Economia

A importância da cachaça artesanal capixaba

Em 1605, a cultura da cana já era importante, inclusive em Vitória, com registros históricos de produção de açúcar e cachaça. Atualmente, a produção de cachaça ocorre em todo o ES

Por Robson Guimarães do Valle

No último dia 13 de setembro foi comemorado o Dia Nacional da Cachaça, data oportuna para divulgar e apoiar um importante setor do agronegócio brasileiro e capixaba, tanto pelo seu aspecto histórico e cultural, como também por sua importância econômica.
Surgiu como iniciativa do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), entidade não governamental constituída em 2006 e que elaborou, em 2009, proposta para que esta data se tornasse Lei Federal, permitindo o justo “reconhecimento do produto no mercado internacional como bebida exclusiva e genuinamente brasileira” (Fonte: https://ibrac.net/cachaca-na-midia/9/13-de-setembro-).

O dia 13 de setembro remonta a um episódio do período colonial conhecido como Revolta da Cachaça, quando produtores brasileiros se insurgiram contra a coroa portuguesa, interessada em coibir sua produção e comercialização em detrimento da bagaceira, tradicional destilado de origem portuguesa, obtida a partir do bagaço de uva. Como esta revolta possibilitou a legalização da produção de cachaça por uma Ordem Régia da Coroa no dia 13 de setembro de 1661, se considera esta data como a mais apropriada para celebrar a importância do destilado que faz parte indiscutível da cultura brasileira e é hoje o terceiro tipo de destilado mais consumido no mundo (Fonte: https://ibrac.net/cachaca-na-midia/9/13-de-setembro-).

Passados 362 anos, como está a situação da “agoa ardente”, termo usado na Bahia, em 1622, segundo o Mapa da Cachaça (https://mapadacachaca.com.br/artigos/os-nomes-da-cachaca/), em especial da cachaça produzida no Espírito Santo? Em primeiro lugar, é muito positivo o fato de que a cachaça, hoje, é um produto nobre, não possuindo mais a conotação vulgar de uma bebida de segunda categoria, prejudicial à saúde. Definitivamente, está incorporada à gastronomia brasileira como produto sofisticado, sendo produzida em todo o território nacional, com elevado padrão de qualidade.

Um bom indicador deste novo status alcançado pela cachaça pode ser dado por sua presença cada vez maior em artigos de respeitadas revistas especializadas no setor de alimentos, como por exemplo, a recente matéria “Cachaça Boa é Cachaça Segura” (https://foodsafetybrazil.org/cachaca-boa-e-a-cachaca-segura/), que apresenta excelente panorama técnico deste segmento.

Outro fato notável é que a cachaça capixaba possui uma história riquíssima, podendo, por inúmeros méritos, se tornar um dia parte do patrimônio cultural imaterial do Espírito Santo. Isto se justificaria pelo fato de “que em 1605, a cultura da cana já era importante, inclusive em Vitória, com registros históricos de produção de açúcar e cachaça”.

Há também registros do embarque de centenas de pipas (barris) de cachaça, entre 1826 e 1827, pelo Porto de São Mateus e, segundo documentação histórica comprovada, na famosa viagem no interior do Espírito Santo, feita pelo imperador D. Pedro II, em 1860, este ficara impressionado com a quantidade de alambiques existentes na então Província” (Fonte: https://rvalle.com.br/eqes/a-importancia-da-cachaca-artesanal-capixaba/).

Atualmente, a produção de cachaça ocorre em todo o ES e, apesar desta atividade ocorrer em nossos 78 municípios, podemos citar alguns de seus destaques: uma marca centenária de Afonso Cláudio, produzida pela mesma família desde 1915, a região do Vale do Canaã com seus inúmeros e competentes produtores, Linhares (que produz hoje uma das marcas mais premiadas do País) e tantas outras que não caberiam neste texto.

Estes valorosos empreendedores se dedicam à produção de cachaça artesanal, de qualidade superior ao produto industrial, em alambiques constituídos, em sua maior parte, por cobre. Além disso, deve se tomar cuidado com o fato de que nem toda cachaça artesanal é legal, isto é, registrada no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), sendo este um dos obstáculos ao desenvolvimento deste setor. Juntamente com a alta carga tributária que incide sobre este produto, estes fatores tornam este mercado fortemente influenciado pela informalidade e produção irregular.

Estimativas recentes indicam, em nosso Estado, a existência de 80 a 90 destilarias artesanais registradas no Mapa, responsáveis pela produção de aproximadamente 20 milhões de litros/ano e cerca de cinco mil empregos diretos. Como somente 1% da produção nacional é destinada à exportação, a criação neste ano de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em Aracruz, poderá se constituir em importante apoio para esta rota comercial.

Importantes eventos já foram realizados no ES, como o recente Salão de Negócios e Congresso Brasileiro da Cachaça, em Vitória (2019) e, pelo sucesso de público observado, não há dúvida: O ES é terra da moqueca e da cachaça!

Robson Guimarães do Valle
É engenheiro químico, vice-presidente da Associação Profissional dos Químicos do ES (Aproquimes) e presidente da Fundação Faceli, de Linhares.
Página pessoal: https://rvalle.com.br/eqes/

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