Comportamento & Equilíbrio

Café Coado em… A importância dos projetos e programas que fomentam grupos reflexivos para homens e o impacto na tranquilidade social

Texto: Gracimeri Gaviorno

Uma determinada revista eletrônica semanal apresentou no último domingo, dia dos namorados, uma reportagem sobre como o sexo a partir dos 60 anos faz bem para a saúde física e emocional. Não estamos aqui para discutir os benefícios da relação sexual, mas para trazer luz ao surgimento das rodas reflexivas masculinas, citada na matéria.
Há muitos anos os homens foram educados para a conquista. A sensibilidade era vista como fraqueza, que levava à derrota. Essa crença talvez fosse necessária quando a sobrevivência dependia da caça e da conquista de territórios onde as habilidades bélicas e a força física eram necessárias à sobrevivência. Um tempo em que os homens saíam à caça e as mulheres ficavam em cavernas para proteger os filhos.
Mas os tempos são outros. As guerras ficaram pontuais. Os homens aprenderam a se agrupar para viver melhor. Confinados em espaços cada vez menores, foram aplicar o treinamento de guerra nos lares.

Opa, mas do que estamos falando? Sim, estamos falando da violência doméstica, que atinge não apenas as mulheres, mas também as crianças e os jovens. Essa violência que começa dentro de casa ganha as ruas e quase não existem mais lugares seguros. A violência privada que se tornou pública a medida que se tornou um perigo para a sociedade.
Mas não podemos pensar que a violência contra mulher, por mais hedionda que seja, é um problema apenas das mulheres. Na verdade, é um problema de toda a sociedade e não dá para deixar os homens fora dessa conversa. Homens e mulheres, somos produzidos e produtores da sociedade. Refletir sobre como temos agido e quais as consequências de nosso comportamento pode nos direcionar a encontrar melhores soluções para a sociedade que queremos.

Por isso, a importância desses grupos reflexivos masculinos. Nesses espaços os homens podem refletir sobre como e para qual objetivos foram forjados. Entender que a educação masculina toma como base uma sociedade que não é mais aquela em que os nossos educadores viveram. Os homens não encontrarão mais mulheres como nossas bisavós e as estratégias de conquistas e domínio utilizadas para aquela época não são mais eficazes nos tempos atuais. Precisamos compreender quais são as lanças que ainda utilizamos e qual tecnologia temos que conhecer para acionar o míssil capaz de nos levar a conquistar um território cada dia mais desafiador: a paz no lar.

Esses grupos reflexivos permitem que se façam as pausas necessárias para entender um novo cenário, onde a boa convivência traz saúde física, mental e emocional. E que diante da diversidade do ser humano, é possível que haja conflitos. Mas que é possível resolvê-los de forma não violenta. Nesse novo cenário é possível perceber que no território a ser conquistado não estão os inimigos, mas os aliados. E é com estes que se chegará a vitória.
Ao assumir a chefia da Polícia Civil, refleti sobre o que poderia ser feito diante dos altos índices de violência contra a mulher que destacavam o Espírito Santo no ranking nacional. Então me veio a memória uma iniciativa que tive a oportunidade de participar quando estava à frente da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher do município da Serra no ano de 2003.

Era um projeto que trabalhava o agressor em grupos reflexivos. Foi então que, após criar um núcleo interdisciplinar de enfrentamento à violência (NIEV) e organizar um grupo de trabalho envolvendo delegados e delegadas, assistentes sociais e psicólogos, surgiu o Projeto Homem que é Homem, lançado no dia 6 de março de 2015, que um ano depois se tornou um programa permanente. Hoje, o Programa Homem que é Homem já é uma realidade em quase todo o Estado do Espírito Santo e iniciativas similares surgiram pelo Brasil. Em 2020 a Lei Maria da Penha foi alterada para incluir, entre as possibilidades de atuação do juiz, o encaminhamento do agressor a programas de reeducação e grupos reflexivos.
A violência contra a mulher ganhou a agenda pública exigindo políticas de acolhimento em saúde mental, desenvolvimento da autonomia financeira e emocional da vítima, além da punição ao agressor. Mas eu não acredito em enfrentamento e erradicação da violência contra a mulher que não inclua o homem como protagonista dessa história.

Não podemos viver numa eterna guerra dos sexos. Precisamos, urgentemente, homens e mulheres, nos unirmos em prol da paz social, que inclui a paz nos lares, o respeito ao outro e a nós mesmos e à harmônica convivência social. Isso será possível a partir de momentos de reflexão que nos permita conhecer a nós mesmos, nossos dilemas comuns. Ao compreender como fomos educados e como precisamos ser reeducados para viver esse momento que nos exige uma correção de rumos, seremos capazes de vivermos felizes em família e encontrar tranquilidade social.

Gracimeri Gaviorno
Delegada de polícia; mestre e doutora em direitos fundamentais; professora; Instrutora e mentora profissional para lideranças
Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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