Cultura

15 Reais — Parte I

Em um bairro de classe média, numa região litorânea, muitas pessoas passam diariamente nas casas, para oferecer serviços em troca de alimentos, roupas ou de algum valor.
— Bom dia, moço! Posso limpar a sua calçada? Ela está cheia de matos e ervas daninhas. — perguntou um rapaz ao dono de uma casa do bairro, a casa chamava atenção por sua beleza.
— Bom dia! Como se chama? — indagou o dono o imóvel.
— Sou Jairo, senhor! — exclamou o rapaz que aparentava ter menos de 25 anos.
— Prazer Jairo, eu me chamo Nelson. Qual é o valor que cobra para limpar e jogar o lixo fora?
— São 15 reais, senhor. Eu deixo tudo limpo!
— Que ótimo, então, pode fazer o serviço. — respondeu Nelson.

Minutos depois, o proprietário do imóvel foi até a calçada para averiguar o serviço, notou que o rapaz efetuava a limpeza com as próprias mãos. Ele não possuía nenhuma ferramenta para agilizar o processo. Compadecido, Nelson foi até o seu jardim interno e buscou uma ferramenta para emprestar a Jairo, que aceitou e, com a enxada, fez o trabalho em poucos minutos. Ao término da atividade, o dono da casa, satisfeito, pagou 30 reais pelo serviço e ainda o presenteou com a ferramenta. Jairo ficou imensamente agradecido, sempre com um sorriso simpático no rosto.

Após alguns meses, Jairo voltou na mesma casa e executou o mesmo serviço, cobrando o mesmo valor, 15 reais. Só que desta vez ele estava sem a enxada que havia ganhado. Entre as suas conversas, Jairo contou a Nelson sobre as inúmeras dificuldades que a família dele enfrentava, diante da doença da esposa dele. Nelson estranhou, pois, o rapaz estava retirando novamente os matos com as próprias mãos. Ele preferiu não questionar, e com o intuito de o ajudar novamente, o proprietário resolveu dar a ele a sua máquina de cortar grama. Surpreso, Jairo não quis aceitar. Entretanto, Nelson disse que era para ele evoluir, conseguir mais trabalhos e, assim, poder manter a sua família. Jairo chorou, abraçou Nelson ao demonstrar uma gratidão única pelo gesto de compaixão que obteve.

Depois da última despedida, meses se passaram e a calçada precisava ser limpa novamente. Nelson esperou o retorno de Jairo, para realizar o serviço novamente. Todavia, desta vez ele não retornou para limpar a calçada. Então, Nelson fez o serviço, com uma nova enxada que havia comprado para que o mato não tomasse a sua calçada por completo.
Tempos depois, Jairo apareceu pedalando uma bicicleta, era um dia de semana, em que o mato não estava tão alto e a calçada mantinha uma aparência preservada.

— Bom dia, senhor. Posso limpar a sua calçada? — perguntou Jairo, com as mãos vazias, sem a máquina e sem a enxada.
— Bom dia, Jairo! Você demorou a retornar. — disse Nelson ao observar o jeito despreocupado e sorridente do rapaz.
O fato de Jairo ir trabalhar sem as suas ferramentas, fez com que Nelson desconfiasse não somente das suas palavras, mas também da sua conduta. Para quem reclamava de não ter condições para comprar alimentos, ele aparentava estar em uma melhor condição, além de ter uma bicicleta. Nelson cogitou a possibilidade de Jairo ter conseguido um emprego melhor, mas algo dentro dele o avisava para tomar cuidado.

Autora: Silvia Vanderss
Palavras: 534
Conto inédito: 15 Reais — Parte I
Conto inspirado em uma história real

Silvia Vanderss

Silvia Vanderss

Autora capixaba, com formação em Administração e Letras Seis obras publicadas que abrangem os gêneros, romance, suspense e poesia Blog literário: www.silviavanderss.com.br

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