Sete de setembro cooptado e uma república em destroços
Por Erik Zannon
Bolsonaristas discutem sobre a realização da já tradicional manifestação em defesa do ex-presidente ou se ficarão em casa. A reflexão real a ser feita é o verdadeiro significado do dia da independência desta nação e sua triste situação atual.
Os heróis esquecidos
Em 2022, pleno Bicentenário da Independência, o retorno do coração de Dom Pedro I para as festividades foi abafado, já Dona Leopoldina e José Bonifácio ninguém mencionava. O que ficou em voga foram as disputas políticas e as eleições, um ano que era para ser marcado por eventos e comemorações de união nacional foi ofuscado pela polarização entre dois candidatos.
Um ano depois se pode fazer diferente. Deve-se falar sobre o grito do Ipiranga, o protagonismo da Imperatriz ao assinar a secessão como regente e pedir para seu marido retificar e também toda a articulação e papel intelectual de Bonifácio. São esses os pais fundadores do Brasil.
Turbulências no movimento monarquista
A partir da crise de 2013 era natural que uma proposta de reformulação geral do aparato estatal se tornasse relevante, e assim ressurgiu a ideia de restaurar o Império, algo adormecido desde o plebiscito de 1993, marcado por farsas e ilegalidades em união dos três poderes, da mídia e dos meios de comunicação em prol da vitória do republicanismo presidencialista.
Porém, o crescimento linear da ideia não foi eterno, começou a decair em 2018, quando a maioria dos influenciadores que divulgavam as virtudes da coroa, seja por tolice ou visando relevância e votos, apresentaram a candidatura de Jair Messias Bolsonaro como uma solução geral para todo e qualquer problema que assola o País. Até mesmo um príncipe, Dom Luiz Philippe de Orléans e Bragança — que vale lembrar, não está na linha de sucessão do ramo de Vassouras nem de Petrópolis, portanto é livre para ser um agente político — virou deputado da base, tendo sido sondado para a vice-presidência e descartado num dossiê ridículo criado pela ala militar de apoiadores com acusações falsas de orgias homossexuais e agressões contra moradores de rua, culminando na decisão por Hamilton Mourão.
Por uma nova linha de ação
Importante é ter a ciência, mais do que nunca, de que o papel do monarquismo não é combater o PT, coexistir onde se defende intervenção militar e apoiar a família de Jair ou qualquer outro candidato, mas antagonizar, em geral, a república, suas mazelas, e mesmo a polarização que ela proporciona. Se distanciar das lutas e figuras republicanas é essencial para retomar o interesse que o movimento outrora teve, com a Paraná Pesquisas indicando que 15% dos brasileiros eram favoráveis ao retorno do Imperador.
Dito isso, os únicos atos legítimos no feriado são os bandeiraços organizados pela Pró Monarquia e seus núcleos, afinal a data realmente se deve a forma monárquica de estrutura.
Erik Zannon
Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix