Política

Quem cala consente?

Ao se silenciar diante de um marco histórico para a sociedade brasileira, a mídia pensa estar dando um recado à população, mas não consegue enxergar qual o recado o povo está dando para ela

Texto: Luzimara Fernandes

O princípio básico, a principal função do jornalismo é informar. E, nesse ‘informar’, estão contidas a imparcialidade e isenção na apuração e/ou divulgação dos fatos. Para que isso aconteça é preciso, no mínimo, ouvir os dois lados da história. A função do jornalista não é dar a resposta pura e simples, mas, sim, fazer com que o seu leitor/espectador/ouvinte seja capaz de tirar suas próprias conclusões sobre o que lhe é narrado.

Nas cadeiras da universidade somos ensinados que o jornalista precisa ter consciência da sua responsabilidade social. Ainda é (e sempre será) importante apurar os fatos, checar a notícia, ouvir mais de um lado na história e, assim, produzir um jornalismo de qualidade, alinhado com a velocidade que a redação exige.

O que não é o caso da imprensa brasileira há um bom tempo. Infelizmente, colegas com décadas de profissão têm manchado, maculado o ofício ao se tornarem meros instrumentos de joguetes a quem interessa e prostituem a profissão ao seu bel prazer. Como jornalista, há quase 15 anos, sinto-me envergonhada com o que vem ocorrendo na mídia do Brasil. Refiro-me ao silêncio sepulcral do chamado consórcio de imprensa (que reúne os grandes conglomerados da comunicação do País) relacionado às gigantescas manifestações democráticas e populares por todo o País, há exatamente um mês.

Mas graças a Deus, em tempos em que as novas tecnologias ampliaram o acesso à informação, onde uma pessoa consegue consumir conteúdo na palma da mão, a forma de transmitir essas informações mudou. Hoje, o povo não é mais refém do discurso de A ou B para reter informação da fonte. O que nos dá a quase certeza de que esse modelo de jornalismo parcial, chulo e, porque não, degradante está com os dias contados.

O povo, nas ruas, está mostrando que não é mais massa de manobra e nem refém dos discursos sabotadores, desfilados a torto e a direito pela grande imprensa brasileira nos últimos tempos. A população está mostrando que é capaz de pensar por si só e, principalmente, sabe o que é melhor para si. O gigante acordou e dificilmente retrocederá.

Passado esse processo turbulento, uma nova era se instaurará nas redações do País. Não haverá mais espaços para os pseudopensadores que povoam hoje as instituições de comunicação. As grandes redes estão com suas imagens totalmente arranhadas e a credibilidade jogada no lixo. Dificilmente se recuperarão, pois os discursos soberbos não encontrarão ecos numa sociedade que acordou e sabe bem o que quer. Aos alienados (infelizmente, ainda são muitos e dentro das próprias redações também) deixo aqui o meu alerta: ‘o povo já descobriu que não precisa ficar preso a nenhum sistema de informação, que se mostra totalmente tendencioso e nocivo à idoneidade da notícia’.

Com as redes sociais disseminadas, as pessoas descobriram que não precisam de um atravessador para ter a informação. As mídias sociais possibilitam a produção e a divulgação de conteúdo jornalístico por quem não é necessariamente jornalista, ou seja, é possível sorver a informação direto da fonte. Não estou dizendo aqui que a profissão vai acabar, não é isso. Só quero deixar claro que haverá um marco profundo na forma de se praticar a profissão, não apenas no Brasil, mas no mundo.

(Foto: Reprodução Twitter)

Hoje, o papel da imprensa brasileira é simplesmente absurdo e ridículo, para dizer o mínimo. Porém, ao se calar, ante um movimento cívico e social imenso, ela deu um tiro no próprio pé, pois não conseguiu calar o grito da multidão que está nas ruas de todo o País. Pelo contrário, nunca um silêncio fez tanto barulho.
Ao se silenciar diante de um marco histórico para a sociedade brasileira, a mídia pensa estar dando um recado à população, mas não consegue enxergar qual o recado o povo está dando para ela.

No grito emudecido do povo está implícito ‘nós não precisamos de você, somos senhores do nosso querer e do nosso tempo. A canalhice de todos vocês com a população brasileira terá um preço e vocês hão de pagar’.

O jornalismo é uma das profissões mais belas do mundo, se feito com a responsabilidade que a função exige. Nós temos o dever de fortalecer a democracia, veiculando notícias e mantendo a população capaz de analisar e formar suas próprias opiniões. O verdadeiro jornalismo atua com liberdade de expressão, trazendo temas de interesse público à tona, controlando qualquer forma de corrupção e combatendo qualquer tipo de repressão dessas informações.

E você, que está lendo este texto agora, acha que é isso que a mídia brasileira tem feito? Ela tem agido de forma a te fazer pensar e raciocinar por si mesmo? Ou será que temos visto um jornalismo feito para te manter na ignorância e beneficiar grupos a quem interessa uma população totalmente inerte e manipulável?

Pra você, a imprensa brasileira passa credibilidade? Você acredita em tudo o que vê, lê e escuta? Não te darei uma resposta, peço que reflita e tire as suas próprias conclusões!

Luzimara Fernandes
Jornalista, editora-chefe do
jornal Fatos & Notícias

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