Meio ambiente

Bromélia-enigmática: nova espécie de bromélia é descoberta em ilhas terrestres de Minas Gerais

Recém-descoberta, a espécie botânica já é classificada como Criticamente em Perigo de Extinção, correndo risco de desaparecer caso não sejam tomadas ações para sua proteção

Pesquisadores descreveram uma nova espécie de bromélia encontrada no leste de Minas Gerais. Batizada de bromélia enigmática (Stigmatodon enigmaticus), a espécie foi descoberta na Serra do Padre Ângelo, no município mineiro de Conselheiro Pena, durante expedições científicas do projeto “Ecossistemas Rupícolas da Mata Atlântica”, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA). A descoberta foi publicada no dia 16 de fevereiro, na revista científica Phytotaxa, pelos pesquisadores Dayvid Couto, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), e Andrea Costa, do Museu Nacional (MN-UFRJ).

A nova espécie foi encontrada pela primeira vez sem flores, mas suas folhas arroxeadas cobertas por escamas esbranquiçadas permitiram seu reconhecimento como pertencente ao gênero Stigmatodon, que é um grupo de bromélias adaptado a viver sobre as rochas na Mata Atlântica, com floração noturna e polinizado por morcegos, tendo por isso flores pouco coloridas.

Aguardamos ansiosos a floração da planta, que imaginávamos ter flores esbranquiçadas ou esverdeadas, como todas as demais espécies de Stigmatodon. Qual foi a nossa surpresa, no entanto, quando a planta floresceu durante o dia e com cores vibrantes. Suas flores são amarelas com estruturas externas — chamadas de brácteas — vermelhas, características associadas à polinização por beija-flores e comuns no grupo irmão de Stigmatodon, o gênero Vriesea”, explica Dayvid Couto, pesquisador do INMA e primeiro autor do estudo.

Por conta das características peculiares, os pesquisadores batizaram a espécie de Stigmatodon enigmaticus, a bromélia-enigmática. “As características morfológicas sustentaram a classificação da espécie no gênero Stigmatodon, mas estudos futuros usando dados do DNA e da anatomia dessas plantas nos ajudarão a testar hipóteses evolutivas dessa característica floral e do posicionamento dessa espécie no gênero”, ressalta Couto.

O reconhecimento da nova espécie soma-se a mais de 30 outras espécies publicadas na última década para os campos e florestas das montanhas da região. Ao todo, 26 espécies são consideradas endêmicas — ocorrem exclusivamente nesses campos rupestres e em mais nenhum lugar do planeta.

Paulo Gonella, um dos pioneiros no estudo da flora dessa região, destaca que esses dados colocam a Serra do Padre Ângelo como importante área de endemismo na Mata Atlântica, e reforça a urgência de proteção desses ambientes. A bromélia-enigmática, recém-descoberta, já é classificada como Criticamente em Perigo de Extinção, correndo risco de desaparecer caso não sejam tomadas ações para sua proteção.

Somente a criação de novas reservas na região será capaz de salvar essa e outras espécies da extinção, em um futuro próximo. As Unidades de Conservação protegem áreas de reconhecida importância biológica, e que prestam importantes serviços ambientais para sociedade, como o fornecimento de água, fixação de carbono, controle do clima, polinizadores, entre outros”, explica Gonella.

A bromélia-enigmática foi descoberta em afloramentos rochosos quartzíticos (campos rupestres) acima dos 1200 metros na Serra do Padre Ângelo. Essa serra, assim como outros afloramentos rochosos rodeados pela floresta, funciona como uma ilha terrestre — como está isolada na paisagem, as espécies que ali ocorrem têm suas populações isoladas umas das outras por um “mar de floresta”. A nova bromélia vive sobre as rochas expostas a pleno sol, misturada com a vegetação campestre, típica dos campos rupestres.

A descoberta revela a importância dos estudos básicos sobre a biodiversidade nessas ilhas terrestres da América do Sul”, ressalta Couto.

Quando pensamos em ilhas, logo imaginamos as ilhas oceânicas, que são ambientes isolados e circundados pelo mar. O isolamento natural das ilhas oceânicas impulsionaram muitos estudos ecológicos, biogeográficos e evolutivos em todo o mundo. Outros ambientes, como os afloramentos rochosos e o cume de montanhas elevadas, são igualmente isolados e são tratados como ilhas terrestres, e representam importantes modelos usados pelos cientistas para testar hipóteses evolutivas.

Dentre as ilhas terrestres, merecem destaque os campos rupestres, formados por afloramentos de rochas quartzíticas e areníticas, que são comuns nas paisagens da Serra do Espinhaço entre Minas Gerais e Bahia. Os campos rupestres, de modo semelhante às ilhas oceânicas, são isolados na paisagem e abrigam uma flora muito peculiar e adaptada às condições restritivas desses ambientes — baixa disponibilidade hídrica, presença de solos rasos e com baixa fertilidade, elevada amplitude térmica entre o dia (quente) e a noite (frio), entre outras características.

O projeto
O projeto “Ecossistemas Rupícolas da Mata Atlântica” é realizado pelo INMA no âmbito do Programa de Capacitação Institucional do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Tem por objetivo inventariar a biodiversidade (flora e a fauna) dos ambientes rochosos (inselbergs e campos rupestres), levantando dados que possam servir de subsídio para a criação de políticas públicas para a conservação desses ambientes.

Fonte: Instituto Nacional da Mata Atlântica

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