Comportamento & Equilíbrio

Vai doer, mas às vezes é preciso, como ter conversas constrangedoras

O primeiro instinto é adiar, fugir ou até mesmo minimizar o problema para que a conversa não aconteça, mas às vezes ela precisa acontecer

Algumas vezes nos deparamos com situações que exigem uma conversa mais difícil por conta de um assunto delicado ou constrangedor, o que acaba despertando preocupação e ansiedade nos momentos que antecedem o papo.
O primeiro instinto é adiar, fugir ou até mesmo minimizar o problema para que a conversa não precise acontecer. Mas às vezes ela é essencial para não perder relações importantes.
Para algumas pessoas, conversas constrangedoras são mais difíceis que para outras. Segundo Pâmella Salles, psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que atende na Telavita (healthtech de saúde mental) no Rio Grande do Norte, isso acontece porque algumas características podem favorecer a dificuldade de se expressar e falar sobre tópicos desconfortáveis.

“No aspecto individual, pessoas com características de personalidade mais introspectiva, com autoestima baixa, mais inseguras, por exemplo, têm mais dificuldade de se expressar”, diz. Muitas vezes, as pessoas tímidas são as que mais sofrem para abordar um assunto mais delicado.

Mas guardar incômodos pode não ser uma boa opção para a saúde. “Uma pessoa mais retraída pode guardar o que a incomodou, com medo de conflitos e mágoas. Mas isso pode gerar situações emocionais como ansiedade e depressão”, diz Sônia Palma, psiquiatra da A Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP).
Adiar conversas constrangedoras pode contribuir ainda para que pessoas tímidas ou inassertivas apresentem dificuldades mais acentuadas, principalmente em situações mais desafiadoras, segundo Alecrides Marques Alencar, psicóloga especialista em análise comportamental clínica do Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HUUnivasf), vinculado à Rede Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Segundo Alencar, o adiamento pode representar um comportamento evitativo, que tem a função de fazer com que o sujeito não entre em contato com contingências aversivas.
Além do aspecto individual, Salles diz que o contexto e ambiente podem influenciar no constrangimento de determinadas conversas, uma vez que pessoas inseridas em famílias ou grupos que são mais intolerantes a erros ou a novas formas de pensar o mundo também podem ter problemas para falar de certos assuntos.

“Nestes casos, independentemente se a pessoa tem alguma característica que favorece mais a dificuldade de falar, qualquer um nesse contexto tem mais dificuldade de se expressar, principalmente se sua forma de ver o mundo ou os erros for muito diferente do grupo ou da família”, diz.

Se o assunto é inevitável, vale a preparação para começar o papo
Salles afirma que a primeira coisa a se pensar é se a pessoa está preparada para conversar sobre o assunto. “Falar sobre algo que a gente não entende por completo pode nos deixar ainda mais inseguros e desconfortáveis com nós mesmos”, diz ela.

O primeiro instinto é adiar, fugir ou até mesmo minimizar o problema para que a conversa não aconteça, mas às vezes ela precisa acontecer (Foto: iStock)

“Podemos levar em conta o julgamento ou opinião dos outros como mais importante do que construirmos e identificarmos as nossas próprias. Precisamos entender quem somos, no que acreditamos e também estarmos abertos a ouvir outras formas de ser e pensar”, diz Salles. Nesse sentido, uma ajuda psicoterapêutica pode ser o caminho.

Segundo Palma, não há uma forma mágica para passar por uma conversa constrangedora. O que se pode fazer é tentar sempre ser empático e acolhedor, passando a ideia de uma boa intenção ao propor um tema difícil.
É importante fazer uma pré-avaliação sobre a situação em si e a pessoa que receberá a mensagem.

“Não fale sem pensar. Reflita sobre a questão antes de começar e não tente adivinhar a intenção do outro e fazer julgamentos”, diz a psiquiatra.

Escolher a hora certa também é importante, para não a deixar passar. “A hora certa é aquela que ainda exista tempo de buscar a resolutividade da questão e não ter maiores prejuízos”, diz Alencar.

Veja dicas para começar o assunto

1. Tenha calma
Em alguns momentos, é difícil manter o controle, mas é bom ressaltar que em conversas mais sérias, manter a linha é essencial. Não adianta ter duas pessoas gritando. O ideal é refletir e preparar a conversa.

2. Evite que o outro se sinta constrangido ou fique reativo
Adote uma fala acolhedora. É preciso entender que o outro é diferente e, a não ser que o que se faça prejudique o outro ou a si mesmo, é possível pensar e fazer o que for preciso para se sentir melhor.

3. Deixe claro qual a intenção da conversa
Isso acalma o interlocutor e propicia uma conversa sem acusações, promovendo um diálogo produtivo e menos estressante. Seja claro no seu objetivo, não faça rodeio. A proposta da conversa é resolver uma situação/problema e não criar um constrangimento na relação interpessoal.

“Não se estenda demasiadamente, mas estabeleça um diálogo amplo e que afunile até o assunto em si, permitindo pequenas pausas, confirmando o entendimento de quem está ouvindo”, diz Alencar.

4. Explique o contexto da conversa
Tente tratar um assunto de cada vez e pergunte se a pessoa entendeu sobre o conteúdo da conversa. Isso evita mal-entendido entre as partes.

5. Coloque a questão na primeira pessoa
“Eu me sinto” em vez de “Você me deixa”. Fazer isso torna a conversa menos acusativa e/ou crítica e propicia uma abertura de diálogo.

6. Tente escolher um lugar adequado, evitando criar mais constrangimento
Dependendo do teor da conversa, é possível convidar o interlocutor para um café, uma sala vazia ou mesmo um almoço, ou seja, um lugar neutro. Pense que pode haver uma discussão acalorada, por isso planeje antecipadamente o local da conversa.
Além disso, evite um ambiente que gere interrupções ou até mesmo inviabilize o estabelecimento de um diálogo e do entendimento por quem vai ouvir o que tem de ser dito. “Às vezes é melhor evitar lugares públicos ou com muita gente, como o escritório (em casos de conversas no ambiente de trabalho)”, diz Palma.

7. Tenha certeza de que se sente confortável para falar
Conte algo mais simples, que não o deixe desconfortável, e veja como a pessoa reage, com respeito ou reativa, com julgamentos. Ela é tolerante a essas pessoas e a essas ideias? Respeita as pessoas diferentes dela, mesmo que não concorde? Você se sente confortável na presença dessa pessoa? É uma pessoa confiável?
“A primeira pergunta que temos de fazer é se é realmente é necessário ter esta conversa”, diz Palma.

8. Cuidado com pessoas com características de manipulação
Possivelmente, se a pessoa for manipuladora, ela não vai reagir de forma agressiva ou intensa. Ao primeiro olhar, ela pode até expressar entendimento, mas provavelmente trará um “mas” logo depois e tenderá a direcionar você para algo que ela concorda ao invés de respeitar sua visão diferente do mundo.

Fonte: UOL

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