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Café coado…e as Cidades Humanas, Inteligentes e Seguras!

Texto: Gracimeri Gaviorno

A busca por segurança nos levou a viver em comunidades urbanas. Paradoxalmente, as cidades têm sido, na atualidade, sinônimos de insegurança. A violência parece estar cada vez mais presente em nossos dias, despertando o medo daqueles que vivem nos centros urbanos. Isso tem levado as pessoas a buscar, na zona rural, a tranquilidade que não encontram na cidade. O problema é que a insegurança também chegou nesses espaços.
O medo alimenta o comércio de armas, de cercas e de monitoramentos eletrônicos, enfim, de toda cadeia da segurança privada, que vem crescendo por uma dificuldade da sociedade e do Estado em garantir um dos direitos básicos do cidadão: a segurança.
O pânico causado pela violência também movimenta o mercado político e faz surgir os palpiteiros que nada entendem de segurança pública e que são incapazes de apresentar qualquer solução efetiva para um problema real que atinge toda a população. De forma perversa e simplificada, os discursos parecem unir as cidades, a tecnologia e as pessoas em torno do medo e dos interesses que não devolvem a tranquilidade para a população.

A sensação de insegurança e a ausência de políticas concretas para tornar as relações sociais mais estáveis e seguras tem elevado a falta de confiança na representação política e prejudicado a legitimação dos poderes.
Bauman, em sua obra denominada “Comunidades”, chama a atenção para o afastamento que ocorre entre o poder e a política e apresenta como desafio supremo deste século o de promover esta reaproximação.

Cidade inteligente (Foto: adobestock)

Ainda que essa classe política emergente da sensação de insegurança aparentemente tenha ouvido o clamor popular, existe um grande problema de comunicação entre os governantes e os cidadãos. Há uma expectativa de que, até 2050, 70% da população mundial viva em cidades. O grande desafio que se apresenta aos governantes é o de melhorar a qualidade de vida dessa população que anda tão assustada.

Mas o assunto não tem recebido a devida atenção e, segundo Victor Weber, fundador e diretor do Future Real Estate Institute, no site do World Economic Forum, isso se dá porque os projetos são idealizados por políticos, consultores, acadêmicos e empresas de tecnologia, sem diálogo com a população, que deveria ocupar papel central na discussão sobre o planejamento do futuro de sua cidade.
Uma ação importante consiste em investir na formação continuada das Polícias e das Comunidades. E as universidades podem desempenhar um importante papel no desenvolvimento humano, em especial às questões ligadas à segurança pública. As pesquisas acadêmicas precisam fazer o movimento de sair da clausura dos artigos que não encontram proximidade com as ruas. As obras seculares não foram escritas em gabinetes ou bibliotecas, mas nasceram do encontro entre o intelecto e a vivência popular. O Espírito Santo teve uma experiência muito boa com o meio acadêmico entre os anos 1999 e 2001, quando as polícias, Civil e Militar e também as comunidades foram para os bancos universitários estreitar o conhecimento técnico e o diálogo qualificado para a melhoria da segurança pública.

As tecnologias, por outro lado, são cada vez mais imprescindíveis na melhoria da qualidade de vida, mas devem estar em harmonia com as expectativas de seus destinatários. As expectativas não são construídas em laboratórios. Elas são frutos de interações sociais diversas e continuamente mutáveis. Ao conhecimento dessas expectativas não se chega por suposições, mas pela escuta ativa do cidadão beneficiário e deve encontrar eco no conhecimento próprio dos especialistas e profissionais de segurança. É o cidadão quem vai orientar as polícias em relação as suas prioridades e o conhecimento técnico, especializado, do profissional de segurança deve interagir com as expectativas sociais. Por isso, é tão importante a participação social. A vida acontece em comunidade e o ser humano deve ser protagonista da construção e do desenvolvimento do espaço social em que vive.
Quando isso acontecer, podemos dizer que as cidades humanas, inteligentes e seguras não são aquelas que estão pensando em pessoas apenas, mas as que estão pensando com elas, com as pessoas que nela vivem!

Gracimeri Gaviorno
Delegada de polícia; mestre e doutora em direitos fundamentais; professora; Instrutora e mentora profissional para lideranças

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