Marca produz cerveja a partir da umidade do ar
O gasto de água em uma indústria cervejeira pode ser de quatro a 10 vezes o volume de cerveja produzida
Por Marcia Sousa
A cerveja é considerada a bebida mais antiga do mundo e, depois da água e do chá, é o líquido mais consumido no planeta. O Brasil destaca-se como o terceiro país que mais consome cerveja no mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos, segundo o relatório da Kirin Holdings Company, publicado em dezembro de 2022. Porém, a paixão nacional gera grandes impactos ambientais, sobretudo no uso de recursos hídricos, e uma cervejaria na República Tcheca está empenhada em alertar sobre o aumento da escassez de água.
A cervejaria tcheca Radegast desenvolveu uma cerveja “do nada”, ou melhor, a partir da umidade atmosférica. Isso foi possível graças a uma tecnologia inovadora desenvolvida por outra companhia, a empresa Karbox — capaz de extrair água do ar em regiões áridas do mundo. O dispositivo denominado EWA (Água de Emergência do Ar) tem capacidade de extrair de 25 a 30 litros de água por dia num ambiente muito seco. Em ambientes mais temperados, contudo, a máquina pode ir além — até 50 a 70 litros por dia.
Obviamente, a tecnologia foi desenvolvida para situações mais complexas, tais como comunidades que enfrentam a escassez diária de água para necessidades básicas. Mas, a intenção da cervejaria Radegast foi apenas chamar a atenção para a necessidade de economia dos preciosos recursos hídricos, assim como fomentar o diálogo e a ação para a conservação da água.
Esta forma inusitada de fabricar cerveja deu origem a “Radegast Futur”, uma lager que se caracteriza por um elevado amargor. O lote foi produzido em edição limitada: 200 litros da cerveja que foram distribuídos em eventos especiais. Na média mundial, estima-se que, em uma grande cervejaria, são usados cerca de quatro litros de água para produzir um litro de cerveja.
Em pequenos negócios, a proporção pode ser ainda maior, superando os 10 litros de água. Mas, a Radegast consegue limitar o gasto de água em cerca de 2,29 litros de água. O número representa uma diminuição de mais de 10% em comparação com os números de 2010.
Segundo Ivan Tučník, Gestor de Sustentabilidade do grupo Plzeňský Prazdroj, que engloba a Radegast, se a marca seguisse usando a mesma quantidade de água em comparação a 2010, atualmente necessitariam de 300 milhões de litros adicionais de água anualmente.
Impactos
A ação da cervejaria centrou-se na questão da água, mas este não é o único recurso que ameaça a produção da bebida alcoólica tão amada. Nos Estados Unidos, a marca New Belgium Brewing, em 2021, fabricou uma cerveja escura com aroma de fumaça e “notas” de emergência climática.
O produto foi feito com malte defumado (para imitar o impacto que os incêndios florestais terão no abastecimento de água), grãos resistentes à seca, como milho e trigo sarraceno, para o amargor foi adicionado o dente-de-leão — que cresce em qualquer lugar e — por fim, foi usado extrato de lúpulo estável, muito diferente do lúpulo fresco e com muito menos aroma.
Fonte: CicloVivo