouco mais resistentes à ação dos antirretrovirais. Por esses fatores, têm uma participação e uma contribuição muito grande na patogênese da doença e na dificuldade de encontrar uma cura para o HIV”, explica Pietrobon.
Fonte: Olhar Digital