Café Coado… e os desafios da maternidade

Toda mãe que trabalha ouve que o “equilíbrio entre trabalho e vida pessoal” é viável
Texto: Gracimeri Gaviorno

Muita gente sabe que o café, especialmente o coado, é a minha bebida predileta e tem me acompanhado nos encontros e nas conversas mais animadas. Dizem que o café coado é também uma ótima opção para aproximar pessoas. Além disso, por suas propriedades, a bebida, queridinha dos brasileiros, é capaz de nos despertar do sono. Mas, que sono é esse do qual precisamos ser despertados?
Esta semana inauguramos o Café Coado com a delegada Gracimeri. A coluna, que tem sua primeira edição no conceituado jornal Fatos e Notícias, é um convite para discutirmos sobre a vida em comunidade, as novas tecnologias e as políticas públicas, capazes de melhorar a vida das pessoas.
Nos últimos tempos, a população brasileira tem sentido necessidade de discutir mais o seu cotidiano. Por isso, além das conversas alegres e animadas, é necessário avaliar os nossos dilemas e encontrar soluções para os mais diversos desafios.


E, neste mês de maio, nossa reflexão inicial passa pelas angústias enfrentadas com o exercício da maternidade já que, no próximo domingo, dia 8, celebramos o Dia das Mães. E nossa primeira provocação é sobre a vida profissional, em especial ligada ao afastamento decorrente da maternidade.
A conquista da licença-maternidade surgiu no Brasil em 1943. Era custeada pelo empregador e durava apenas 84 dias. Em 1973, passa a ser financiada pelos órgãos de previdência, representando um grande avanço. Ainda não havia garantia de estabilidade no emprego, situação corrigida pela Constituição de 1988, que também ampliou o período de afastamento para 120 dias. Mas o direito não alcançava todas as trabalhadoras. As advogadas, por exemplo, só tiveram acesso a esse direito em 2016, pela Lei 13.363. Mas, de forma incongruente, essa mesma lei limitou a suspensão dos prazos processuais em 30 dias, tornando inconciliável o exercício da licença maternidade com a profissão de advogada. A verdade é que, na vida real, muitas mães não conseguem usufruir da licença-maternidade. Profissionais liberais, trabalhadoras informais, trabalhadoras domésticas e diaristas acabam sofrendo restrições e preconceitos de ordens diversas.


Outro assunto que tem gerado discussão é a violência obstétrica, normalmente praticada pelos profissionais de saúde e que consiste em abusos, maus-tratos e desrespeito à mulher durante a gestação ou no momento do parto. É um tipo de violência que interfere na autonomia e na capacidade de decisão da mulher e impacta sua qualidade de vida. Além de violar o Código de Ética da Medicina, é uma prática criminosa. Embora não tenha uma classificação específica no Código Penal, a prática pode ser caracterizada, por exemplo, como injúria, constrangimento ilegal, dano psicológico da vítima e lesão corporal.
Passadas as fases iniciais da maternidade, ainda vem o desafio para encontrar vagas em creches. A maioria das mães que trabalham precisam de creches em tempo integral para os filhos. No entanto, as vagas são insuficientes até mesmo para meio período, fato que tem afastado as mães do mercado de trabalho.
E se a educação dos filhos tem apresentado seus desafios, não podemos deixar de mencionar as dificuldades de acesso à saúde. Nossas crianças e adolescentes são considerados a primeira prioridade, mas não há pediatras suficientes e nem uma política de fortalecimento da especialidade médica. Poucas são as vagas em hospitais para os pequeninos e, praticamente às vésperas do dia das mães, uma mãe peregrinou pelo sistema de saúde em busca de socorro para seu filho de 16 anos. Saindo de Cachoeiro do Itapemirim, esperou por aproximadamente quatro horas para que seu filho pudesse entrar na UTI. Sem sucesso, com sentimento de profunda tristeza e impotência, viu a morte chegar para seu menino. Externamos nossa solidariedade à mãe de Kevinn Belo Tomé da Silva e lame…


Delegada de polícia; mestre e doutora em direitos fundamentais; professora; Instrutora e mentora profissional para lideranças