Uma cidade funcional

A relação entre tecnologias e o espaço urbano vai ganhando várias nomenclaturas de acordo com seus autores. Hoje prevalece a ideia de “cidades inteligentes”

O estudo de cidades interessa pelo simples fato de sermos uma espécie gregária e cada vez mais urbana. Em verdade, o que nos interessa é que uma cidade funcione bem. O conhecimento tecnológico mudou a forma de viver em cidades. A crescente complexidade das demandas nas metrópoles exige novas soluções e desafia os estudiosos de ciências e tecnologia. Um novo urbanismo está em gestação.
A relação entre tecnologias e o espaço urbano vai ganhando várias nomenclaturas de acordo com seus autores. Hoje prevalece a ideia de “cidades inteligentes”, uma abstração cada vez mais difundida, contudo, sem a devida descrição do que exatamente a traduz. Sabemos apenas que o termo surgiu no âmago da problemática da sustentabilidade, uma proposta de solução através de um modelo urbanístico.

“Cidades inteligentes” seriam apenas aquelas que conseguem adotar aleatoriamente o conjunto de novos aplicativos voltados a serviços urbanos que estão presentes no nosso dia a dia? É óbvio que isto não é um fim em si mesmo! Necessidades mais básicas do que se imagina, tais como moradia adequada, saneamento básico e meios de transportes eficientes também podem ser viabilizados sem o uso de fibra ótica, aplicativos ou centrais de comando. Evidentemente, a tecnologia deverá ser desenvolvida e disponibilizada para embarcar nas soluções desenhadas para resolver as demandas da metrópole, otimizando e qualificando os resultados desejados.

Identifica-se de pronto que existe uma imprecisão conceitual sobre o que constitui o “inteligente” na cidade, talvez fruto de imperfeições que a concepção de inteligência apresenta em nossa linguagem comum. Daí, podem-se justificar algumas especulações a respeito do tema.
Existe a crença em que todas as cidades deviam se tornar inteligentes. Acreditam que empregando sensores, câmeras e medidores os problemas serão magicamente resolvidos, sem altos investimentos. A realidade, entretanto, nos mostra cenários contraditórios; como os engarrafamentos no trânsito e o transporte público deficiente, por exemplo.

No Brasil, essas iniciativas são neófitas e relativamente pontuais. O termo é empregado para nomear projetos de utilização de ferramentas digitais, sem esclarecer quais aspectos do meio urbano estão sendo melhorados. Por vezes, a frágil base dos silogismos sobre cidades inteligentes resulta de um grave equívoco analítico que deixa de considerar a complexidade dos processos e conflitos sociais reproduzidos em suas regiões.

Considerando que as explicações definidoras de “cidade inteligente” são ainda frescas, elas demandam estudos e prognósticos de longo prazo para serem entendidas e convalidadas. Existe a real necessidade de uma visão crítica sobre o que esse conceito significa efetivamente no cenário brasileiro.
A evolução para uma cidade mais eficiente, mais integrada e mais inovadora vai além dos investimentos em inovações tecnológicas. Faz-se necessário inovar também na gestão, no planejamento, no modo de governança e no desenvolvimento de políticas públicas. O ideal é que uma “cidade inteligente” possibilite o acesso de cada cidadão a todos os serviços, públicos ou privados, de maneira apropriada às suas necessidades.
